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27 julho 2005

Vale a Pena Ler a Literatura Brasileira Contemporânea? - Parte II: Observações Sobre a Lista

Por mais que se queira estabelecer uma lista com os melhores, é preciso admitir que é difícil montar um lista sem que se excluam alguns nomes. De modo que o resultado é previsível. Então vou comentar primeiro as ausências e depois os excessos.

Bom, fiquei muito surpreso de não encontrar pelo menos três nomes: Rachel de Queiroz (Memorial de Maria Moura), Tabajara Ruas (Os Varões Assinalados) e Ana Miranda (Dias e Dias). Tentei imaginar uma justificativa para a lista não conter "Memorial de Maria Moura" e só encontro uma possível: colocar seu livro entre os primeiros faz parecer que tudo que se produz pela nova geração é menor. O fato é que numa lista que privilegia os novos, colocar uma escritora que lançou um grande livro no fim da sua carreira poderia soar estranho. Ou seja, quem votou não conseguiu notar os aspectos modernos do romance de Rachel de Queiroz. A segunda ausência, o livro "Os Varões Assinalados", tentei encontrar a sua data de publicação, mas não encontrei, por isso não sei ao certo se ele poderia estar ausente por não ser do período mencionado. Mas o fato é que parece que os romances épicos, aqueles que mesclam uma grande pesquisa histórica e cria personagens fictícios que interagem com personagens históricos caiu de moda. E é uma pena. O trabalho de pesquisa de Tabajara Ruas para composição da obra parece ter sido gigantesco. O resultado é um grande romance, num estilo que não aparece muito por aqui e que por isso deveria ser bastante valorizado e estimulado. Por último, a ausência da escritora Ana Miranda apesar de bem estranha pode ser explicado por um motivo: o júri pode ter dividido seus votos em três de suas obras. Além de "Dias e Dias", que considero seu melhor trabalho, "Desmundo" e "Boca do Inferno" poderiam estar presentes. Outra característica que vejo nos três livros é que apesar de bons, não parecem ser daqueles livros que são imediatamente citados por leitores.



Agora, dois nomes de maneira alguma entrariam em minha lista: "Cidade de Deus" e "Budapeste". "Cidade de Deus" está ali por razões óbvias: os críticos queriam eleger algum romance hoje chamado de realista. Pelo seu sucesso comercial e, de tabela, o sucesso comercial do filme de mesmo nome, "Cidade de Deus" é um nome facilmente lembrado. Mas se analisado, além de representar uma 'corrente' literária, que mais poderia ser dito do romance? A forma ou a linguagem são trabalhadas de modo adequado a ponto de imaginarmos que será lido daqui a algum tempo, quando o filme não estiver mais sendo mencionado na roda de amigos? Arrisco dizer que isso dificilmente acontecerá. Já "Budapeste" é um livro bom. Mas somente isso. Num ano em que foram publicados "Mongólia", de Bernardo Carvalho, e "A Margem Imóvel do Rio", de Luiz Antonio de Assis Brasil, escolher "Budapeste" para entrar numa lista em que os outros dois não aparecem, se torna um paradoxo. Aliás, o júri deu o prêmio Jabuti de melhor romance para "Mongólia" e no Portugal Telecom, o livro de Assis Brasil ficou em terceiro. "Budapeste" foi escolhido livro do ano - que soou quase como prêmio de consolação para um livro que foi tão bem comercialmente.



Não li todos os livros citados, inclusive nem conhecia o livro "Barco a seco" de Rubens Figueiredo, mas não gosto dos livros que li de três autores citados: Raduan Nassar, João Gilberto Noll e Dalton Trevisan. Portanto, apesar de não ter lido os livros dos três autores, torço o nariz quando vejo as obras deles aparecendo na lista. Aliás, alguém aí que gosta dos autores por favor me diga o que faz com que você goste deles. Pode ser que tenha lido os livros errados deles (li, de Raduan Nassar "Um Copo de Cólera", de João Gilberto Noll "Canoas e Marolas" e de Dalton Trevisan uma coletânea de contos que não sei mais o nome), por isso não posso dizer mais nada à respeito.


No próximo post trato propriamente de responder à questão: vale a pena ler a literatura brasileira contemporânea?
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