Harold Pinter – O Ganhador do Prêmio Nobel de Literatura 2005
A minha primeira reação ao ouvir o anúncio de Pinter como o escritor ganhador do prêmio Nobel de Literatura do ano foi negativa. Nada contra o autor ou a academia, mas sim por saber que grande parte do trabalho do autor foi para o teatro. Embora meus conhecimentos de teatro sejam quase nulos – dos clássicos do teatro brasileiro, li apenas alguns, em especial Dias Gomes, e quanto aos estrangeiros, pouco, quase tudo Beckett -, coloco os textos num patamar menor. Explico: sinto bastante falta de um narrador quando leio qualquer peça de teatro. No teatro, ninguém olha de soslaio, ninguém sente um cheiro ocre, nenhuma paisagem é arrebatadora. O modo econômico como a ação é conduzida, às vezes dá a sensação de que o ritmo é sempre muito rápido. Daí, quando assistimos à peça sendo bem encenada, o texto parece se transformar. Num romance isso, na maior parte das vezes, não acontece. Primeiro, porque a criação visual não é necessariamente o mais importante. Segundo, porque o narrador, quando aparece no romance, funciona como um controlador do fluxo do texto, enquanto que no teatro, quando um narrador aparece, é apenas mais um personagem. Para o teatro, o narrador é completamente desnecessário.
Apesar de tudo isso, saí à procura de alguma peça de Pinter para conhecer seu trabalho. Encontrei a tradução de Millôr Fernandes da peça “Volta ao Lar”, duma coleção antiga chamada “Teatro Vivo”, da editora Abril. A primeira impressão é que o texto tem muitas semelhanças com o texto de Samuel Beckett. A peça conta a história de um filho que volta ao lar depois de seis anos e isso faz com que o ambiente familiar violento, se torne ainda pior. A diferença parece ser que nas peças de Beckett o absurdo é sempre apresentado de modo bem escancarado (Lucky amarrado pelo pescoço, obedecendo as ordens de Pozzo em “Esperando Godot”, ou o cego Hamm explorando suas vítimas em “Fim de Partida”) enquanto o absurdo na obra de Pinter parece mais escondido (o texto se refere não a mendigos ou vagabundos como em Beckett, mas sim a uma família). Apesar disso, o efeito não é amenizado, a estranheza é semelhante aos textos de Beckett.
“Volta ao Lar” foi escrita em 1964, quando o autor já escrevia roteiros para o cinema, e pouco tempo depois, Pinter declarou em entrevistas que se dedicaria a peças mais curtas – “Paisagem”, peça de 1968, quando encenada, dura cerca de trinta minutos apenas e “Noite”, uma peça minúscula, sete. Em 1969, o escritor adaptou o romance “O Mensageiro” (The Go-Between) para o cinema e o filme levou a Palma de Ouro em Cannes em 1971. Além disso, Pinter também escreveu para rádio e televisão e foi condecorado com a Ordem do Império Britânico. Um escritor que realmente trabalhou muito durante toda sua vida, recebeu um bom reconhecimento por todo este trabalho e é, aparentemente, bem visto pelo público. Com isso, o que se pode dizer contra a escolha da Academia Sueca? Esperamos apenas que não demore muito para que as editoras brasileiras publiquem outros bons trabalhos do escritor.
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