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Pouca gente se deu conta do que realmente aconteceu por ocasião do lançamento mundial do romance "Shalimar, o Equilibrista", de Salman Rushdie na FLIP em Parati. Os jornais, pelo menos as notícias que li, simplesmente se referiram ao lançamento como ocorrendo antes do lançamento nos Estados Unidos. Mas o fato do livro ter sido lançado mundialmente aqui revela uma mudança muito grande no comportamento das editoras brasileiras e aponta para uma evolução e um amadurecimento deste mercado.
Se voltarmos no tempo, em 1988, quando o escritor ficou famoso por causa da obra "Versos Satânicos", que levou-o à condenação à pena de morte pelo aiatolá Khomeini, encontraremos outro cenário: o mundo inteiro queria traduzir e vender a obra que tanto furor causou ao aiatolá. A divulgação da obra pelo mundo inteiro ocorreu rapidamente, o livro se tornou um best-seller, mas no Brasil... bem, o Brasil foi um caso à parte. Os leitores brasileiros somente conseguiram ler a tradução da obra dez anos depois, cujo lançamento foi feito pela editora Companhia das Letras. A situação é semelhante a dona de casa que encontra-se com suas amigas de manhã e não consegue dar nenhuma opinião sobre o capítulo da novela, que ela não viu na noite passada. Tanto foi assim, que quando foi lançado aqui no Brasil, a obra não causou nenhum impacto. Chegou aqui com cheiro de jornal de ontem, cujas notícias não interessam.
De um tempo para cá, porém, alguns sinais inequívocos de vitalidade tem sido apresentados pelo mercado editorial. O exemplo mais recente foi o lançamento de "Memória de Minhas Putas Tristes", de Gabriel Garcia Marquez. A obra entrou para a lista dos livros mais vendidos, antes de ser traduzida. Os leitores simplesmente passaram por cima das regras de mercado e não quiseram esperar: compraram e leram o livro. O lançamento mundial de "Shalimar, o Equilibrista", portanto, longe de ser somente uma notícia de jornal, parece mostrar que as grandes editoras encaram o futuro do seu negócio com otimismo. Querem investir e esperam um bom retorno deste investimento, óbvio. A diferença agora é que, apesar do choro comum de que o 'mercado está em crise', as editoras começam a dar sinais de que investir em livros no Brasil pode dar um bom lucro.
Se o mercado não é o que esperamos - devido a problemas que às vezes nada tem haver com as editoras ou os distribuidores - este evento aponta para uma perspectiva no mínimo otimista. Se as mudanças continuarem, certamente todos vão ganhar com isso: as editoras que poderão ampliar seu mercado e os leitores que encontrarão boas surpresas nas prateleiras das livrarias. É esperar e torcer, Mr. Jones.
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