A Pontuação Que Quer Dizer Alguma Coisa Que Ainda Não Consegui Descobrir
A pontuação da língua portuguesa foi formulada para aproximar um pouco mais o que falamos de como escrevemos. Por isso, usamos uma vírgula, por exemplo, para indicar para o leitor que ele deve dar uma paradinha ali. O ponto indica o fim da frase. Ponto, acabou, pelo menos é isso o que fica no inconsciente da gente quando lemos uma frase inteira e chegamos até um ponto final. Tudo isso eu aprendi desde cedo, então, por que será que alguns escritores insistem em parecer moderninhos por violar todas estas regras simples? Parágrafos que começam sem a primeira letra maiúscula, paredes de texto inteiras sem qualquer pontuação, frases emendadas umas às outras, enfim, textos que dão uma impressão de que o autor está resmungando do outro lado: "O texto é meu e faço dele o que eu quero".
Não estou dizendo aqui que todo texto deve seguir uma pontuação adequada, mas que se o autor resolver desconsiderá-la tem que haver um motivo. Por exemplo, o método de "stream of consciousness" que alguns autores utilizam é um sério candidato a subverter a pontuação tradicional. Como o pensamento humano não segue as normas tradicionais de organização, muitas vezes ligamos algumas idéias a outras que nem nós mesmos conseguimos saber o porquê. Descrever o ato de abandonar um raciocínio, partindo imediatamente para outro, dando a idéia de que estamos lendo os pensamentos do personagem, muitas vezes requer um texto cheio de recortes aparentemente sem ligações. Alguns destes textos estranhamente desorganizados viraram clássicos da literatura, como o diálogo de Molly Bloom de "Ulisses", o primeiro narrador de "Molloy" e o narrador de "Malone Morre" de Samuel Beckett ou a primeira parte de "O Som e a Fúria" de William Faulkner. São desrespeitos justificáveis e realmente observamos que há ali um trabalho literário com o objetivo de dar voz aos pensamentos dos personagens. O esforço dispensado com a leitura é recompensado, pois com o tempo conseguimos encaixar as peças dos quebra-cabeças propostos.
Mas o que dizer daqueles textos que dão a entender que algum motivo para sua desorganização, mas que não conseguimos entender qual é? E não me venham com aquela desculpa de que é o "estilo do autor", que para mim isso não é justificativa. Apanhei, por exemplo, "Os Cus de Judas" de Antonio Lobo Antunes para ler. No início, o texto é bastante curioso, afinal de contas imagina-se que aqueles parágrafos desorganizados apontam para algo que ainda vamos encontrar durante a leitura. Pela metade, começa a aparecer o tédio, afinal toda a nossa curiosidade vai crescendo e nenhuma pista nos é dada. Ao final, a vontade é fazer uma fogueira com o livro. Mas como eu não costumo aprender da primeira vez, resolvi dar uma nova chance a ele lendo "Boa Tarde às Coisas Aqui em Baixo". Este é ainda pior, tanto que resolvi abandoná-lo (algo raro!) antes do fim. Parece que o escritor quer o tempo todo parecer moderno, quer escrever sem nos contar uma história, quer agredir-nos com um texto muitas vezes sem nenhum sentido e ainda vem com a mania de rebelde-literário-sem-pontuação. Se você quer parecer intelectual, Lobo Antunes é o escritor ideal. Você lê seus livros, não entende nada, recomenda a outros, advertindo-os que é o escritor muito difícil e, portanto, quem não tem 'costume' e não entende nada de literatura vai achá-lo ruim.
Imagino que ao escrever uma obra, o escritor sempre está atento a todos os pontos. Se há algum personagem que parece não ter sentido algum, ele é desnecessário e por isso excluído. Ou muitas vezes ele é melhor trabalhado para que sua inserção seja reconhecida pelo leitor. Quando o escritor faz a opção de pontuar seu texto dum modo diferente do que estamos acostumados a ler, ele dirige imediatamente nossa atenção a algo além do que está escrito. Incentiva-nos a prestar mais atenção e descobrir algum sentido que não está explicitado no texto. Às vezes, a forma como o texto é escrito quase que se transforma num personagem. Sendo assim, faz bastante sentido se colocar no lugar do leitor e se perguntar o que o leitor vai achar daquilo tudo. Criar um texto misterioso demais para incentivar a curiosidade pode ser uma armadilha. Porque se chegarmos ao fim sem conseguir entender aonde o escritor quer chegar com aquilo, a curiosidade vai se transformar em tédio e o tédio em frustração. E o caminho que vai da frustração ao esquecimento é bem curto.
