O Desaparecimento da Inteligência
Faça o seguinte teste: vá a alguma livraria e pergunte pelas obras "O Inominável" de Samuel Beckett, "O Homem sem Qualidades" de Robert Musil ou "Absalão, Absalão!" de William Faulkner. Depois procure pelas mesmas obras em sebos da região. Depois acesse os sites das principais editoras e verifique em seus catálogos. Acredito que com muita sorte você encontrará um dos títulos para comprar. Se você é daqueles que ganha na loteria de vez em quando, encontrará dois. Agora se você encontrar os três, possivelmente você tem poderes mágicos.
Aqui no Brasil não há lógica que explique a ausência de alguns títulos. A principal trilogia de Beckett, "Molloy", "Malone Morre" e "O Inominável", é sumariamente ignorada pelas editoras, com exceção da Códex que reeditou recentemente "Malone Morre", numa tradução de Paulo Leminski. "Molloy" foi editado pela "Nova Fronteira" e dificilmente é encontrado. Agora "O Inominável" acredito que só mesmo em Portugal, embora também já tenha sido editado pela mesma "Nova Fronteira". É tão raro que numa ocasião que procurei-o num dos mais especializados sebos daqui de Belo Horizonte, a proprietária achou a maior graça na minha pergunta. Beckett foi laureado com o prêmio Nobel e, portanto, não deve ser muito difícil fazer publicidade para vender seus livros. A publicação de tais obras possivelmente deve interessar a alguém mais e possivelmente poderia vender bastante. Mas nenhuma editora dá notícia deles.
Robert Musil foi recentemente vendido em bancas numa edição promocional do jornal "O Globo" e "Folha de São Paulo". Mas foi um livro menor, "O Jovem Törless". A editora "Nova Fronteira" publicou uma versão, com tradução de Lya Luft e Carlos Abbenseth, de "O Homem sem Qualidades" (se não me engano em 1999 ou 2000) mas esta já se encontra esgotada. Pela dificuldade de encontrá-lo em sebos e pela rapidez com que a obra sumiu da editora, das duas uma: ou quem conseguiu comprar o livro não dispõe dele por nada desse mundo, ou o livro foi um fiasco e a editora resolveu recolher todos do mercado. Como estamos falando de Robert Musil, é difícil imaginar que o livro tenha sido um fiasco, já que quase a totalidade dos críticos o coloca como um dos melhores da literatura mundial. E antes que me perguntem, eu não vendo o meu.
Com William Faulkner a falta de lógica é ainda maior. Conseguimos encontrar vários títulos do autor que muitas vezes nem os próprios fãs se lembram. Mas as principais obras: "Luz em Agosto", "Santuário" e "Absalão, Absalão!", o mercado não vê faz tempo. "O Som e a Fúria", depois de uma edição da "Nova Fronteira" numa coleção de grandes clássicos, foi reeditado pela "Cosac & Naify". Antes disso, era praticamente impossível localizá-lo. "Enquanto Agonizo" tem uma edição recente mas também sofria do mesmo mal.
Não sei ainda qual a dificuldade. Não deve ser a tradução, pois tais obras foram escritas em francês, alemão e inglês, idiomas que são ensinados na maior parte das faculdades de Letras do país. Não acredito que seja vendagem também. Se precisar de algum estímulo de marketing, tais obras foram escritas por grandes nomes da literatura. Já que conseguem vender até mesmo autores que só sabem falar do próprio catarro, o que esses grandes marketeiros não fariam com um excelente escritor? Poderia ser uma pendência qualquer com direitos autorais, mas acho que tudo poderia ser resolvido com dinheiro. E se existem grandes editoras no país, não sei se o problema pode ser simplificado desta forma. Qualquer que seja a razão, junto com essa "amnésia" do mercado editorial, vemos desaparecer também a inteligência.
Aqui no Brasil não há lógica que explique a ausência de alguns títulos. A principal trilogia de Beckett, "Molloy", "Malone Morre" e "O Inominável", é sumariamente ignorada pelas editoras, com exceção da Códex que reeditou recentemente "Malone Morre", numa tradução de Paulo Leminski. "Molloy" foi editado pela "Nova Fronteira" e dificilmente é encontrado. Agora "O Inominável" acredito que só mesmo em Portugal, embora também já tenha sido editado pela mesma "Nova Fronteira". É tão raro que numa ocasião que procurei-o num dos mais especializados sebos daqui de Belo Horizonte, a proprietária achou a maior graça na minha pergunta. Beckett foi laureado com o prêmio Nobel e, portanto, não deve ser muito difícil fazer publicidade para vender seus livros. A publicação de tais obras possivelmente deve interessar a alguém mais e possivelmente poderia vender bastante. Mas nenhuma editora dá notícia deles.
Robert Musil foi recentemente vendido em bancas numa edição promocional do jornal "O Globo" e "Folha de São Paulo". Mas foi um livro menor, "O Jovem Törless". A editora "Nova Fronteira" publicou uma versão, com tradução de Lya Luft e Carlos Abbenseth, de "O Homem sem Qualidades" (se não me engano em 1999 ou 2000) mas esta já se encontra esgotada. Pela dificuldade de encontrá-lo em sebos e pela rapidez com que a obra sumiu da editora, das duas uma: ou quem conseguiu comprar o livro não dispõe dele por nada desse mundo, ou o livro foi um fiasco e a editora resolveu recolher todos do mercado. Como estamos falando de Robert Musil, é difícil imaginar que o livro tenha sido um fiasco, já que quase a totalidade dos críticos o coloca como um dos melhores da literatura mundial. E antes que me perguntem, eu não vendo o meu.
Com William Faulkner a falta de lógica é ainda maior. Conseguimos encontrar vários títulos do autor que muitas vezes nem os próprios fãs se lembram. Mas as principais obras: "Luz em Agosto", "Santuário" e "Absalão, Absalão!", o mercado não vê faz tempo. "O Som e a Fúria", depois de uma edição da "Nova Fronteira" numa coleção de grandes clássicos, foi reeditado pela "Cosac & Naify". Antes disso, era praticamente impossível localizá-lo. "Enquanto Agonizo" tem uma edição recente mas também sofria do mesmo mal.
Não sei ainda qual a dificuldade. Não deve ser a tradução, pois tais obras foram escritas em francês, alemão e inglês, idiomas que são ensinados na maior parte das faculdades de Letras do país. Não acredito que seja vendagem também. Se precisar de algum estímulo de marketing, tais obras foram escritas por grandes nomes da literatura. Já que conseguem vender até mesmo autores que só sabem falar do próprio catarro, o que esses grandes marketeiros não fariam com um excelente escritor? Poderia ser uma pendência qualquer com direitos autorais, mas acho que tudo poderia ser resolvido com dinheiro. E se existem grandes editoras no país, não sei se o problema pode ser simplificado desta forma. Qualquer que seja a razão, junto com essa "amnésia" do mercado editorial, vemos desaparecer também a inteligência.
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