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22 março 2006

Machado de Assis Esquecido

O Rafael Galvão, em seu blog, publicou uma lista de sonhos de consumo. O primeiro deles, ele descreve assim:

"Uma edição crítica definitiva de Machado de Assis, com texto fixado e notas de rodapé contextualizando as referências históricas e geográficas, introduções com boa apreciação crítica de cada peça e um apêndice com fotos de Machado e do Rio de Janeiro daquela época, em edição bem acabada, com capa dura e sobrecapa elegante."

Este é um item que eu estou procurando faz algum tempo. Não consigo entender como pode um dos mais importantes escritores do país não ter uma coleção para os leitores mais exigentes. Aliás, difícil encontrar uma coleção decente. A que mais se aproxima disso é a edição da editora "Nova Aguilar" que reúne as obras em três volumes, com capa dura e papel Bíblia. A reunião possui alguns inconvenientes: o leitor que quiser ler apenas uma das obras tem que levar várias outras consigo e a diagramação - por causa do formato - é feita com letras pequenas e o espaço entre as linhas é também reduzido. Mas é a melhor que temos. A editora "Globo", no passado, também publicou as obras de Machado de Assis em vários volumes, numa boa coleção, mas que hoje em dia somente é encontrada nos sebos. Eu, assim como o Rafael, ainda não encontrei a coleção que Machado de Assis merecia e, se encontrasse, não hesitaria em adquiri-la. Machado de Assis é assim um escritor que está mais presente nas lixeiras do que nas prateiras de destaque das livrarias.


O que é mais estranho no caso do escritor é que há no país um grande número de leitores interessados na obra. Basta ver o sucesso da nova biografia de Machado de Assis, "Machado de Assis: Um Gênio Brasileiro" de Daniel Piza, que foi resenhada nos principais jornais e revistas do país. Mesmo se este público inexistisse, o MEC (pelo que sei) ainda recomenda a leitura de suas obras aos estudantes do ensino básico e médio. Além dos leitores, estudiosos dos textos de Machado estão em todas as principais faculdades de Letras do país. O número de dissertações e teses sobre o escritor é talvez maior que todos os outros. Por último, os direitos autorais de suas obras já pertencem ao público, segundo a Lei de Direitos Autorais do nosso país. Em resumo: se existe alguma razão para que nenhuma editora se interesse em realizar o trabalho e publicá-lo, eu desconheço.


O tratamento que o país dá a um dos seus maiores escritores - o único considerado gênio por Harold Bloom, um dos mais importantes críticos literários vivos - dá idéia de como o mercado editorial brasileiro ainda precisa se desenvolver. Apenas para comparar, qualquer leitor que apanhe um exemplar da obra de Fernado Pessoa de "Poesia", publicado pela editora "Assírio & Alvim" em Portugal, ficaria espantado em como aquele país cuida bem da obra do escritor que é tão importante para o país como Machado para o Brasil. Definitivamente, o mínimo que esperamos é um mercado editorial que valorize a literatura.
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