O Poder do Absurdo
Falar dos problemas de uma época nunca é fácil. São raros os casos em que eles são colocados de forma clara, sem que o romance fique panfletário. Mesmo o melhor exemplo que tenho em mente, "A Montanha Mágica" de Thomas Mann, acaba deixando isso um pouco no ar no último capítulo, quando Hans Castorp vai a guerra. Como forma de enfocar os pontos certos, muitos autores usaram o absurdo para tentar trabalhar melhor o assunto.
Os leitores, quase invariavelmente, se lembram logo de Kafka, o rei do absurdo. Os três clássicos do autor ("O Processo", "A Metamorfose" e "O Castelo") colocam o absurdo como parte da vida humana. Especialmente em "O Castelo", Kafka nos mostra como é ridícula a sensação de "poder", que traz ao ser humano a idéia de traquilidade. Lá o poder é inacessível, a sensação de impotência é constante e a vida de todos é regida pelo absurdo. O tema não podia ser mais atual, com a onda de terrorismo que ocorre no mundo inteiro. A sensação de que conduzimos nossos passos e ditamos como vai ser o nosso futuro foi terrivelmente interrompida após o que as TVs do mundo inteiro mostraram em Nova York, Madrid e Beslan.
Albert Camus também tratou o assunto de forma bem pertinente. Por ser filósofo, o conceito de absurdo e a revolta conseqüente nos leva a uma reflexão profunda. Quando lemos "A peste" a sensação é terrível. O escritor, com grande talento, vai aproximando a morte à vida dos personagens e conseqüentemente a nós mesmos, causando grande impacto. Imaginamos um mundo onde os muitos cérebros adormecidos pela rotina são repentinamente acordados quando esta já não faz mais sentido. Num mundo onde cada vez mais o dinheiro, carreira e reconhecimento são cada vez mais enfatizados, a obra tem o papel de abrir nossos olhos a questionar esses valores impostos.
Já na ficção de Elias Canetti o absurdo é aliado ao humor. Em "Auto-de-fé", o professor Kien se casa com sua empregada pelo cuidado dispensado por ela aos seus próprios livros, sua verdadeira paixão. Um Narciso moderno, seu espelho é sua biblioteca. O humor serve para perceber outras incongruências do mundo moderno. Com a internet, o mundo criou um desejo costante por informação. Essa avalanche de dados, que faz com que o homem contemporâneo busque obsessivamente a perfeição intelectual torna-o um Kien, onde verdade e mentira não existem mais, são conceitos que podem ser moldados a cada nova descoberta. Essa busca faz o homem contemporâneo reduzir o mundo a si mesmo e sua própria visão, ao contrário do que se espera.
Por fim, Samuel Beckett radicalizou o absurdo, mostrando a vida humana como uma inteira degradação. Apesar disso, não podemos realmente afirmar se o que vemos em sua obra é realmente um pessimismo constante. "Malone Morre" é uma grande reflexão sobre o nada. Não há uma história e mesmo o personagem narrador, com a leitura de toda a trilogia, não parece ser realmente alguém, mas apenas uma imaginação repentina. O nada é ampliado, ressaltando o vazio. Parece que o tempo todo Beckett põe o absurdo a nossa frente para mostrar-nos que realmente não sabemos onde queremos chegar.
O que há em comum em todas estas obras, além do absurdo, é a maneira como somos influenciados por elas a dedicar maior atenção a nossa individualidade. Num mundo tão acostumado a massificar, muitos se esquecem de perceber seus próprios pontos de vista e refletir sobre si mesmos, o que é o verdadeiro absurdo. Hoje, muitos prendem-se a própria rotina e se dedicam somente a fazer a roda da vida girar. Colocam sua vida no piloto-automático. Não têm projetos pessoais e nem se dão conta disso. O objetivo de suas vidas se resume a dormir e acordar entre as 24 horas do dia. O absurdo, portanto, serve de luneta para que possamos desenvolver maior perspicácia e enxergar além do óbvio.
Os leitores, quase invariavelmente, se lembram logo de Kafka, o rei do absurdo. Os três clássicos do autor ("O Processo", "A Metamorfose" e "O Castelo") colocam o absurdo como parte da vida humana. Especialmente em "O Castelo", Kafka nos mostra como é ridícula a sensação de "poder", que traz ao ser humano a idéia de traquilidade. Lá o poder é inacessível, a sensação de impotência é constante e a vida de todos é regida pelo absurdo. O tema não podia ser mais atual, com a onda de terrorismo que ocorre no mundo inteiro. A sensação de que conduzimos nossos passos e ditamos como vai ser o nosso futuro foi terrivelmente interrompida após o que as TVs do mundo inteiro mostraram em Nova York, Madrid e Beslan.
Albert Camus também tratou o assunto de forma bem pertinente. Por ser filósofo, o conceito de absurdo e a revolta conseqüente nos leva a uma reflexão profunda. Quando lemos "A peste" a sensação é terrível. O escritor, com grande talento, vai aproximando a morte à vida dos personagens e conseqüentemente a nós mesmos, causando grande impacto. Imaginamos um mundo onde os muitos cérebros adormecidos pela rotina são repentinamente acordados quando esta já não faz mais sentido. Num mundo onde cada vez mais o dinheiro, carreira e reconhecimento são cada vez mais enfatizados, a obra tem o papel de abrir nossos olhos a questionar esses valores impostos.
Já na ficção de Elias Canetti o absurdo é aliado ao humor. Em "Auto-de-fé", o professor Kien se casa com sua empregada pelo cuidado dispensado por ela aos seus próprios livros, sua verdadeira paixão. Um Narciso moderno, seu espelho é sua biblioteca. O humor serve para perceber outras incongruências do mundo moderno. Com a internet, o mundo criou um desejo costante por informação. Essa avalanche de dados, que faz com que o homem contemporâneo busque obsessivamente a perfeição intelectual torna-o um Kien, onde verdade e mentira não existem mais, são conceitos que podem ser moldados a cada nova descoberta. Essa busca faz o homem contemporâneo reduzir o mundo a si mesmo e sua própria visão, ao contrário do que se espera.
Por fim, Samuel Beckett radicalizou o absurdo, mostrando a vida humana como uma inteira degradação. Apesar disso, não podemos realmente afirmar se o que vemos em sua obra é realmente um pessimismo constante. "Malone Morre" é uma grande reflexão sobre o nada. Não há uma história e mesmo o personagem narrador, com a leitura de toda a trilogia, não parece ser realmente alguém, mas apenas uma imaginação repentina. O nada é ampliado, ressaltando o vazio. Parece que o tempo todo Beckett põe o absurdo a nossa frente para mostrar-nos que realmente não sabemos onde queremos chegar.
O que há em comum em todas estas obras, além do absurdo, é a maneira como somos influenciados por elas a dedicar maior atenção a nossa individualidade. Num mundo tão acostumado a massificar, muitos se esquecem de perceber seus próprios pontos de vista e refletir sobre si mesmos, o que é o verdadeiro absurdo. Hoje, muitos prendem-se a própria rotina e se dedicam somente a fazer a roda da vida girar. Colocam sua vida no piloto-automático. Não têm projetos pessoais e nem se dão conta disso. O objetivo de suas vidas se resume a dormir e acordar entre as 24 horas do dia. O absurdo, portanto, serve de luneta para que possamos desenvolver maior perspicácia e enxergar além do óbvio.
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