O Humor na Literatura
É inevitável. Sempre que surge um daqueles palestrantes de empresas famosos, vem aquele sujeito e pergunta: "Você já assistiu alguma palestra de Fulano? Ele é ótimo, a gente ri o tempo todo!". O fato é que para muitos o humor está diretamente ligado com a qualidade do trabalho da pessoa. Os dois sempre andam juntos. Muitas vezes eu convido o tal entusiasta a descrever as idéias do tal palestrante, sem o humor, e eles se surpreendem ao reparar que muitos de seus "conselhos" não tem pé nem cabeça, não existe nenhuma razão fundamentada para serem divulgados, só o "achismo". Quando isso acontece na literatura a coisa fica ainda pior. Normalmente, eu sempre fico com um pé atrás ao ler obras ou autores que têm sua fama ligada ao seu senso de humor. Isso porque humor sempre agrada. Se não agradou, é porque a piada é muito ruim. Talvez também você é o motivo da chacota e por isso não gosta do engraçadinho. Mas o humor pode ser muito prejudicial, por nos fazer desperceber erros ou incoerências num texto. Somos tão massageados com o riso que não conseguimos ver o óbvio: o texto é fraco. Gostaria de mostrar dois exemplos sobre o humor na literatura: Jô Soares e Luis Fernando Veríssimo.
Jô Soares é conhecido como um grande humorista. As duas obras "O Xangô de Baker Street" e "O Homem que Matou Getúlio Vargas" são louvadas por muitos como sendo boas obras por seu "humor inteligente". Ao ouvir um comentário como esse me pergunto: "Inteligente? Como?" As duas obras podem ser criticadas juntas por apresentarem os mesmos problemas. O texto é recheado de clichês e chavões, dando a impressão que o autor é desleixado ao escolher suas palavras. São tantos, que na metade de qualquer um dos livros dá uma preguiça danada de continuar lendo. Outro grande problema do autor parece ser sua experiência na televisão. A linguagem da televisão e a linguagem literária são completamente diferentes. Mesmo assim, parece que Jô Soares nunca consegue dissociar as duas coisas. Prova disso é o uso excessivo de adjetivos, que faz com a obra se pareça mais com um roteiro do que com um livro. Não assisti ao filme baseado em "O Xangô de Baker Street" mas posso apostar que o diretor não teve grandes dificuldades em filmar as descrições, pois elas já estavam perfeitamente visuais. Não é preciso nenhum esforço mental para visualizar os acontecimentos, o autor já fez isso. O "inteligente" para muitos se resume a uma só coisa: os fatos históricos que são misturados a ficção. Mas mesmo isso é um ponto negativo. Em muitas passagens do livro a impressão é a de que o autor quer espalhar o máximo de dados possíveis sobre determinado assunto e assim provar a sua erudição. Ou seja, na maioria das vezes, tais fatos históricos são supérfluos, fazendo "inchar" os livros. Enfim, os livros não apresentam qualquer criatividade nem estilo. Seu humor só serve para exemplificar o que eu disse no início.
Luis Fernando Veríssimo é outro caso de escritor reconhecido pelo seu humor. Pessoalmente, gosto muito das crônicas do escritor e não tanto dos seus romances. Isso porque nas crônicas a agilidade narrativa ajuda o humor, tornando-o mais leve e direto. Mas isso não quer dizer que seus romances sejam ruins, pelo contrário. Diferente de Jô Soares, Luis Fernando Veríssimo sabe muito bem em que terreno está andando. Suas descrições das situações, mesmo de forma humorística, são bem feitas e os chavões não atrapalham a leitura. Reconhecer Luis Fernando Veríssimo como um bom escritor somente pelo seu "humor inteligente" é depreciar sua obra. Humor não é tudo em seus livros, mas sim uma ferramenta que ele utiliza (e bem!) para descascar a pintura que reveste a vida contemporânea, que esconde o que realmente somos. O resultado é que em muitos casos achamos as situações engraçadas por nos reconhecermos nelas. Casais, amigos, manias e vícios são assuntos abordados e o humor serve para manuseá-los na medida certa. Enfim, o humor não é explorado para esconder falhas, mas sim é trabalhado para expandir suas idéias.
