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14 abril 2005

Julgando Capas

Essa história de não julgar um livro pela capa pode até ser, mas é impossível não julgar a capa. Durante muito tempo o que a gente viu aqui no Brasil foram aberrações esquisitas que, por incrível que pareça, conseguiam ser vendidas! Vejam por exemplo a capa de "Mazurca Para Dois Mortos" de Camilo José Cela.


Um 'hermano' tocando seu acordeon (ou algo parecido) com chapeuzinho e óculos escuros e uma perninha torta é sem dúvida a última coisa que vem à mente quando pensamos em ler um excelente livro (eu acho, afinal tem gosto pra tudo). Pela capa e sem nenhuma referência, não parece um livro que mereça ser levado à sério. Conclusão: uma capa feia afasta o leitor de um livro bom. Embora hoje este fato é óbvio, muitas grandes editoras não percebiam isso a muito pouco tempo atrás. Como geralmente a primeira parte de um livro que vemos é a capa, hoje boa parte das editoras do Brasil sabem que a própria capa pode ser uma boa propaganda e daí investem mais neste detalhe que faz tanta diferença. Creio que o primeiro sinalizador da mudança foi o lançamento de "Rumo a Estação Finlândia" de Edmund Wilson, pela Companhia das Letras. O Rafael falou perfeitamente sobre isso neste post, que concordo totalmente. Hoje a capa não parece ter nada demais, mas para os padrões da época, esta era uma capa realmente melhor do que as capas que a maioria das outras editoras lançavam.

Apesar disso, é surpreendente que uma editora ainda consiga vender um grande número de exemplares apostando numa qualidade gráfica ruim. Toda vez que eu vejo uma prateleira de livros da Martin Claret, eu fico me perguntando o que pode levar uma pessoa a comprar algum livro com aquele padrão de capas. São cores horríveis, imagens sobre imagens, algumas notavelmente bregas. Num estalo, a maioria das pessoas responderia simplesmente "ora, o preço, lógico!". Sim, devo concordar que o preço é uma isca forte para atrair consumidores, mas ao mesmo tempo, percebo que uma boa parte dos clássicos que fazem parte da coleção podem ser encontrados em edições melhores e mais ou menos pelo mesmo preço em diversos sebos. Então, não deve ser só isso. O formato de bolso também não é dos mais preferidos, pelo menos ao meu redor não costumo observar pessoas com livros no formato de bolso. Por isso, apostaria mais que o segredo está na facilidade de encontrar os títulos (aliado, lógico, ao seu valor mais acessível). Eu posso encontrar uma edição de "Crime e Castigo" em capa dura num sebo, mas não em todos. Os livros da Martin Claret estão na maioria das grandes livrarias, além de outros pontos de venda acessíveis, como bancas de jornal. A pessoa vê o título, pergunta o preço e leva.

Embora já vi muita gente criticando as capas da editora, nunca vi ninguém criticar o que para mim é o supra-sumo da aberração. Reparem bem que em boa parte das capas, o responsável assina sua 'obra', elevando assim o conceito de 'capa' para algo como uma obra de arte. Não posso deixar de concordar que o ato é deveras corajoso, afinal fazer capas como aquelas e ainda assinar é quase um manifesto em favor do mau gosto. Mas, capa é capa e se o cara quer assinar alguma coisa, que mude de profissão e comece a pintar quadros. Num livro, vira sinônimo de amadorismo. Por isso, acredito que se a empresa quer realmente ser levada à sério, deve se preocupar muitíssimo em melhorar a qualidade gráfica de suas obras.

Com a notícia de hoje, publicada no post abaixo, espero que as grandes editoras apostem num formato ecônomico, mas sem penalizar a parte gráfica das obras. Apesar de não ser minha intenção compor uma biblioteca para fins decorativos, também não quero que as pessoas que visitem a minha casa se assustem com seu conteúdo gráfico.
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