Literatura Independente no Brasil
Recentemente estive numa palestra com o escritor Marçal Aquino. Em meio as histórias básicas do escritor e seu ofício, o assunto veio à tona: dinheiro. O escritor falou o que todo mundo já sabe, que é muito difícil viver de literatura por aqui. Aliás, é quase unanimidade você ir a uma palestra e o escritor dizer que não dá para se viver de literatura nesse país. Faça a conta você mesmo: o escritor recebe 10% do preço de capa de três em três meses. Se você acompanha o mercado editorial brasileiro, você sabe que atualmente as grandes editoras estão lançando livros com preços entre 30 e 40 reais. Um autor iniciante de sucesso vende 2000 exemplares de sua obra. Não digo 2000 num mês, digo vende 2000 e pronto. Uma tiragem.
Uma outra fonte de renda seriam os prêmios literários que, novamente, aqui nesse país, são quase inexistentes. O Jabuti, o prêmio mais importante do país, até pouco tempo atrás não tinha condições de pagar a passagem para o ganhador receber o prêmio. Sobra o Portugal Telecom, que infelizmente, nesse ano, mudou as regras e os autores brasileiros concorreram com autores estrangeiros de língua portuguesa. Nesse ano, por exemplo, acho pouco provável que o primeiro vencedor seja um brasileiro.
Há alguma saída? Bolsas? Existem, mas também são poucas. A Vitae, que entre seus bolsistas estão nomes importantes da literatura nacional como Milton Hatoum, João Gilberto Noll, Bernardo Carvalho, Rubens Figueiredo, Luiz Ruffato e Michel Laub, não existe mais.
Normalmente o que ocorre é uma divisão entre atividades: paralelo à atividade literária, o escritor procura atividades que poderão render o suficiente para pagar as contas. Jornalismo é a primeira opção. Outras atividades mais próximas ao ofício também ajudam, como traduções, projetos de antologias, etc. Não muito raro também é encontrar alguns no ofício do magistério. Por último, participação em eventos e palestras. Ou seja, para que você possa ler aquele maravilhoso romance contemporâneo, o autor teve que gastar muito tempo suando a camisa em atividades que dão dinheiro. Esse é o retrato da literatura contemporânea no Brasil.
Bom, se você começou a ler esse texto com aquela idéia romântica de que o escritor que publica em uma grande editora é um escritor bem-sucedido financeiramente e agora está chocado com a realidade, uma notícia ainda pior: esses escritores representam o melhor caso. Por trás de todos esses escritores que têm seus nomes impressos ao lado do logotipo da editora dos seus sonhos, está uma fila de outros que não chegaram lá ainda. Claro que muitos desses que sonham um dia ser um escritor entrevistado pelo Jô, são péssimos, não dá para ler uma linha do que escrevem. Porém, existem muitos bons escritores que não são publicados simplesmente porque não têm um agente que faça o serviço de divulgação do livro.
Por tudo isso, a discussão sobre literatura independente no Brasil é pertinente. O Júlio Daio Borges já falou sobre o assunto e agora, por ocasião do lançamento do novo livro de Luiz Biajoni, o assunto voltou. A Olivia, que publicou por uma grande editora, começou e o próprio Biajoni completa. A lógica é simples: se o serviço de divulgação de uma editora não dá mais tanto dinheiro quanto a divulgação feita pela internet, pra quê bater na porta delas? Por que não fazer você mesmo a divulgação, vender diretamente ao leitor, saber exatamente quantos exemplares de sua obra foram vendidos, enfim, obter o controle da sua obra?
Não sou tão entusiasta ao ponto de dizer que as editoras irão acabar, assim como a indústria fonográfica, mas creio que começa a surgir uma boa opção de descentralização do poder das grandes editoras. E, com isso, uma grande mudança no modelo que conhecemos poderá ocorrer nos próximos anos. O fato de alguns escritores que começaram na internet estarem agora sendo publicados por grandes editoras somente confirma isso. O grande problema que existia antes - como imprimir de forma barata em pequenas quantidades? -, parece já ter uma solução à vista. Resta esperarmos.
Uma outra fonte de renda seriam os prêmios literários que, novamente, aqui nesse país, são quase inexistentes. O Jabuti, o prêmio mais importante do país, até pouco tempo atrás não tinha condições de pagar a passagem para o ganhador receber o prêmio. Sobra o Portugal Telecom, que infelizmente, nesse ano, mudou as regras e os autores brasileiros concorreram com autores estrangeiros de língua portuguesa. Nesse ano, por exemplo, acho pouco provável que o primeiro vencedor seja um brasileiro.
Há alguma saída? Bolsas? Existem, mas também são poucas. A Vitae, que entre seus bolsistas estão nomes importantes da literatura nacional como Milton Hatoum, João Gilberto Noll, Bernardo Carvalho, Rubens Figueiredo, Luiz Ruffato e Michel Laub, não existe mais.
Normalmente o que ocorre é uma divisão entre atividades: paralelo à atividade literária, o escritor procura atividades que poderão render o suficiente para pagar as contas. Jornalismo é a primeira opção. Outras atividades mais próximas ao ofício também ajudam, como traduções, projetos de antologias, etc. Não muito raro também é encontrar alguns no ofício do magistério. Por último, participação em eventos e palestras. Ou seja, para que você possa ler aquele maravilhoso romance contemporâneo, o autor teve que gastar muito tempo suando a camisa em atividades que dão dinheiro. Esse é o retrato da literatura contemporânea no Brasil.
Bom, se você começou a ler esse texto com aquela idéia romântica de que o escritor que publica em uma grande editora é um escritor bem-sucedido financeiramente e agora está chocado com a realidade, uma notícia ainda pior: esses escritores representam o melhor caso. Por trás de todos esses escritores que têm seus nomes impressos ao lado do logotipo da editora dos seus sonhos, está uma fila de outros que não chegaram lá ainda. Claro que muitos desses que sonham um dia ser um escritor entrevistado pelo Jô, são péssimos, não dá para ler uma linha do que escrevem. Porém, existem muitos bons escritores que não são publicados simplesmente porque não têm um agente que faça o serviço de divulgação do livro.
Por tudo isso, a discussão sobre literatura independente no Brasil é pertinente. O Júlio Daio Borges já falou sobre o assunto e agora, por ocasião do lançamento do novo livro de Luiz Biajoni, o assunto voltou. A Olivia, que publicou por uma grande editora, começou e o próprio Biajoni completa. A lógica é simples: se o serviço de divulgação de uma editora não dá mais tanto dinheiro quanto a divulgação feita pela internet, pra quê bater na porta delas? Por que não fazer você mesmo a divulgação, vender diretamente ao leitor, saber exatamente quantos exemplares de sua obra foram vendidos, enfim, obter o controle da sua obra?
Não sou tão entusiasta ao ponto de dizer que as editoras irão acabar, assim como a indústria fonográfica, mas creio que começa a surgir uma boa opção de descentralização do poder das grandes editoras. E, com isso, uma grande mudança no modelo que conhecemos poderá ocorrer nos próximos anos. O fato de alguns escritores que começaram na internet estarem agora sendo publicados por grandes editoras somente confirma isso. O grande problema que existia antes - como imprimir de forma barata em pequenas quantidades? -, parece já ter uma solução à vista. Resta esperarmos.
<< Home