A Licença Poética do Tradutor
Não é implicância. Conforme já disse em outro post, uma tradução tem sim suas vantagens. Mas o que eu fico em dúvida é o que dá na cabeça de uma editora em lançar uma grande obra com um título completamente diferente do original? Embora possam existir razões válidas, nunca vi um caso em que isso ocorre. Por exemplo, "Le Grand Meaulnes" em português virou "O Bosque das Ilusões Perdidas". Quem será que teve a genial idéia de "traduzir" o título da obra para algo completamente diferente do que o autor colocou originalmente? Imagino a reunião para decidir o título: o sujeito do marketing dizendo que "O Grande Meaulnes" não ia soar tão bem a primeira vista e que o título deveria ser algo mais comercial. Um ativista aposentado de alguma corrente literária saca logo da manga algo extremamente pomposo, talvez um "A Desilusão Evanescente da Realidade" e um dá um palpite de cá, outro dá um outro palpite de lá e ao final o título vira "O Bosque das Ilusões Perdidas". Pronto. Só o cara que confecciona as capas é que fica pê da vida porque o título ficou grande demais e ele vai ter que apresentar um novo projeto.
A provável explicação para as tão freqüentes licenças poéticas na tradução de títulos, além do fator comercial, pode ser a escassez de leitores do português que sabem qual é o título original da obra e por isso o que a editora inventar não fará diferença. Numa ocasião, encontrei uma referência à obra "Speak, Memory" de Vladimir Nabokov, num artigo escrito em inglês. Fui até o site da editora "Companhia das Letras" para conferir se ela constava no catálogo. Não encontrei. Algum tempo depois, numa livraria folheando um livro do Nabokov, que aparentemente não conhecia, descobri que se tratava justamente de "Speak, Memory". O título se transformou em "A Pessoa em Questão". Simples não é? É como se a editora dissesse: "Bom, como ninguém lê Nabokov nesse país e ninguém nunca ouviu falar em 'Speak, Memory' vamos dar um retoque para que fique mais chamativo."
Em outros casos, a obra já foi traduzida em Portugal. Com isso, o tradutor brasileiro "pega carona" na idéia do outro tradutor e deixa o título como está. Mas com "Speak, Memory" nem isso ocorre. Em Portugal, o título é "Na Outra Margem da Memória". Diferente, mas pelo menos temos uma dica pelo título que se trata da mesma obra. Aliás, as diferenças de tradução do português falado no Brasil e do português falado em Portugal daria assunto para mais um post (já ri muito de confusões, como "chapeuzinho" e "capuchinho" da história infantil, que fazem brasileiros e portugueses não entenderem muito sobre o quê se fala).
Felizmente, o mercado editorial ainda não é dos piores. Na indústria do cinema, os casos já ultrapassaram qualquer limite razoável. Em alguns casos, temos até a surpresa de encontrar o título de um livro sem tradução. O tradutor sabia que nada poderia substituir o impacto do título original, ou talvez comercialmente é melhor simplesmente deixar o título no idioma original. Em outros casos, a tradução é posteriormente melhorada, permitindo uma aproximação com a idéia que o autor quis trazer à tona no título. Foi assim com "Os Possessos", de Dostoiévski, que a "Editora 34" relançou com o título agora traduzido diretamente do russo: "Os Demônios". Isso pode ser um indicativo que nem tudo está perdido.
A provável explicação para as tão freqüentes licenças poéticas na tradução de títulos, além do fator comercial, pode ser a escassez de leitores do português que sabem qual é o título original da obra e por isso o que a editora inventar não fará diferença. Numa ocasião, encontrei uma referência à obra "Speak, Memory" de Vladimir Nabokov, num artigo escrito em inglês. Fui até o site da editora "Companhia das Letras" para conferir se ela constava no catálogo. Não encontrei. Algum tempo depois, numa livraria folheando um livro do Nabokov, que aparentemente não conhecia, descobri que se tratava justamente de "Speak, Memory". O título se transformou em "A Pessoa em Questão". Simples não é? É como se a editora dissesse: "Bom, como ninguém lê Nabokov nesse país e ninguém nunca ouviu falar em 'Speak, Memory' vamos dar um retoque para que fique mais chamativo."
Em outros casos, a obra já foi traduzida em Portugal. Com isso, o tradutor brasileiro "pega carona" na idéia do outro tradutor e deixa o título como está. Mas com "Speak, Memory" nem isso ocorre. Em Portugal, o título é "Na Outra Margem da Memória". Diferente, mas pelo menos temos uma dica pelo título que se trata da mesma obra. Aliás, as diferenças de tradução do português falado no Brasil e do português falado em Portugal daria assunto para mais um post (já ri muito de confusões, como "chapeuzinho" e "capuchinho" da história infantil, que fazem brasileiros e portugueses não entenderem muito sobre o quê se fala).
Felizmente, o mercado editorial ainda não é dos piores. Na indústria do cinema, os casos já ultrapassaram qualquer limite razoável. Em alguns casos, temos até a surpresa de encontrar o título de um livro sem tradução. O tradutor sabia que nada poderia substituir o impacto do título original, ou talvez comercialmente é melhor simplesmente deixar o título no idioma original. Em outros casos, a tradução é posteriormente melhorada, permitindo uma aproximação com a idéia que o autor quis trazer à tona no título. Foi assim com "Os Possessos", de Dostoiévski, que a "Editora 34" relançou com o título agora traduzido diretamente do russo: "Os Demônios". Isso pode ser um indicativo que nem tudo está perdido.
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