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28 abril 2005

Comentário Sobre As Escolhas de Livros para o Vestibular da UFMG 2006

Gostei das indicações de livros para o vestibular da UFMG 2006. Diferente do que estávamos acostumados, as indicações do ano passado foram uma total surpresa. Parece-me que houve uma mudança nos parâmetros utilizados e que o processo vem amadurecendo ainda, mas acredito que as escolhas deste ano foram melhores do que as do ano passado. Para quem não sabe, o vestibular da UFMG indica cinco obras por ano que deverão ser lidas pelos candidatos. A lista geralmente é composta por dois romances, dois livros de poesia e um 'coringa' (crônicas, contos ou algum outro gênero). O que vinha acontecendo é que os livros geralmente eram escolhidos entre os já consagrados 'clássicos'. Muitos, apesar de serem bons, eram bem distantes dos jovens estudantes. Por exemplo, no vestibular de 2003, "Broquéis" de Cruz e Souza, foi um dos livros escolhidos, um livro exigente para os jovens que em sua maioria não estão acostumados com a leitura regular de obras. O resultado quase sempre era uma infinidade de vestibulandos que nunca liam estas obras, recorrendo a um cursinho pré-vestibular para interpretá-las ou a algum desses manuais péssimos vendidos nas bancas. No ano passado, o que me pareceu, foi que a UFMG se deu conta desse problema e fez escolhas bem mais próximas ao leitor jovem. Duas grandes surpresas foram as escolhas de "A Eterna Privação do Zagueiro Absoluta" de Luís Fernando Veríssimo e "Nove Noites" de Bernardo Carvalho. A primeira, porque além de ser um livro de crônicas em sua grande maioria sobre futebol, ainda possui uma linguagem bastante acessível, o que geralmente faz a obra ser descartada em indicações para vestibulares. Já a segunda, por ser um livro recente de um autor contemporâneo, com um trabalho ainda em andamento. As duas, para mim, foram ótimas escolhas, indicando que o vestibular além de ser extremamente bem preparado quer apresentar-se moderno. Já com respeito à obra "Roda do Mundo" de Edimilson de Almeida Pereira e Ricardo Aleixo, acho que a UFMG errou feio. O objetivo claro da inserção da obra foi a valorização da cultura negra, através de uma obra que apresenta diversos elementos ligados à ela. Não consegui ver mais nada que justificasse a escolha da obra, já que tanto a obra como seus autores são uma incógnita para a maior parte do público. O acesso ao texto foi difícil, pois a obra estava esgotada, e somente muito tempo depois que o anúncio das obras escolhidas foi feito é que o livro voltou a ser vendido. Com isso, o efeito foi o mesmo: muitos vestibulandos não leram o livro. Os que arriscaram se deram bem, já que sua leitura foi dispensável, pois a UFMG quase nem colocou questões a seu respeito. Outro ponto desfavorável foi o volume de leitura pequeno. Li todas as cinco obras em duas semanas. Acredito que o aluno que não estava acostumado com uma leitura regular pode ter gasto no máximo um mês para ler todas. A única obra que exigia um pouco mais foi a de Joquim Nabuco, e que mesmo assim não havia nada de mais. Não acho bom que as universidades coloquem um número absurdo de livros em seus vestibulares, mas também vejo que o vestibular é uma boa oportunidade para que novos jovens descubram o prazer da leitura. Quando ela é mínima, pode ser que a oportunidade não seja plenamente aproveitada.

Bom, por tudo isso, acredito que as obras deste ano são melhores. Parece que ao contrário do ano passado, neste ano existe um parâmetro claro para escolha das obras, que é abranger textos das diversas regiões do país. Temos um texto clássico ("Carta" de Pero Vaz de Caminha), um da região norte (Inglês de Souza), um do nordeste (Patativa do Assaré), um da região sudeste e de Minas Gerais (Guimarães Rosa) e um do sul (Erico Verissimo). Desses li três: "Carta", "Grande Sertão Veredas" e "Um Certo Capitão Rodrigo". Patativa do Assaré parece ser o texto menos acessível de todos, mas mesmo assim não creio que será tão difícil encontrá-lo em livrarias. A surpresa foram os "Contos amazônicos" de Inglês de Souza. Imaginei que por ser um texto clássico e antigo, estivesse amplamente disponível em formato eletrônico pela internet. Infelizmente ainda não o encontrei gratuitamente, somente nas livrarias. Com respeito à qualidade, vejo que todos os textos merecem uma leitura. Patativa do Assaré, que ainda não li, representa uma das escolhas mais acertadas. Não há como não discutir literatura do nordeste sem discutir literatura de cordel. De qualquer forma, a tentativa de aproximar o vestibulando à obras interessantes e estimulá-lo ao hábito de leitura será muito melhor sucedida neste ano do que no ano passado. O problema do volume de leitura também parece que foi sanado: o volume deste ano será um pouco maior do que o ano passado, mas não creio que será excessivo.

Abordarei em posts futuros cada uma das cinco obras e discutirei sobre alguns aspectos relevantes que deverão ser apreciados pelos seus leitores.
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