Leitores e seus Hábitos Estranhos I - A Fila
Todo mundo costuma dizer que brasileiro adora uma fila. Assim, seguindo essa máxima, pode-se dizer que todo bom leitor brasileiro possui sua própria fila de livros a serem lidos em breve. Regida por uma lógica pessoal (muitas vezes nem tão lógica assim) a fila serve para anestesiarmos nossa consciência da culpa por ter comprado aquele livro e extrapolado mais uma vez a conta do cartão de crédito. Serve também para salvar-nos de situações embaraçosas. Quando perguntam se você já leu o livro tal de Fulano, sai quase que automaticamente a resposta: "Não, mas já tá fila". Independente do que dizem as outras pessoas, a fila é, portanto, um mal necessário.
Um dos habitats preferidos da fila e muitas vezes essencial para sua sobrevivência é o criado-mudo. Todo bom leitor, que possui uma fila de livros respeitável, possui livros bem próximos à cama, mesmo aqueles leitores que não têm o hábito de ler antes de dormir. Em alguns casos de compulsividade extrema, o criado-mudo desaparece na pilha de livros da fila, transformando-se num criado-estante-mudo. Há ainda aqueles que apesar da compulsividade, não sentem nenhum apego aos seus livros e portanto não são de muita frescura. Em tais casos geralmente, além do criado-estante-mudo, o dono da fila usa o chão ao redor da cama para ter a fila sempre por perto, não importando em, ao acordar, vez por outra, pisar num ou noutro livro.
Claro que há ainda algumas variações de fila. Por exemplo, é muito comum a fila de livros para entrar na fila. Devido às limitações do ambiente (tamanho do quarto, kgf que o criado-mudo agüenta ou algum cão mastigador), a fila não pode crescer infinitamente. Em tais casos é necessário estabelecer critérios para que um livro possa entrar na fila. Com isso, ordenamos mentalmente que livros entrarão na fila quando surgir uma vaga.
Mesmo com todos estes artifícios, a fila nem sempre é respeitada, isso porque o mercado editorial segue uma lógica diferente da nossa. Daí, em meio ao tira-e-põe da fila e da fila da fila, lemos uma notícia de lançamento da obra mais esperado do ano. Pronto! Toda a nossa lógica foi pras cucuias e malandramente passamos a obra para o início da fila. Aquele Veríssimo que estava na frente reclama, mas o que podemos fazer? Vai ter que esperar mais uma vez na fila, ou seja, surge daí então a mais nova fila: a fila dos que já foram para a fila.
Apesar de tudo isso, ainda encontramos tempo para ir até uma livraria ou sebo e encontrarmos algo que nos agrada. Com recursos escassos, muitas vezes anotamos o tal livro desejado e criamos a fila dos livros a serem comprados. Bom, pelo menos para essa fila, a informática e a internet são de grande ajuda e para não nos esquecermos jamais de uma ou outra obra, criamos um banco de dados com a relação dos livros da fila. Os menos exigentes criam um arquivo .txt sem nenhum detalhe especial. Já os mais organizados, tendem a criar simbologias próprias e catalogar sistematicamente em tabelas os mais desejados. Alguns criam até um sistema para ter grandes recursos de pesquisa à mão e conseguir saber, por exemplo, que livro está a mais tempo na fila. Em outros casos, o leitor vai até a sua loja virtual preferida e cria sua lista de livros desejados lá mesmo. Eu mesmo possuo duas: uma no Submarino e outra na Amazon. Tudo muito rápido e prático.
Descrever tais hábitos faz você compreender que é uma pessoa perfeitamente normal, apesar de todas essas excentricidades de leitor voraz alucinado e viciado por qualquer letra que apareça à sua frente. Muitos ao seu redor provavelmente não compreenderão plenamente o que faz você ter tais hábitos. Não se aflija. Nem sempre é possível compreender. Na maior parte das vezes, nós mesmos não conseguimos explicar. A única coisa que sabemos é que amamos nossos livros!
Um dos habitats preferidos da fila e muitas vezes essencial para sua sobrevivência é o criado-mudo. Todo bom leitor, que possui uma fila de livros respeitável, possui livros bem próximos à cama, mesmo aqueles leitores que não têm o hábito de ler antes de dormir. Em alguns casos de compulsividade extrema, o criado-mudo desaparece na pilha de livros da fila, transformando-se num criado-estante-mudo. Há ainda aqueles que apesar da compulsividade, não sentem nenhum apego aos seus livros e portanto não são de muita frescura. Em tais casos geralmente, além do criado-estante-mudo, o dono da fila usa o chão ao redor da cama para ter a fila sempre por perto, não importando em, ao acordar, vez por outra, pisar num ou noutro livro.
Claro que há ainda algumas variações de fila. Por exemplo, é muito comum a fila de livros para entrar na fila. Devido às limitações do ambiente (tamanho do quarto, kgf que o criado-mudo agüenta ou algum cão mastigador), a fila não pode crescer infinitamente. Em tais casos é necessário estabelecer critérios para que um livro possa entrar na fila. Com isso, ordenamos mentalmente que livros entrarão na fila quando surgir uma vaga.
Mesmo com todos estes artifícios, a fila nem sempre é respeitada, isso porque o mercado editorial segue uma lógica diferente da nossa. Daí, em meio ao tira-e-põe da fila e da fila da fila, lemos uma notícia de lançamento da obra mais esperado do ano. Pronto! Toda a nossa lógica foi pras cucuias e malandramente passamos a obra para o início da fila. Aquele Veríssimo que estava na frente reclama, mas o que podemos fazer? Vai ter que esperar mais uma vez na fila, ou seja, surge daí então a mais nova fila: a fila dos que já foram para a fila.
Apesar de tudo isso, ainda encontramos tempo para ir até uma livraria ou sebo e encontrarmos algo que nos agrada. Com recursos escassos, muitas vezes anotamos o tal livro desejado e criamos a fila dos livros a serem comprados. Bom, pelo menos para essa fila, a informática e a internet são de grande ajuda e para não nos esquecermos jamais de uma ou outra obra, criamos um banco de dados com a relação dos livros da fila. Os menos exigentes criam um arquivo .txt sem nenhum detalhe especial. Já os mais organizados, tendem a criar simbologias próprias e catalogar sistematicamente em tabelas os mais desejados. Alguns criam até um sistema para ter grandes recursos de pesquisa à mão e conseguir saber, por exemplo, que livro está a mais tempo na fila. Em outros casos, o leitor vai até a sua loja virtual preferida e cria sua lista de livros desejados lá mesmo. Eu mesmo possuo duas: uma no Submarino e outra na Amazon. Tudo muito rápido e prático.
Descrever tais hábitos faz você compreender que é uma pessoa perfeitamente normal, apesar de todas essas excentricidades de leitor voraz alucinado e viciado por qualquer letra que apareça à sua frente. Muitos ao seu redor provavelmente não compreenderão plenamente o que faz você ter tais hábitos. Não se aflija. Nem sempre é possível compreender. Na maior parte das vezes, nós mesmos não conseguimos explicar. A única coisa que sabemos é que amamos nossos livros!
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