Questões Sobre o Tamanho Dum Livro
Alguns hábitos me perseguem quando leio. Um deles é sempre ler um livro curto após a leitura dum livro longo. Após a leitura dum livro 'grande', sempre fica aquela sensação de que o livro monopolizou nossa atenção durante muito tempo, fazendo atrasar a fila de livros a serem lidos. Para amenizar a dor na consciencia vou logo procurando um livro curto. O grande problema nestas escolhas é realmente saber o que é um livro curto. Como definir o tamanho dum livro? A resposta mais óbvia é simplesmente ir ao final da obra, conferir o número de páginas e classificá-lo como 'pequeno', 'médio' ou 'grande'. Mas ultimamente tenho reparado que esta classificação está longe de ser verdadeira. O que o número de páginas indica nem sempre pode ser levado muito em consideração.
Apanhem o livro "Encontro Marcado" de Fernando Sabino. São quase trezentas páginas que a gente lê em um dia. Se não se tem muito tempo ou se a leitura é feita dum modo lento, gasta-se dois ou três dias. Percebemos que o escritor propositalmente acelera o ritmo de nossa leitura em certas partes, através da utilização de expressões de fácil assimilação e de frases curtas. A sensação durante a leitura é que estamos assistindo a um vídeo com o botão de avançar apertado. Às vezes é ainda mais rápido e anos inteiros avançam, são desconsiderados sem quebrar o ritmo da narrativa e a sensação se torna a de assistirmos a um vídeo editado de melhores momentos. Pelo número de páginas, portanto, a classificação poderia ser de um livro 'médio', quando na verdade se trata de um livro 'pequeno'. Lemos um romance e fica a sensação de termos lido uma novela. Como o livro é muito bom e fica aquela sensação de que a leitura foi rápida, a vontade é recomeçarmos a leitura.
Num caso contrário, ao sair de um livro 'grande' e procurar um 'pequeno' podemos nos enganar. Frequentemente isso acontece com leitores que apanham "Malone Morre" de Samuel Beckett. O livro tem menos de duzentas páginas, mas ao serem lidas a sensação é de que são quatrocentas. O personagem fala de assuntos que aparentemente não levam a lugar algum, usa frases longas e às vezes enfadonhas e principalmente tenta nos causar uma certa repulsa ao ser transformado num agonizante cada vez mais parecido a um animal qualquer. Fora tudo isso, o experimentalismo da sua literatura e o radicalismo como ela é escrita faz com que demoremos a nos 'acostumar' com seu modo de descrever as situações. O resultado é um livro de poucas páginas, mas com algum esforço para serem lidas. Um livro que normalmente classificaríamos como 'pequeno' é na verdade um livro 'médio'.
Concordo com àqueles que me dizem que tais hábitos não levam à nada, porque de uma forma ou de outra, seja o livro 'pequeno', 'médio' ou 'grande', o importante é o prazer que usufruimos ao ler uma boa obra. Mesmo assim, sempre fico com a curiosidade de pesquisar que tipo de técnica o escritor utilizou para escrever sua obra. Infelizmente, em boa parte dos casos, nossa avaliação é tão subjetiva, que somente chegamos a alguma conclusão, após a leitura do livro. Mas, de um modo ou de outro, não deixa de ser um bom exercício tentarmos prestar atenção no formato da escrita e classificar o que lemos, segundo o esforço que gastamos. Por alguns não terem tal hábito é que muitas vezes classificam uma obra como 'ruim', só porque o esforço para lê-la é maior que a aparência indicada pelo número de páginas.
Compre os livros citados clicando nas capas abaixo:
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Num caso contrário, ao sair de um livro 'grande' e procurar um 'pequeno' podemos nos enganar. Frequentemente isso acontece com leitores que apanham "Malone Morre" de Samuel Beckett. O livro tem menos de duzentas páginas, mas ao serem lidas a sensação é de que são quatrocentas. O personagem fala de assuntos que aparentemente não levam a lugar algum, usa frases longas e às vezes enfadonhas e principalmente tenta nos causar uma certa repulsa ao ser transformado num agonizante cada vez mais parecido a um animal qualquer. Fora tudo isso, o experimentalismo da sua literatura e o radicalismo como ela é escrita faz com que demoremos a nos 'acostumar' com seu modo de descrever as situações. O resultado é um livro de poucas páginas, mas com algum esforço para serem lidas. Um livro que normalmente classificaríamos como 'pequeno' é na verdade um livro 'médio'.
Concordo com àqueles que me dizem que tais hábitos não levam à nada, porque de uma forma ou de outra, seja o livro 'pequeno', 'médio' ou 'grande', o importante é o prazer que usufruimos ao ler uma boa obra. Mesmo assim, sempre fico com a curiosidade de pesquisar que tipo de técnica o escritor utilizou para escrever sua obra. Infelizmente, em boa parte dos casos, nossa avaliação é tão subjetiva, que somente chegamos a alguma conclusão, após a leitura do livro. Mas, de um modo ou de outro, não deixa de ser um bom exercício tentarmos prestar atenção no formato da escrita e classificar o que lemos, segundo o esforço que gastamos. Por alguns não terem tal hábito é que muitas vezes classificam uma obra como 'ruim', só porque o esforço para lê-la é maior que a aparência indicada pelo número de páginas.
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