Romance de Idéias
Dá muito medo apanhar um livro que é reconhecido como um livro de 'idéias' para ler. isso porque literatura é arte e arte não tem nada com levantar uma bandeira qualquer defendendo o que quer que seja. Quando um autor resolve entrar nesse campo, a tendência é que ou a expressão da idéia fique ruim (afinal o lugar mais apropriado para defender uma idéia com argumentos e contra argumentos não é numa obra de ficção), ou a arte fica ruim. A questão não é de ter preconceito, mas juntar os dois é uma fórmula difícil e acredito que um escritor que queira entrar por esse caminho tem que ser muito corajoso. A grande maioria de livros assim são péssimos ou no máximo curiosos. Com o passar do tempo, a tendência é que eles sejam completamente esquecidos.
Foi neste campo minado que George Orwell escreveu suas duas principais obras "1984" e "A Revolução dos Bichos". Acho que esta é a razão de seus livros serem tão críticados por alguns e tão adorados por outros. É difícil encontrar leitores que fujam dos seguintes padrões: os que o adoram, adoram-no porque concordam com suas críticas aos regimes totalitários e os que o odeiam discordam dessas críticas. Em parte essas pessoas têm razão, afinal de contas, o que mais se destaca nas duas obras, antes de mais nada, são suas críticas contra regimes totalitários. Mas, se o leitor se fixar apenas nas idéias ele conseguirá visualizar apenas parte da obra, perdendo a outra parte. Proponho o seguinte: esqueçam as idéias e comecem a ler "1984". Sei que é difícil, mas por favor tentem. O que se vê é um clima extremamente sufocante em toda a obra. Sentimos medo do mundo criado por Orwell, onde estamos completamente indefesos. Parece engraçado mas Orwell consegue nos manipular a ponto de, a medida que as páginas avançam, pensarmos devagar, de um modo calculado, avaliando os passos, como se fôssemos o protagonista. Quando as pessoas criticam a obra de Orwell por causa das idéias contidas nela se esquecem justamente deste ponto - na literatura existem diversos personagens marcantes, mas são poucos os personagens pelos quais sentimos empatia e nos colocamos em seu lugar. Em "1984" sentimos justamente isso para com Winston.
Já em "A Revolução dos Bichos" Orwell consegue outro efeito notável nos leitores. Primeiro ele começa a obra de uma forma simples, quase infantil. Sua alegoria parece até uma fábula de La Fontaine. Avançando as páginas a obra vai se tornando mais e mais adulta, até atingir o clímax no final com os porcos e os homens se tornando praticamente iguais. Nas fábulas de La Fontaine, há uma "moral da história" por trás de cada belo relato. Em Orwell, há uma associação entre a metáfora utilizada com personagens reais da Revolução Russa, fazendo com que a obra tenha por trás uma "moral da história" adulta. Ou seja, independente das idéias em si, o modo como elas são lançadas é um modo interessante e criativo. A história, lida por qualquer pessoa - tenha ela conhecimento dos personagens retratados na alegoria ou não - é interessante. O ponto fundamental para que isso ocorra é justamente a simplicidade com que o livro foi escrito. Por causa dessa simplicidade, a obra se torna acessível e suas idéias, embora sérias, são assimiladas sem esforço.
Conforme já disse, a arte não tem obrigações. Numa boa obra que ande nesse terreno, é preciso que ambas (arte e idéia) tenham o seu valor e possam ser fundidas como algo único, para que nem a arte seja diluída, nem a idéia. Quando isso não ocorre, a tendência é a obra e o autor desaparecerem. Por isso, mesmo com os antigos regimes criticados por Orwell desaparecendo, suas obras continuam chamando a atenção.
Foi neste campo minado que George Orwell escreveu suas duas principais obras "1984" e "A Revolução dos Bichos". Acho que esta é a razão de seus livros serem tão críticados por alguns e tão adorados por outros. É difícil encontrar leitores que fujam dos seguintes padrões: os que o adoram, adoram-no porque concordam com suas críticas aos regimes totalitários e os que o odeiam discordam dessas críticas. Em parte essas pessoas têm razão, afinal de contas, o que mais se destaca nas duas obras, antes de mais nada, são suas críticas contra regimes totalitários. Mas, se o leitor se fixar apenas nas idéias ele conseguirá visualizar apenas parte da obra, perdendo a outra parte. Proponho o seguinte: esqueçam as idéias e comecem a ler "1984". Sei que é difícil, mas por favor tentem. O que se vê é um clima extremamente sufocante em toda a obra. Sentimos medo do mundo criado por Orwell, onde estamos completamente indefesos. Parece engraçado mas Orwell consegue nos manipular a ponto de, a medida que as páginas avançam, pensarmos devagar, de um modo calculado, avaliando os passos, como se fôssemos o protagonista. Quando as pessoas criticam a obra de Orwell por causa das idéias contidas nela se esquecem justamente deste ponto - na literatura existem diversos personagens marcantes, mas são poucos os personagens pelos quais sentimos empatia e nos colocamos em seu lugar. Em "1984" sentimos justamente isso para com Winston.
Já em "A Revolução dos Bichos" Orwell consegue outro efeito notável nos leitores. Primeiro ele começa a obra de uma forma simples, quase infantil. Sua alegoria parece até uma fábula de La Fontaine. Avançando as páginas a obra vai se tornando mais e mais adulta, até atingir o clímax no final com os porcos e os homens se tornando praticamente iguais. Nas fábulas de La Fontaine, há uma "moral da história" por trás de cada belo relato. Em Orwell, há uma associação entre a metáfora utilizada com personagens reais da Revolução Russa, fazendo com que a obra tenha por trás uma "moral da história" adulta. Ou seja, independente das idéias em si, o modo como elas são lançadas é um modo interessante e criativo. A história, lida por qualquer pessoa - tenha ela conhecimento dos personagens retratados na alegoria ou não - é interessante. O ponto fundamental para que isso ocorra é justamente a simplicidade com que o livro foi escrito. Por causa dessa simplicidade, a obra se torna acessível e suas idéias, embora sérias, são assimiladas sem esforço.
Conforme já disse, a arte não tem obrigações. Numa boa obra que ande nesse terreno, é preciso que ambas (arte e idéia) tenham o seu valor e possam ser fundidas como algo único, para que nem a arte seja diluída, nem a idéia. Quando isso não ocorre, a tendência é a obra e o autor desaparecerem. Por isso, mesmo com os antigos regimes criticados por Orwell desaparecendo, suas obras continuam chamando a atenção.
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