Percepção e Decepção
Ganin, personagem principal de “Machenka”, primeiro romance do escritor Vladimir Nabokov, é um dos raros exemplos na literatura de personagem que toma consciência de que o tempo é um agente modificador e destruidor, sem que para isso precise bruscamente sair das suas lembranças e entrar na realidade existente. O que acontece na maioria das vezes é que o personagem não tem essa noção o que faz com que ele caia na armadilha de imaginar a felicidade do passado como felicidade ideal, perdendo assim a capacidade de olhar o presente e perceber as qualidades ou deficiências deste tempo. Numa comparação, Ganin é um José Maria - personagem do conto “Viagem aos Seios de Duília”, de Aníbal Machado – às avessas. O que José Maria não tem, Ganin adquire. Em ambos os casos, os personagens se chocam com seu passado feliz repentinamente e partem numa jornada, com a esperança de recuperá-lo, imaginando que assim repartirão o tempo em fatias e conseguirão separar aquelas partes que não trouxeram felicidade, deixando somente as partes que interessam. Imaginam que poderão recomeçar a viver com felicidade plena, como se existissem dois filmes, um de momentos felizes e o outro com as infelicidades, e que o primeiro foi bruscamente interrompido para se iniciar o outro, mas que agora, este se reiniciará como se nada tivesse acontecido.
Mas a semelhança vai só até aí e podemos afirmar que Ganin é um personagem melhor, mais consciente, pois depois de viajar por este passado consegue perceber os sinais a sua volta e consegue ver que na verdade isso é uma grande ilusão proporcionada pela capacidade do ser humano de construir uma memória seletiva, que côa tudo aquilo que deve ser esquecido e deixa apenas os momentos fabulosos da vida. José Maria, apesar de todos os sinais a sua volta, que vão se tornando mais nítidos à medida que sua jornada chega ao fim, prefere viver ainda no passado e quando reencontra Duília, quase um cadáver, sofre o choque brutal e toma consciência de que não há nada que o faça recuperar o tempo passado. Ganin, depois de nadar o romance inteiro entre suas felizes memórias, vê conscientemente o futuro e percebe que tudo aquilo que sonha, no melhor dos casos é apenas um bom tempo que já não existe. A alegria de viver junto com Machenka deve ser preservada com ela é de fato: um grande álbum de memórias de uma época da vida que passou. Assim, apesar do vislumbre de um reencontro perfeito, ele dá meia-volta e segue seu caminho rumo a um futuro desconhecido, mas aguardado.
Muitos afirmam que este é o pior romance de Nabokov. Numa escala de grandeza bem diferente do que vemos na maioria dos casos, pode-se afirmar que mesmo o pior romance de Nabokov consegue ser muito melhor do que muitos livros que lemos poraí. Nabokov, no rápido romance, consegue nos distrair com o passado de Ganin o tempo inteiro, até que ao final ele nos joga na cara quão ingênuos nós fomos, por acreditar que este passado ainda estava vivo. No fim, nem Ganin acredita nisso. Apesar de ser aparentemente decepcionante, o desfecho é dos mais realistas e esperançosos: ao final não existe mais certezas, somente incertezas de um futuro a ser construído e querem algo melhor do que viver construindo seu futuro? Ganin se transforma e assim vence suas memórias, conseguindo retomar novamente seus pensamentos rumo ao futuro. Um futuro agora inesperado e por isso mesmo melhor.
Mas a semelhança vai só até aí e podemos afirmar que Ganin é um personagem melhor, mais consciente, pois depois de viajar por este passado consegue perceber os sinais a sua volta e consegue ver que na verdade isso é uma grande ilusão proporcionada pela capacidade do ser humano de construir uma memória seletiva, que côa tudo aquilo que deve ser esquecido e deixa apenas os momentos fabulosos da vida. José Maria, apesar de todos os sinais a sua volta, que vão se tornando mais nítidos à medida que sua jornada chega ao fim, prefere viver ainda no passado e quando reencontra Duília, quase um cadáver, sofre o choque brutal e toma consciência de que não há nada que o faça recuperar o tempo passado. Ganin, depois de nadar o romance inteiro entre suas felizes memórias, vê conscientemente o futuro e percebe que tudo aquilo que sonha, no melhor dos casos é apenas um bom tempo que já não existe. A alegria de viver junto com Machenka deve ser preservada com ela é de fato: um grande álbum de memórias de uma época da vida que passou. Assim, apesar do vislumbre de um reencontro perfeito, ele dá meia-volta e segue seu caminho rumo a um futuro desconhecido, mas aguardado.
Muitos afirmam que este é o pior romance de Nabokov. Numa escala de grandeza bem diferente do que vemos na maioria dos casos, pode-se afirmar que mesmo o pior romance de Nabokov consegue ser muito melhor do que muitos livros que lemos poraí. Nabokov, no rápido romance, consegue nos distrair com o passado de Ganin o tempo inteiro, até que ao final ele nos joga na cara quão ingênuos nós fomos, por acreditar que este passado ainda estava vivo. No fim, nem Ganin acredita nisso. Apesar de ser aparentemente decepcionante, o desfecho é dos mais realistas e esperançosos: ao final não existe mais certezas, somente incertezas de um futuro a ser construído e querem algo melhor do que viver construindo seu futuro? Ganin se transforma e assim vence suas memórias, conseguindo retomar novamente seus pensamentos rumo ao futuro. Um futuro agora inesperado e por isso mesmo melhor.
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