Acredito que todo leitor deveria sempre se perguntar ao apanhar um livro reconhecido pelo seu humor: que tipo de idéias são tratadas? O humor inserido nestas idéias cumpre algum objetivo? Ou serve apenas para banalizar o assunto? Se a idéia é simplesmente fazer rir, siga meu conselho e compre um bom livro de piadas, não um romance.
Jô Soares é conhecido como um grande humorista. As duas obras "O Xangô de Baker Street" e "O Homem que Matou Getúlio Vargas" são louvadas por muitos como sendo boas obras por seu "humor inteligente". Ao ouvir um comentário como esse me pergunto: "Inteligente? Como?" As duas obras podem ser criticadas juntas por apresentarem os mesmos problemas. O texto é recheado de clichês e chavões, dando a impressão que o autor é desleixado ao escolher suas palavras. São tantos, que na metade de qualquer um dos livros dá uma preguiça danada de continuar lendo. Outro grande problema do autor parece ser sua experiência na televisão. A linguagem da televisão e a linguagem literária são completamente diferentes. Mesmo assim, parece que Jô Soares nunca consegue dissociar as duas coisas. Prova disso é o uso excessivo de adjetivos, que faz com a obra se pareça mais com um roteiro do que com um livro. Não assisti ao filme baseado em "O Xangô de Baker Street" mas posso apostar que o diretor não teve grandes dificuldades em filmar as descrições, pois elas já estavam perfeitamente visuais. Não é preciso nenhum esforço mental para visualizar os acontecimentos, o autor já fez isso. O "inteligente" para muitos se resume a uma só coisa: os fatos históricos que são misturados a ficção. Mas mesmo isso é um ponto negativo. Em muitas passagens do livro a impressão é a de que o autor quer espalhar o máximo de dados possíveis sobre determinado assunto e assim provar a sua erudição. Ou seja, na maioria das vezes, tais fatos históricos são supérfluos, fazendo "inchar" os livros. Enfim, os livros não apresentam qualquer criatividade nem estilo. Seu humor só serve para exemplificar o que eu disse no início.
Luis Fernando Veríssimo é outro caso de escritor reconhecido pelo seu humor. Pessoalmente, gosto muito das crônicas do escritor e não tanto dos seus romances. Isso porque nas crônicas a agilidade narrativa ajuda o humor, tornando-o mais leve e direto. Mas isso não quer dizer que seus romances sejam ruins, pelo contrário. Diferente de Jô Soares, Luis Fernando Veríssimo sabe muito bem em que terreno está andando. Suas descrições das situações, mesmo de forma humorística, são bem feitas e os chavões não atrapalham a leitura. Reconhecer Luis Fernando Veríssimo como um bom escritor somente pelo seu "humor inteligente" é depreciar sua obra. Humor não é tudo em seus livros, mas sim uma ferramenta que ele utiliza (e bem!) para descascar a pintura que reveste a vida contemporânea, que esconde o que realmente somos. O resultado é que em muitos casos achamos as situações engraçadas por nos reconhecermos nelas. Casais, amigos, manias e vícios são assuntos abordados e o humor serve para manuseá-los na medida certa. Enfim, o humor não é explorado para esconder falhas, mas sim é trabalhado para expandir suas idéias.
Acredito que todo leitor deveria sempre se perguntar ao apanhar um livro reconhecido pelo seu humor: que tipo de idéias são tratadas? O humor inserido nestas idéias cumpre algum objetivo? Ou serve apenas para banalizar o assunto? Se a idéia é simplesmente fazer rir, siga meu conselho e compre um bom livro de piadas, não um romance.
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