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07 janeiro 2005

"O Tempo e o Vento"

Minha edição dos sete tomos da obra máxima de Érico Veríssimo é anterior as edições atuais comemorativas do centenário de nascimento do autor. A algum tempo já vinham sendo divulgadas informações a respeito e prometia-se o relançamento completo de suas obras pela editora "Globo". A minha decepção foi grande quando percebi que os tais relançamentos nada mais eram do que o mesmo livro com uma capa mais bacana e uma nova diagramação. Só. Até os livros em formato de bolso, "Clarissa" e "Olhai os Lírios do Campo" por exemplo, continuaram com o mesmo papel jornal de péssima qualidade, que tortura quem tem alergia por feder tanto. Foi preciso a editora "Companhia das Letras" relançar suas obras para que a gente percebesse o tamanho da ingratidão da editora para com aquele que foi talvez o seu maior colaborador.

Todos os tomos da nova edição da obra, publicados pela "Companhia das Letras", foram tratados com a atenção que a obra e o escritor mereciam. As capas são belas, apesar de econômicas, mas o que surpreende mesmo é como o conteúdo da obra, que já era bom, pôde ficar ainda melhor. Já no início a editora publica uma árvore genealógica dos Terra-Cambará e um mapa do Rio Grande do Sul desenhado por Paulo von Poser. Para mim, que já havia lido toda a obra, foi um impacto delicioso poder rememorar cada nome e cada personalidade por trás daquele nome e acompanhar pelo mapa seus caminhos. Para quem não conhece a obra, acredito que a árvore servirá como guia de leitura, permitindo um esclarecimento "visual" para quaisquer dúvidas. Acho que ela será perfeitamente útil na primeira parte da obra, "O Continente", em que as raízes das famílias Terra-Cambará se cruzam com o tempo presente da obra, o cerco à casa patriarcal durante a guerra.

Além da árvore, a editora procurou ampliar a visão dos leitores da obra por incluir ainda um sessão de cronologia de fatos históricos. Assim o leitor consegue reconhecer não só os personagens, mas como eles foram inseridos como coadjuvantes da história do Brasil. Ao se informar através da lista, o leitor consegue distinguir ainda mais a maestria de Érico ao contar sua história, amplificando suas qualidades literárias. E se é ao escritor que a edição chama a atenção, então por que não incluir também fatos de sua própria vida ou desenhos feitos por ele? Pois foi isso mesmo que a editora fez. Embora desnecessário para reconhecer o talento do autor, tais notas biográficas são uma delícia de serem lidas. A sensação sempre é da editora prestando uma bela homenagem ao escritor.

Para fechar, não poderiam faltar deliciosos prefácios da obra e os primeiros volumes trazem textos dos professores Marco Antonio Villa e Regina Zilberman, e do romancista Luiz Ruffato. Enfim, a obra vale cada centavo que estão cobrando.

Fico imaginado como os responsáveis da editora "Globo" puderam ser tão míopes e não puderam imaginar uma edição especial assim com tantos aparatos. Economicamente parece ser um projeto viável, embora o mercado editorial brasileiro tenha muitas dificuldades. Isso faria bem inclusive para a própria editora que se mostraria antenada com o atual mercado, que tem mostrado cada vez mais que os leitores vêm notando essas sutis diferenças e valorizando as boas idéias que melhoram o que já é bom. Quando comparo minha edição à nova, não sinto nenhuma pena em trocá-la. Ponto para a "Companhia das Letras".
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