O Prêmio Nobel de Literatura é Justo? Parte IV - Afinal, a Que Conclusão Chegamos?
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Analisando as escolhas já feitas, percebemos que apesar de alguns comentários corretos, muitos estão distorcidos ou não tem qualquer fundamento. Por exemplo, dizem que é mais fácil ganhar um Nobel quem escreve em línguas como inglês, francês ou alemão. Embora isso seja evidente, as pessoas dizem isso como se fosse algo extremamente negativo, quando é apenas um reflexo do mundo em que vivemos. Obras em tais idiomas simplesmente se disseminam mais rápido em países mais influentes e, portanto, têm o poder de causar muito mais impacto do que numa língua menos falada como o português, por exemplo. Conclui-se, portanto, que o idioma é algo que pode aproximar ou distanciar o escritor do prêmio e isto não é necessariamente justo ou injusto, é apenas uma conseqüência. Como exemplo freqüentemente citado de escritores 'injustiçados' pela Academia Sueca, boa parte dos brasileiros citam Guimarães Rosa. Certamente, ele escreveu obras revolucionárias para a literatura brasileira, mas convenhamos: se até para os portugueses a linguagem do brasileiro muitas vezes não é bem compreendida, como esperar que leitores de outros idiomas percebam o que percebemos? Compare, porém, a suposta escolha de Guimarães Rosa com os escritores selecionados na época de valorização dos pioneiros, ou seja, quando o secretário Anders Österling dirigiu a escolha dos prêmios. A comparação parece ser apropriada porque as principais obras de Guimarães Rosa foram lançadas no mesmo período ("Sagarana" em 1946, "Corpo de Baile" e "Grande Sertão: Veredas" em 1956). O que percebemos é que mesmo para um leitor monoglota, que lê e entende apenas o português por exemplo, é possível perceber a evolução literária através das principais obras de Hermann Hesse (premiado em 1946), T. S. Eliot (premiado em 1948) e William Faulkner (premiado em 1949), ou Boris Pasternak (premiado em 1958), John Steinbeck (premiado em 1962) e Samuel Beckett (premiado em 1969). Há uma perda grande na tradução de obras destes autores, mas ainda assim, para nós, tais escolhas fazem sentido - embora possamos até não concordar com tais escolhas. Não sei se é possível dizer o mesmo ao apanhar uma tradução de alguma obra de Guimarães Rosa. Na conclusão deste ponto, podemos verificar uma preocupação cada vez maior da Academia em minimizar esta limitação imposta e, no mundo cada vez mais integrado que vivemos, é de se esperar que de fato a questão do idioma tenha cada vez menos influência para a escolha do escritor.
Outro ponto bastante citado (inclusive por Otto Maria Carpeaux, num ensaio sobre Borges) é que a influência política na escolha é muito grande, razão pela qual alguns escritores foram desprezados. É evidente que isto ocorre, mas não do modo como muitos imaginam. Em primeiro lugar, pela estrutura criada, é impossível acreditar que a Academia simplesmente ignora o resto do mundo, olha para o próprio umbigo e faz uma escolha direcionada para favorecer (ou não favorecer) politicamente algum país. Além do convite para que especialistas do mundo inteiro proponham nomes, ocorrem debates entre os membros antes de qualquer escolha. Também, muitos sobrevalorizam a repercussão política de uma escolha para o prêmio, que convenhamos, é bastante limitada. No entanto, casos que evidentemente trariam problemas para a Academia, foram julgados levando em conta aspectos políticos. Por isso as escolhas no período da Primeira Guerra Mundial foram direcionadas para escandinavos e por isso também que Ezra Pound (que quase foi enforcado por apoiar e colaborar com o regime fascista) foi rejeitado. Dizer portanto que Borges não foi escolhido ou que Sartre foi escolhido simplesmente por aspectos políticos, é deixar de levar em conta uma série de outros aspectos, um ponto de vista, a meu ver, bastante reducionista.
Por fim, é evidente que num período de mais de cem anos, a escolha de muitos escritores poderia ser questionada, mas fazendo as contas, digo que a balança pesa mais para o lado positivo. Grandes escritores foram 'achados' e suas obras se tornaram mais destacadas e acessadas pelo público, deveras um grande mérito para um prêmio cujo objetivo é beneficiar àqueles que mais contribuíram para a evolução da literatura. Se algumas incoerências ocorreram ou algumas exclusões com o tempo se tornaram óbvias, é porque evidentemente nenhum processo, por mais rigoroso que seja, é infalível. E dos prêmios literários que são dados, parece-me que é o da Academia o que mais consegue ampliar nossa visão de o que é boa literatura.