Compre os livros citados clicando nas capas abaixo:
Não estou dizendo aqui que todo texto deve seguir uma pontuação adequada, mas que se o autor resolver desconsiderá-la tem que haver um motivo. Por exemplo, o método de "stream of consciousness" que alguns autores utilizam é um sério candidato a subverter a pontuação tradicional. Como o pensamento humano não segue as normas tradicionais de organização, muitas vezes ligamos algumas idéias a outras que nem nós mesmos conseguimos saber o porquê. Descrever o ato de abandonar um raciocínio, partindo imediatamente para outro, dando a idéia de que estamos lendo os pensamentos do personagem, muitas vezes requer um texto cheio de recortes aparentemente sem ligações. Alguns destes textos estranhamente desorganizados viraram clássicos da literatura, como o diálogo de Molly Bloom de "Ulisses", o primeiro narrador de "Molloy" e o narrador de "Malone Morre" de Samuel Beckett ou a primeira parte de "O Som e a Fúria" de William Faulkner. São desrespeitos justificáveis e realmente observamos que há ali um trabalho literário com o objetivo de dar voz aos pensamentos dos personagens. O esforço dispensado com a leitura é recompensado, pois com o tempo conseguimos encaixar as peças dos quebra-cabeças propostos.
Mas o que dizer daqueles textos que dão a entender que algum motivo para sua desorganização, mas que não conseguimos entender qual é? E não me venham com aquela desculpa de que é o "estilo do autor", que para mim isso não é justificativa. Apanhei, por exemplo, "Os Cus de Judas" de Antonio Lobo Antunes para ler. No início, o texto é bastante curioso, afinal de contas imagina-se que aqueles parágrafos desorganizados apontam para algo que ainda vamos encontrar durante a leitura. Pela metade, começa a aparecer o tédio, afinal toda a nossa curiosidade vai crescendo e nenhuma pista nos é dada. Ao final, a vontade é fazer uma fogueira com o livro. Mas como eu não costumo aprender da primeira vez, resolvi dar uma nova chance a ele lendo "Boa Tarde às Coisas Aqui em Baixo". Este é ainda pior, tanto que resolvi abandoná-lo (algo raro!) antes do fim. Parece que o escritor quer o tempo todo parecer moderno, quer escrever sem nos contar uma história, quer agredir-nos com um texto muitas vezes sem nenhum sentido e ainda vem com a mania de rebelde-literário-sem-pontuação. Se você quer parecer intelectual, Lobo Antunes é o escritor ideal. Você lê seus livros, não entende nada, recomenda a outros, advertindo-os que é o escritor muito difícil e, portanto, quem não tem 'costume' e não entende nada de literatura vai achá-lo ruim.
Imagino que ao escrever uma obra, o escritor sempre está atento a todos os pontos. Se há algum personagem que parece não ter sentido algum, ele é desnecessário e por isso excluído. Ou muitas vezes ele é melhor trabalhado para que sua inserção seja reconhecida pelo leitor. Quando o escritor faz a opção de pontuar seu texto dum modo diferente do que estamos acostumados a ler, ele dirige imediatamente nossa atenção a algo além do que está escrito. Incentiva-nos a prestar mais atenção e descobrir algum sentido que não está explicitado no texto. Às vezes, a forma como o texto é escrito quase que se transforma num personagem. Sendo assim, faz bastante sentido se colocar no lugar do leitor e se perguntar o que o leitor vai achar daquilo tudo. Criar um texto misterioso demais para incentivar a curiosidade pode ser uma armadilha. Porque se chegarmos ao fim sem conseguir entender aonde o escritor quer chegar com aquilo, a curiosidade vai se transformar em tédio e o tédio em frustração. E o caminho que vai da frustração ao esquecimento é bem curto.
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