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07 agosto 2007

Pontos Fracos dos Livros Policiais

Se fosse escolher um patinho feio entre os gêneros literários, certamente colocaria os livros policiais em primeiro. Tidos como livros menores, feitos para quem quer apenas diversão e que não possuem o mínimo senso crítico, livros policiais são freqüentemente desconsiderados pela crítica. Afastado dos livros policiais há um bom tempo, resolvi ler alguns e tentar descobrir a razão dessa visão pessimista deste tipo de literatura. Descobri que apesar dos estereótipos construídos, existem pontos fracos que realmente incomodam e que podem ser o motivo para que alguns leitores coloquem todos no mesmo barco, o barco do "livro policial é sinônimo de livro ruim".

Um dos grandes problemas do gênero é que uma grande parte dos livros são constituídos a partir de um único pilar: um mistério a ser solucionado. Nas mãos de um habilidoso autor, o mistério pode prender a atenção, pode-se jogar no texto literário um jogo de esconde-esconde que intriga o leitor, fazendo com que suas certezas sejam freqüentemente anuladas e trazendo reviravoltas empolgantes. No entanto, quando o resultado é ruim - por exemplo, o leitor consegue discernir qual será o final logo no início do livro ou quando o final peca pela falta de lógica, soando totalmente inverossímil - o resultado é desastroso. A tendência é mesmo reclamar (e reclamar muito!) por mais que o resto do livro tenha interessado. A relação de amor e ódio parece ser uma característica do gênero: é de fato muito comum ouvirmos leitores dizerem que odiaram determinada leitura. Quando perguntamos o porquê invariavelmente a resposta é: por causa do final da trama.

Outro problema do gênero é a tendência de um mesmo personagem aparecer numa série de livros. Novamente, na mão de um bom autor, o personagem pode receber cada vez mais características, tornando-se mais complexo e interessante. No entanto, na maior parte das vezes, a repetição é algo cansativo, fazendo com que aquele personagem que gostamos tanto num livro, torne-se desinteressante em outro. Com o tempo o próprio autor percebe que tudo ficou muito chato e resolve inovar, anulando características antes definidoras do personagem, dando a ele uma nova cara. Por exemplo, um detetive introspectivo no início da série, torna-se cada vez mais inepto pela incapacidade de discernir algumas pistas óbvias. A reinvenção pode matar o personagem que tanto chamou atenção do leitor, fazendo com que no fim, ele desista do autor e passe a ler outro.

Por último, a grande maioria dos livros policiais possuem um único foco, às vezes um personagem - o(s) criminoso(s) ou o detetive -, outras vezes um mistério - o crime e suas razões. Para um leitor mais experiente é decepcionante perceber o quanto alguns aspectos da narrativa poderiam ser melhor aproveitados, mas que foram alijados do texto por não pertencerem ao foco escolhido pelo autor. Muitas vezes, por exemplo quando o autor constrói um grande detetive, o leitor se pergunta: mas quem é essa vítima? Como eram seus hábitos? Isso provoca uma natural falta de empatia e, em muitos casos, o leitor chega ao fim do livro se perguntando pra quê leu todas aquelas páginas.

Claro que atualmente o mundo dos livros policiais mudou bastante e muitos dos aspectos apresentados podem até parecer novos estereótipos - afinal faço observações sem citar nenhum exemplo -, mas o objetivo é justamente o contrário. Ao invés de simplesmente se render e entrar no barco do "livro policial é sinônimo de livro ruim", apontar as falhas dos modelos criados pelo gênero serve para que o leitor possa se guiar e observar como o autor reduz os pontos fracos e constrói uma excelente obra literária.
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