O Idioma Cruel
Hoje deparei-me com um volume de "A Cartuxa de Parma" de Stendhal numa livraria. A surpresa foi enorme, já que ao contrário do acontecia a algum tempo, a obra tem um acabamento muito bom. O livro faz parte de uma coleção que está sendo lançada pela editora Globo, chamada "Clássicos Globo", coordenada pelo jornalista Manuel da Costa Pinto, da Folha de São Paulo. Além do título, já estão disponíveis também "As aventuras do sr. Pickwick" de Charles Dickens e o genial "Memórias de um Sargento de Milícias" de Manuel Antônio de Almeida. Além da revisão na tradução da obra, há também notas introdutórias e um posfácio que complementa bem o trabalho.
Desde que acabei de ler "O Vermelho e o Negro", vinha procurando "A Cartuxa de Parma" em uma edição decente. Encontrei, no entanto, apenas uma daquelas edições de bolso de qualidade duvidosa e portanto recusei-me a comprá-la. Agora tenho aqui disponível uma edição que parece que vai suprir plenamente minha curiosidade, ou seja, quem saiu ganhando foi o leitor. Imediatamente após folhear o livro, fui me lembrando das impressões causadas com a leitura de "O Vermelho e o Negro". Lembro-me que na época trabalhava no interior e ia e vinha, numa viagem de cerca de uma hora e meia, lendo a obra. Na época estava numa fase de ler obras recentes e a primeira sensação foi a estranheza com o português da tradução, mais antigo. Conversei com algumas pessoas que odiaram o livro por causa disso. Isso me faz pensar: por que para muitos o contemporâneo tem mais valor do que o "clássico"? Como pode alguém odiar "O Vermelho e o Negro" por ser "rebuscado" demais e ler livros com erros de português, frases sem nexo e cheios de truques modernos medíocres (frases sem pontuação ou com pontos em excesso, por exemplo) e mesmo assim achar "o máximo"? No post anterior coloquei a idéia de que o idioma materno naturalmente atrai o leitor ao livro. Mas não sei a lógica neste caso. O português de dois séculos atrás é para muitos o idioma cruel. A construção da obra com jeito "clássico" é visto como um espantalho para as idéias que o livro contém, por melhor que elas sejam. Mas se a causa disso é a estranheza e a falta de domínio neste terreno, como se explica então o sucesso das obras contemporâneas com seus erros e truques grotescos? Recuso-me a acreditar que os "pseudo-autores best-sellers" de hoje sejam mais atraentes justamente por causa do português incorreto que utilizam. Para mim, este é o idioma cruel, que afasta o leitor do livro. Nada mais horrível do que folhear um livro e encontrar uma frase composta apenas por pontos finais, que não diz nada, mas é coloca ali para parecer "literatura moderna", livre.
Possivelmente a minha lógica não é a lógica da maioria. Possivelmente este lançamento passará em branco. Possivelmente Stendhal continue afastando leitores.
Desde que acabei de ler "O Vermelho e o Negro", vinha procurando "A Cartuxa de Parma" em uma edição decente. Encontrei, no entanto, apenas uma daquelas edições de bolso de qualidade duvidosa e portanto recusei-me a comprá-la. Agora tenho aqui disponível uma edição que parece que vai suprir plenamente minha curiosidade, ou seja, quem saiu ganhando foi o leitor. Imediatamente após folhear o livro, fui me lembrando das impressões causadas com a leitura de "O Vermelho e o Negro". Lembro-me que na época trabalhava no interior e ia e vinha, numa viagem de cerca de uma hora e meia, lendo a obra. Na época estava numa fase de ler obras recentes e a primeira sensação foi a estranheza com o português da tradução, mais antigo. Conversei com algumas pessoas que odiaram o livro por causa disso. Isso me faz pensar: por que para muitos o contemporâneo tem mais valor do que o "clássico"? Como pode alguém odiar "O Vermelho e o Negro" por ser "rebuscado" demais e ler livros com erros de português, frases sem nexo e cheios de truques modernos medíocres (frases sem pontuação ou com pontos em excesso, por exemplo) e mesmo assim achar "o máximo"? No post anterior coloquei a idéia de que o idioma materno naturalmente atrai o leitor ao livro. Mas não sei a lógica neste caso. O português de dois séculos atrás é para muitos o idioma cruel. A construção da obra com jeito "clássico" é visto como um espantalho para as idéias que o livro contém, por melhor que elas sejam. Mas se a causa disso é a estranheza e a falta de domínio neste terreno, como se explica então o sucesso das obras contemporâneas com seus erros e truques grotescos? Recuso-me a acreditar que os "pseudo-autores best-sellers" de hoje sejam mais atraentes justamente por causa do português incorreto que utilizam. Para mim, este é o idioma cruel, que afasta o leitor do livro. Nada mais horrível do que folhear um livro e encontrar uma frase composta apenas por pontos finais, que não diz nada, mas é coloca ali para parecer "literatura moderna", livre.
Possivelmente a minha lógica não é a lógica da maioria. Possivelmente este lançamento passará em branco. Possivelmente Stendhal continue afastando leitores.
<< Home