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10 março 2005

Uma Idéia

Imagine uma coleção com vários volumes, reunindo o cânone da literatura brasileira. Bom, o primeiro volume poderia começar com um estudo sobre o início da literatura no Brasil, uma espécie de "História da Inteligência Brasileira" mais resumida e contendo apenas os pontos altos. A coleção poderia ter também uma espécie de 'mapa de épocas', apresentando ano a ano autores e obras mais representativos, junto com dados históricos e fatos marcantes de cada época. Do segundo volume em diante, a coleção traria além das obras, um perfil do autor, sua bibliografia e uma justificativa do porquê de tal autor fazer parte da coleção, ou seja, qual a sua importância para a literatura brasileira. Autores como o padre José de Anchieta, o padre Antônio Vieira, Tomás Antônio Gonzaga, Gregório de Mattos, Olavo Bilac, Catulo da Paixão Cearense, João Simões Lopes Neto, João do Rio, Euclides da Cunha, Antônio José da Silva, fariam parte da obra, mas também Machado de Assis, Lima Barreto, Monteiro Lobato, Graciliano Ramos, Erico Verissimo, Clarice Lispector, João Guimarães Rosa, Autran Dourado e Rubem Fonseca. Seria como aquela excelente coleção "Para Gostar de Ler", só que maior e encadernada em capa dura.

Vamos extrapolar mais um pouco: imagine uma obra como esta sendo editada e publicada por responsabilidade do governo federal. Como sabemos, o governo federal é o maior comprador de livros do país. Tem carta na manga, portanto, para negociar com as editoras os direitos autorais sobre aquelas obras que ainda não caíram em domínio público. Mas imaginemos uma parceria além das editoras. Semelhante ao que ocorreu recentemente, quando a editora Nova Cultural lançou em bancas clássicos com qualidade e um preço bem atraente, o governo poderia estabelecer uma parceria com alguma empresa como a Suzano, por exemplo, e assim reduzir o custo da publicação da coleção. Após isso, a coleção seria distribuída em todas as bibliotecas das escolas públicas e serviria de base para o ensino de literatura no país. O essencial seria mostrar aos alunos porque algum autor considerado "chato" tem seu valor e tentar associá-lo ao período em que a obra foi escrita. Eventualmente então, as escolas poderiam ter aulas integradas, por exemplo literatura e história, ou literatura e geografia, etc.

Obviamente, poderia haver algum problema para os professores menos preparados e com menos recursos. Pois bem, para estes o governo poderia promover uma 'reciclagem' editando também uma espécie de cartilha auxiliar para, por exemplo. sugerir temas e discussões em sala de aula. No nordeste do Brasil, por exemplo, o professor teria como sugestão tentar discutir com os alunos o problema da seca e a obra de Graciliano Ramos. No sul, Erico Veríssimo seria o ponto de partida para uma viagem histórica, onde os alunos buscariam detalhes de eventos como a Guerra dos Farrapos. Enfim, os professores seriam ajudados por associar seus próprios conhecimentos regionais às obras.

Claro que isto é uma simplificação da idéia, existem muitos pontos que poderiam ser ampliados ou modificados. Por exemplo, empresas privadas poderiam formular a coleção com o auxílio do governo e cada obra seria vendida a um preço fixo. Além de servir às bibliotecas de escolas públicas, a coleção poderia também ser colocada no mercado e assim quem quisesse poderia tê-la em casa. O fato, no entanto, é que mesmo sem avaliar detalhadamente se esta idéia seria viável ou não, não percebo muita preocupação por parte da maioria da sociedade (inclusive pessoas não ligadas ao governo ou a algum partido político) de inserir a literatura no dia a dia das pessoas. Todo mundo se preocupa em 'socializar' as pessoas, torná-las 'cidadãs' e eliminar a desigualdade social. Pessoalmente, não acredito que a literatura possa eliminar todos os problemas sociais que existem. Mas ninguém pode dizer que a literatura não tem sua importância. O que eu quero dizer é que uma sociedade acostumada a ler e que sente prazer nesta atividade está muito melhor preparada para, pelo menos, pensar melhor sobre as causas dos problemas. Se a maioria nem apr8endeu ainda a organizar suas idéias, como elas podem reinvindicar e propor soluções para os problemas existentes?
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