Como um Asterisco Pode Mudar a Sua Vida
Tenho um conceito de grandeza que muitos desconsideram. Para mim, um livro que possui notas é automaticamente mais valorizado do que o mesmo livro sem nota alguma. Desconsidero editora, capa, diagramação ou nome do tradutor se perceber que um livro possui boas notas de referência. Notas de referência deveriam ser obrigatórias em algumas obras. Alguns trechos traduzidos para o português simplesmente perdem o sentido se não houver uma nota digna e explicativa do tradutor. Quando a gente sabe que a editora desconsiderou o leitor e simplesmente traduziu o que está escrito, sem se preocupar em ampliar o sentido da obra através de uma pequena nota, a tendência é achar que ela está tentando nos enganar, com que dizendo "não liga não, você não se interessaria por isso mesmo".
Com respeito às notas de tradução, ainda falta muito para que o leitor monolíngüe consiga ser paparicado pelas editoras. Temos diversos exemplos por aí que indicam que em muitos casos é preferível gastar mais tempo lendo o original (caso a pessoa não tenha pleno domínio da língua) do que confiar em que a editora fez um trabalho de tradução bom, com notas explicativas de pontos ambíguos. Um exemplo claro que me vem a mente é a obra "O Som e a Fúria" de William Faulkner. Aqui no Brasil temos duas versões principais: uma antiga da Nova Fronteira (que atualmente está esgotada, mas que com algum esforço ainda encontramos em sebos poraí) e outra recente da Cosac & Naify. As duas, apesar de boas, cometem alguns deslizes com as notas. Na primeira parte da obra, nas páginas iniciais, Benjy e Luster acompanham uma partida de golfe. Dois pontos são significativos para nós e que os tradutores deveriam ter em mente: (1) no Brasil, o esporte não é tão difundido assim, portanto, termos tais como "coacher" e "caddie" deveriam ser explicados e (2) Benjy por escutar os jogadores gritarem "caddie", lembra-se de sua irmã Caddy e esta relação entre as duas palavras devem ser explicitadas, já que é uma parte essencial para compreensão do trecho. Bom, como as duas traduções tratam o trecho? A tradução da "Nova Fronteira" traz uma nota sobre o "coacher" e a da Cosac & Naify nem isso. O monolíngüe dançou já nas primeiras páginas.
Mas as notas do tradutor são apenas uma parte do problema. Nos livros escritos em português, ainda podemos ver dois casos de notas que podem ser prejudiciais para o leitor. Por exemplo, uma edição recente da editora Global da obra "Casa Grande & Senzala" de Gilberto Freyre, traz uma série de notas do próprio escritor. Algumas delas são excelentes, mas elas aparecem sempre ao final de cada capítulo. À medida que o leitor avança em sua leitura, ele vai encontrando pelo caminho números que remetem a notas no fim do capítulo. No começa, o ir e vir entre texto e notas até que vai bem, mas depois de um capítulo inteiro a brincadeira perde a graça. Simplesmente é impossível ficar indo e voltando nas notas durante a leitura. Parece até uma tortura: quando o texto está mais interessante, eis que surge o terrível número e temos que interromper o fluxo da leitura ali para atendermos ao chamado da nota. Desistimos. Ainda tentei, durante a leitura, o esquema "ler todo o capítulo e depois as notas" mas aí as notas já não fazem tanto sentido e a gente acaba abandonando-as. Enfim, as notas assim não servem para nada.
Semelhante ao caso anterior, temos as obras sobre a ditadura de Elio Gaspari. As notas estão bonitinhas no rodapé das páginas e boa parte delas são muito boas. Mas o autor enche as notas de referências com citações de arquivos pessoais dos envolvidos, de modo que em alguns casos, metade da página é de texto e a outra metade de notas que não nos interessam. E aí ficamos divididos: ou lemos tudo e ficamos interrompendo a leitura a toda hora para confirmar se a nota ali vale a pena ou não, ou simplesmente desconsideramos o que há na nota e seguimos em frente. Confesso que pessoalmente, dependendo do humor, escolhia entre uma e outra alternativa.
