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29 agosto 2005

O Literatura Urgente e o Falso Moralismo

Antes de mais nada gostaria de dizer que sou contra o Movimento Literatura Urgente. Sou contra principalmente por duas razões: acho que as propostas do movimento serão ineficazes para o desenvolvimento da literatura e também acho que o problema educacional no Brasil é muito maior do que a falta de acesso dos leitores a escritores. No entanto, a simplificação da questão por parte dos que são contra o projeto, tem me irritado bastante. O problema todo para a maioria dos que discutiram o assunto é o dinheiro público. Reduzem a discussão com a afirmação maniqueísta de que os escritores que assinaram o projeto são um bando de sanguessugas que querem viver de brisa pondo dinheiro público no bolso. Ninguém sequer parou para pensar que assinar um projeto não dá automaticamente o direito do assinante receber qualquer ajuda do governo. O escritor pode até mesmo não pedi-la, embora aprove a iniciativa. E mesmo que peça, critérios que o governo julgar adequados podem classificar o solicitante inapto a receber qualquer subsídio.

O caso mais engraçado da história toda foi uma matéria da revista Veja, onde o repórter Jerônimo Teixeira ataca a iniciativa partindo da simplificação rasteira da questão, dando a entender que dinheiro público não pode ser usado para bancar escritores. Para os que se indignaram ao acreditar na matéria da revista um aviso: dinheiro público pode sim ser dado a qualquer pessoa, inclusive escritores. A pessoa que solicita o subsídio deve provar que aquele dinheiro vai, de algum modo, ser convertido em um benefício público. É dessa forma que, por exemplo, o grupo Abril recebe muito dinheiro público. Como o projeto ainda não foi sequer aprovado, uma crítica tão simplista ao projeto apenas serve para que seus autores sequer tenham a oportunidade de apresentar suas razões e motivações.

O último capítulo do caso foi um grande mal entendido entre a escritora Elvira Vigna e Ademir Assunção, um dos autores do projeto. Tudo começou com um e-mail da filha da escritora Carol Vigna-Marú, que denunciava o uso indevido do nome da escritora numa carta contra a revista Veja. O caso foi divulgado no blog da Cora, que infelizmente ao divulgar o caso, caiu na mesma armadilha da simplificação rasteira 'turma de escritores que anda por aí querendo subvenção do governo para passear e para custear o seu ócio supostamente criativo'. O assunto rendeu, fazendo com que o Ademir Assunção se manifestasse a respeito em seu blog, divulgando inclusive o e-mail de resposta da escritora. Com isso, a Cora fez outro post resumindo o assunto e se desculpando. Mas o que mais me impressionou foi a rapidez de se atribuir más motivações ao responsável pelo projeto. Não conheço o Ademir Assunção, nem a escritora Elvira Vigna, mas não consigo imaginar por que afinal a escritora não contatou o Ademir antes de emitir uma opinião tão forte sobre o assunto? Se o convite foi feito por e-mail, por que não podia ela novamente encaminhar um e-mail pedindo esclarecimentos ou simplesmente dizendo que sua assinatura não deveria constar na proposta?

Enfim, para finalizar, gostaria de propor que vissem o Literatura Urgente de outro modo, que pode parecer um modo de visão ingênuo, mas que reflete meu ponto de vista: imaginemos que os autores têm boas motivações. Daí aqueles que acham importante desenvolver a literatura neste país podem fazer algo, ou seja, opinar a respeito, criticando ou validando as idéias do projeto e não seus autores. Quem sabe através do amplo debate, não surjam novas idéias, bem motivadas, que, se aplicadas, promovam o desenvolvimento cultural deste país?
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