Analisando as escolhas já feitas, percebemos que apesar de alguns comentários corretos, muitos estão distorcidos ou não tem qualquer fundamento. Por exemplo, dizem que é mais fácil ganhar um Nobel quem escreve em línguas como inglês, francês ou alemão. Embora isso seja evidente, as pessoas dizem isso como se fosse algo extremamente negativo, quando é apenas um reflexo do mundo em que vivemos. Obras em tais idiomas simplesmente se disseminam mais rápido em países mais influentes e, portanto, têm o poder de causar muito mais impacto do que numa língua menos falada como o português, por exemplo. Conclui-se, portanto, que o idioma é algo que pode aproximar ou distanciar o escritor do prêmio e isto não é necessariamente justo ou injusto, é apenas uma conseqüência. Como exemplo freqüentemente citado de escritores 'injustiçados' pela Academia Sueca, boa parte dos brasileiros citam Guimarães Rosa. Certamente, ele escreveu obras revolucionárias para a literatura brasileira, mas convenhamos: se até para os portugueses a linguagem do brasileiro muitas vezes não é bem compreendida, como esperar que leitores de outros idiomas percebam o que percebemos? Compare, porém, a suposta escolha de Guimarães Rosa com os escritores selecionados na época de valorização dos pioneiros, ou seja, quando o secretário Anders Österling dirigiu a escolha dos prêmios. A comparação parece ser apropriada porque as principais obras de Guimarães Rosa foram lançadas no mesmo período ("Sagarana" em 1946, "Corpo de Baile" e "Grande Sertão: Veredas" em 1956). O que percebemos é que mesmo para um leitor monoglota, que lê e entende apenas o português por exemplo, é possível perceber a evolução literária através das principais obras de Hermann Hesse (premiado em 1946), T. S. Eliot (premiado em 1948) e William Faulkner (premiado em 1949), ou Boris Pasternak (premiado em 1958), John Steinbeck (premiado em 1962) e Samuel Beckett (premiado em 1969). Há uma perda grande na tradução de obras destes autores, mas ainda assim, para nós, tais escolhas fazem sentido - embora possamos até não concordar com tais escolhas. Não sei se é possível dizer o mesmo ao apanhar uma tradução de alguma obra de Guimarães Rosa. Na conclusão deste ponto, podemos verificar uma preocupação cada vez maior da Academia em minimizar esta limitação imposta e, no mundo cada vez mais integrado que vivemos, é de se esperar que de fato a questão do idioma tenha cada vez menos influência para a escolha do escritor.
Outro ponto bastante citado (inclusive por Otto Maria Carpeaux, num ensaio sobre Borges) é que a influência política na escolha é muito grande, razão pela qual alguns escritores foram desprezados. É evidente que isto ocorre, mas não do modo como muitos imaginam. Em primeiro lugar, pela estrutura criada, é impossível acreditar que a Academia simplesmente ignora o resto do mundo, olha para o próprio umbigo e faz uma escolha direcionada para favorecer (ou não favorecer) politicamente algum país. Além do convite para que especialistas do mundo inteiro proponham nomes, ocorrem debates entre os membros antes de qualquer escolha. Também, muitos sobrevalorizam a repercussão política de uma escolha para o prêmio, que convenhamos, é bastante limitada. No entanto, casos que evidentemente trariam problemas para a Academia, foram julgados levando em conta aspectos políticos. Por isso as escolhas no período da Primeira Guerra Mundial foram direcionadas para escandinavos e por isso também que Ezra Pound (que quase foi enforcado por apoiar e colaborar com o regime fascista) foi rejeitado. Dizer portanto que Borges não foi escolhido ou que Sartre foi escolhido simplesmente por aspectos políticos, é deixar de levar em conta uma série de outros aspectos, um ponto de vista, a meu ver, bastante reducionista.
Por fim, é evidente que num período de mais de cem anos, a escolha de muitos escritores poderia ser questionada, mas fazendo as contas, digo que a balança pesa mais para o lado positivo. Grandes escritores foram 'achados' e suas obras se tornaram mais destacadas e acessadas pelo público, deveras um grande mérito para um prêmio cujo objetivo é beneficiar àqueles que mais contribuíram para a evolução da literatura. Se algumas incoerências ocorreram ou algumas exclusões com o tempo se tornaram óbvias, é porque evidentemente nenhum processo, por mais rigoroso que seja, é infalível. E dos prêmios literários que são dados, parece-me que é o da Academia o que mais consegue ampliar nossa visão de o que é boa literatura.
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