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04 maio 2005

Desisto!

A maioria dos bons livros que lemos não saem nunca da nossa cabeça. Uma hora ou outra encontramo-nos numa situação que nos faz lembrar de um diálogo, uma idéia ou uma simples frase daquele livro que não sai da nossa cabeça. Parece que quanto mais nos lembramos dos personagens, da história, de algum item específico do romance, mais gostamos da obra. Isso, como disse, na maioria da vezes. Alguns livros se tornam geniais, justamente por não estarem nesta categoria. Alguns livros são como aquele CD que ou escutamos todo, ou não escutamos. Isso porque não faz sentido ouvir uma ou duas músicas, o consideramos bom porque temos que ouvi todo, não apenas parte. Assim como este CD, alguns livros são excelentes justamente porque se isolarmos as partes, não encontramos nada de especial, mas ao reuni-las o livro não sai de nossa cabeça.

Eu leio, releio, penso e chego a mesma conclusão sempre: "Água Viva" de Clarice Lispector não sai da minha cabeça e eu não sei o porquê. Parece uma melodia musical que ouvimos uma só vez e vamos repetindo-a mentalmente por um longo tempo. Há algum personagem ali que me chama atenção? Não. Existe uma história maravilhosa que nos faz rir, chorar, emocionar-se ou algo do gênero? Não. Enfim, o que existe ali, que faz com que eu considere o livro bom? Não sei. Sei que a primeira vez que eu apanhei o livro e comecei a lê-lo não consegui fechá-lo sem antes terminá-lo. O que me prendeu o tempo todo poderia ser definido como 'curiosidade', mas não é exatamente isso. Na verdade, eu duvidei que ela iria conseguir ir até o final do livro escrevendo da mesma maneira que iniciou e não parei até comprovar que ela realmente conseguiu. Em resumo, não há como separá-lo em partes, o 'todo' é que se destaca. "Água Viva" é talvez o romance mais radical da literatura brasileira, o mais ousado. A minha impressão do romance é que ali está escrito uma luta individual da narradora com seu subconsciente, com o objetivo dela apresentar-se o mais transparente possível para o leitor. A impressão que se tem é que o livro todo foi escrito de uma só vez, mas ao contrário, o texto foi trabalhado exaustivamente e inclusive seu título só foi escolhido nas vésperas de ser publicado.

Este é sem dúvida o livro mais paradoxal que li, se por um lado ele não sai da minha cabeça, por outro não consegui definir o porquê. Gosto demais do texto e pronto. Quanto mais informações procuro sobre ele, menos informado me sinto. Se alguém tem algo a dizer sobre ele fique à vontade em usar a caixa de comentários.
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