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10 maio 2005

Data de Validade

Alguns livros deveriam vir com data de validade. Não que isso tenha grande importância, eu por exemplo muitas vezes vou ao supermercado e compro alimentos com a data de validade próxima do vencimento simplesmente por não me preocupar em olhar a data impressa. Mas pelo menos a editora poderia se defender caso você reclamasse do produto, dizendo que a data estava ali impressa, você é que não se atentou a ela no ato da compra. Afirmo isso porque existem livros que são perecíveis. Não falo do objeto em si, pois todos eles, é claro, se degradam com o tempo. Digo isso pelo seu conteúdo. Alguns livros são simples perda de tempo se forem lidos após a 'data do vencimento'.

Apanhem o livro "Aquele Estranho Dia que Nunca Chega" de Luis Fernando Veríssimo e vocês terão uma idéia do que eu digo. Ali estão reunidas crônicas escritas para os jornais, do período (se não me engano) de 1997 à 1999, sobre política e economia. O problema é que boa parte dos textos são críticas a ações do governo Fernando Henrique e fatos correlacionados da política do período. Quase ninguém se lembra da maior parte dos fatos que são criticados, de modo que os textos parecem escritos por uma criança birrenta que faz pirraça com tudo que o pai fala ou faz. E aqueles fatos que a gente acaba se recordando, quando lemos as críticas, parece que o problema não era assim grande coisa, afinal o tempo atenua tudo. Com isso, quando o autor escreve, não conseguimos mais identificar as ironias contidas no texto. O humor das frases aparece menos e a leitura se torna cansativa. O maior exemplo para mim de que os textos estão num passado longínquo é uma crônica que o autor escreve a respeito da Tiazinha (Tia quem?). No final, surge a sensação de que estamos lendo um jornal velho, com notícias que não farão nenhuma diferença para nós.

As editoras que se arriscam portanto a coletar textos em revistas e jornais de escritores e montarem uma coletânea deveriam sempre se perguntar se aquelas idéias e opiniões, passados dois ou três anos, terão alguma importância. Será que o texto vai ser atraente? Ou será que somente fará surgir aquele comentário: 'Nossa, como estou velho'? No caso de crônicas ou cartas escritas por autores já mortos, a situação é ainda mais delicada. O leitor que comprar o livro poderá ter aquela sensação de que a editora 'raspou a panela' com tudo o que podia e soltou no mercado um livrinho chinfrim só para poder ganhar algum trocado. Ao leitor mais desatento, portanto, fica o aviso: ao entrar numa livraria procure a data de validade no livro. Se dentro do texto você encontrar fatos datados sem qualquer importância num texto afaste-se, no futuro o livro só servirá para lhe ensinar que o tempo passa rápido demais e por isso não vale a pena desperdiçá-lo.
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