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22 junho 2007

Em que Direção Caminhar?

Se você é conhecido como um leitor habitual, inevitavelmente surgirá alguém, um leitor iniciante, que lhe pedirá sugestões de leitura. O hábito da leitura faz com que a pessoa veja você como alguém apto a dar conselhos. É uma pena decepcionar a esses, mas pela minha experiência, digo que poucos são os conselhos que podem ser dados nesse sentido. Paradoxalmente, digo também que é muito importante ouvir conselhos de outros leitores. Explico: é preciso reconhecer que muitos dos que se dirigem a alguém pedindo conselhos esperam receber um roteiro bem definido, um mapa com setinhas apontando onde virar à direita ou mandando prestar atenção num ponto de referência. No entanto, o leitor é como um viajante; cada leitor possui seu próprio caminho a percorrer e o mapa que guia um leitor, pode servir apenas para afastar outro do prazer da leitura. Ligado à isso, é preciso reconhecer a individualidade de cada leitor e suas limitações. Limitações não podem ser aferidas através de unidades de medida precisas e o que há em comum entre todos os leitores são suas limitações. E são dessas lacunas que nascem excelentes pontos de vista.

Voltando à questão dos conselhos, por outro lado, é preciso reconhecer também que as opiniões de outros leitores vão se constituindo com o tempo, como um guia de viagens útil para nossas escolhas. Um guia de viagens é algo produzido para mostrar todas as possibilidades de um passeio. Obviamente, por causa do tempo ou do dinheiro, a grande maioria das pessoas simplesmente deixa de lado o que não interessa e explora somente aquilo que parece valer a pena. Um guia completo não é necessariamente um guia que contém todas as nossas escolhas, mas um guia que nos informa que passeios não devemos realizar e por quê. Escolher o que se deve ler também segue a mesma lógica. O tempo é escasso? Então rejeite aquilo que é 'obrigatório' mas que não lhe interessa. Através da opinião de outros, você vai saber que o tema do livro não lhe atrairá. Não se preocupe. Certamente sobrarão muitos outros 'obrigatórios' que nem em duas vidas você conseguirá ler. Citando Ítalo Calvino, "por maiores que possam ser as leituras de formação de um indivíduo, resta sempre um número enorme de obras que ele não leu". Imaginar que se deve ler tudo somente porque a obra foi rotulada como uma obra clássica ou obrigatória, é desprezar seu próprio ponto de vista em favor de outros, algo que não faz o menor sentido. Vejam que é algo bem diferente um leitor rejeitar um bom livro por ignorância e outro que o faz por causa das informações que recebeu.

O que se evidencia mais cedo ou mais tarde é que certos pontos de vista se aproximam mais dos nossos que outros, sem que necessariamente possam ser classificados como 'certos' ou 'errados'. Existem leitores que preferem uma literatura mais realista, outros uma prosa mais poética, ainda outros um texto mais fragmentado. E é improvável que alguém vá conseguir mostrar que há uma hierarquia de valores entre essas expressões literárias. É realmente lamentável quando escutamos alguém dizer que certo livro "é impossível não gostar" e se contrariamos sua lógica umbilical, a pessoa sai com um "é porque você não entendeu o que o autor propõe". Sendo assim, algumas qualidades ressaltadas chamarão sua atenção, enquanto outras lhe serão completamente indiferentes. Ouvir a opinião de outros leitores servirá não para seguir os mesmos caminhos, mas para reconhecer quais são interessantes. Em muitos casos, pode ser que você descubra que há uma revolução à espera do leitor de uma obra. Mas essa é uma revolução da qual você não quer participar.
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