Leitores e seus Hábitos Estranhos II - Os Vigilantes dos Sebos
Os alfarrábios, carinhosamente apelidados no Brasil de "sebos", são os lugares mais frequentados pelo leitor voraz. O efeito de uma visita a um sebo é semelhante ao efeito causado por uma visita de sua esposa a um shopping qualquer. Psicologicamente o leitor é aliviado de suas tensões do dia a dia. Economicamente, ele é afligido por uma conta corrente cada vez mais pobre e uma fatura de cartão de crédito cada vez mais alta. Mas ele sempre justifica seus atos de aparente loucura com descrições mirabolantes de aquisições raras. "Este aqui eu procurei durante anos" ou "Por este preço eu não conseguiria encontrar em lugar nenhum" são as respostas prontas já formuladas pelo seu cérebro para justificar os constantes problemas econômicos.
Numa simplificação rasteira, o frequentador de sebos é um comprador compulsivo. Analisando de uma forma mais detalhada, porém, podemos dizer que ele é o cruzamento de um caça-talentos com um arqueólogo. Um headhunter literário. Afinal, é necessário saber não só que obras são importantes e que obras são lixo, mas também que valor pagar por cada uma para sair no lucro. Além disso, é preciso muita disposição e peregrinação para desenterrar uma obra valiosa de uma pilha de livros, ácaros e pó. Quando o sebo monta uma "banquinha" de ofertas a procura beira à baixaria. O vigilante profissional chafurda tudo e é capaz de lutar 12 rounds atrás de um Balzac escondido entre as traças.
Os mais profissionais já têm um mapa mental de sebos a percorrer. Ao tentar encontrar alguma obra, sabe exatamente em qual deles procurar e já supõem que preço irá pagar. Por suas freqüentes visitas, o vigilante muitas vezes se torna amigo do dono do sebo. Assim como o bêbado afoga suas mágoas num bar e conta suas angústias ao garçom, o vigilante, nos seus momentos de desespero, confidencia suas decepções ao atendente. Conta pela enésima vez sobre aquela primeira edição de "Corpo de Baile" que ele teve em suas mãos por uma ninharia e que nunca mais encontrou.
Quando a grana está curta, o vigilante de sebo não se entrega: visita-os assim mesmo. O duro é encontrar justamente aquilo que ele procura a anos e não ter dinheiro para levá-lo. Nestes casos, o vigilante abandona toda a ética e valores e aplica um dos mais sórdidos golpes-de-sebo: troca o livro de lugar, a fim de escondê-lo. Tal tática gera a paranóia-do-sebo: o vigilante vasculha até a última prateleira de ufologia para ter certeza de que o que procura não será achado naquele sebo.
Ver um vigilante com seu rosto transformado, falando sozinho, com um livro na mão, para muitos, é algo incompreensível. Os não-vigilantes não conseguem imaginar o que há de tão especial naquele livro caindo aos pedaços e fedorento. Não compreendem porque muitos trocam um livro novinho duma livraria por um livro velho, mas garimpado dum sebo. Vocês vigilantes que estão me lendo agora, sabem como esta sensação é maravilhosa.
Numa simplificação rasteira, o frequentador de sebos é um comprador compulsivo. Analisando de uma forma mais detalhada, porém, podemos dizer que ele é o cruzamento de um caça-talentos com um arqueólogo. Um headhunter literário. Afinal, é necessário saber não só que obras são importantes e que obras são lixo, mas também que valor pagar por cada uma para sair no lucro. Além disso, é preciso muita disposição e peregrinação para desenterrar uma obra valiosa de uma pilha de livros, ácaros e pó. Quando o sebo monta uma "banquinha" de ofertas a procura beira à baixaria. O vigilante profissional chafurda tudo e é capaz de lutar 12 rounds atrás de um Balzac escondido entre as traças.
Os mais profissionais já têm um mapa mental de sebos a percorrer. Ao tentar encontrar alguma obra, sabe exatamente em qual deles procurar e já supõem que preço irá pagar. Por suas freqüentes visitas, o vigilante muitas vezes se torna amigo do dono do sebo. Assim como o bêbado afoga suas mágoas num bar e conta suas angústias ao garçom, o vigilante, nos seus momentos de desespero, confidencia suas decepções ao atendente. Conta pela enésima vez sobre aquela primeira edição de "Corpo de Baile" que ele teve em suas mãos por uma ninharia e que nunca mais encontrou.
Quando a grana está curta, o vigilante de sebo não se entrega: visita-os assim mesmo. O duro é encontrar justamente aquilo que ele procura a anos e não ter dinheiro para levá-lo. Nestes casos, o vigilante abandona toda a ética e valores e aplica um dos mais sórdidos golpes-de-sebo: troca o livro de lugar, a fim de escondê-lo. Tal tática gera a paranóia-do-sebo: o vigilante vasculha até a última prateleira de ufologia para ter certeza de que o que procura não será achado naquele sebo.
Ver um vigilante com seu rosto transformado, falando sozinho, com um livro na mão, para muitos, é algo incompreensível. Os não-vigilantes não conseguem imaginar o que há de tão especial naquele livro caindo aos pedaços e fedorento. Não compreendem porque muitos trocam um livro novinho duma livraria por um livro velho, mas garimpado dum sebo. Vocês vigilantes que estão me lendo agora, sabem como esta sensação é maravilhosa.
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