Tudo isso serve para chegarmos a algumas conclusões. Notas fazem falta sim, especialmente nas traduções e desconsiderá-las pode levar a uma falta de compreensão de trechos importantes. Notas devem ser tratadas como parte do texto e, portanto, devem ter uma atenção adequada na confecção de um livro. Se isso não ocorrer, elas podem até mesmo se tornar desnecessárias. Por último, como tudo na vida, notas em excesso podem prejudicar, fazendo com que percamos muitas vezes a paciência, já que somos interrompidos a toda hora. Portanto editoras: que lancem seus asteriscos com notas, mas por favor, com o cuidado que eles merecem!
Com respeito às notas de tradução, ainda falta muito para que o leitor monolíngüe consiga ser paparicado pelas editoras. Temos diversos exemplos por aí que indicam que em muitos casos é preferível gastar mais tempo lendo o original (caso a pessoa não tenha pleno domínio da língua) do que confiar em que a editora fez um trabalho de tradução bom, com notas explicativas de pontos ambíguos. Um exemplo claro que me vem a mente é a obra "O Som e a Fúria" de William Faulkner. Aqui no Brasil temos duas versões principais: uma antiga da Nova Fronteira (que atualmente está esgotada, mas que com algum esforço ainda encontramos em sebos poraí) e outra recente da Cosac & Naify. As duas, apesar de boas, cometem alguns deslizes com as notas. Na primeira parte da obra, nas páginas iniciais, Benjy e Luster acompanham uma partida de golfe. Dois pontos são significativos para nós e que os tradutores deveriam ter em mente: (1) no Brasil, o esporte não é tão difundido assim, portanto, termos tais como "coacher" e "caddie" deveriam ser explicados e (2) Benjy por escutar os jogadores gritarem "caddie", lembra-se de sua irmã Caddy e esta relação entre as duas palavras devem ser explicitadas, já que é uma parte essencial para compreensão do trecho. Bom, como as duas traduções tratam o trecho? A tradução da "Nova Fronteira" traz uma nota sobre o "coacher" e a da Cosac & Naify nem isso. O monolíngüe dançou já nas primeiras páginas.
Mas as notas do tradutor são apenas uma parte do problema. Nos livros escritos em português, ainda podemos ver dois casos de notas que podem ser prejudiciais para o leitor. Por exemplo, uma edição recente da editora Global da obra "Casa Grande & Senzala" de Gilberto Freyre, traz uma série de notas do próprio escritor. Algumas delas são excelentes, mas elas aparecem sempre ao final de cada capítulo. À medida que o leitor avança em sua leitura, ele vai encontrando pelo caminho números que remetem a notas no fim do capítulo. No começa, o ir e vir entre texto e notas até que vai bem, mas depois de um capítulo inteiro a brincadeira perde a graça. Simplesmente é impossível ficar indo e voltando nas notas durante a leitura. Parece até uma tortura: quando o texto está mais interessante, eis que surge o terrível número e temos que interromper o fluxo da leitura ali para atendermos ao chamado da nota. Desistimos. Ainda tentei, durante a leitura, o esquema "ler todo o capítulo e depois as notas" mas aí as notas já não fazem tanto sentido e a gente acaba abandonando-as. Enfim, as notas assim não servem para nada.
Semelhante ao caso anterior, temos as obras sobre a ditadura de Elio Gaspari. As notas estão bonitinhas no rodapé das páginas e boa parte delas são muito boas. Mas o autor enche as notas de referências com citações de arquivos pessoais dos envolvidos, de modo que em alguns casos, metade da página é de texto e a outra metade de notas que não nos interessam. E aí ficamos divididos: ou lemos tudo e ficamos interrompendo a leitura a toda hora para confirmar se a nota ali vale a pena ou não, ou simplesmente desconsideramos o que há na nota e seguimos em frente. Confesso que pessoalmente, dependendo do humor, escolhia entre uma e outra alternativa.
Tudo isso serve para chegarmos a algumas conclusões. Notas fazem falta sim, especialmente nas traduções e desconsiderá-las pode levar a uma falta de compreensão de trechos importantes. Notas devem ser tratadas como parte do texto e, portanto, devem ter uma atenção adequada na confecção de um livro. Se isso não ocorrer, elas podem até mesmo se tornar desnecessárias. Por último, como tudo na vida, notas em excesso podem prejudicar, fazendo com que percamos muitas vezes a paciência, já que somos interrompidos a toda hora. Portanto editoras: que lancem seus asteriscos com notas, mas por favor, com o cuidado que eles merecem!
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