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18 abril 2006

Enquanto Leio

Quem nunca comprou um produto exclusivamente por causa da marca? Inconscientemente, há a certeza de que aquele produto satisfará nossos anseios, que aquela marca representa qualidade. Para quem conhece um pouco da obra de William Faulkner, o inicio da leitura de um livro do autor se dá mais ou menos da mesma maneira: uma sensação de qualidade, de um autor que domina plenamente a capacidade de narrar. Às vezes isso pode ser até um pouco prejudicial, uma sensação de que não é preciso ficar atento às qualidades da obra, pois elas são evidentes. De fato, livros como "O Som e a Fúria", "Absalão, Absalão", "Luz em Agosto" e "Enquanto Agonizo" são constantemente citados como verdadeiras obras-primas. Mas ao prestar atenção à medida que lemos tais obras, serve para descobrir qualidades literárias que podem passar por alto.

Quando Faulkner escreveu "Enquanto Agonizo" o mundo já conhecia autores que usavam o 'stream-of-consciousness', um recurso literário bastante interessante (algo como descrever exatamente o pensamento dos personagens, com a desordem típica de um pensamento em formação). De fato, Virginia Woolf e James Joyce são autores exemplares neste tipo de escrita e são lidos e estudados até hoje. No entanto, para o leitor que não está acostumado com a atividade de 'ler' pensamentos, o recurso pode causar estranhamento. Muitos enfadados por descrições nada ordenadas - onde tempo, espaço e formas se misturam -, acabam simplesmente abandonando tais obras em busca de algo mais linear. No entanto, Faulkner em "Enquanto Agonizo" consegue oferecer o mesmo recurso literário complexo de um jeito altamente atraente, irresistível, que nos faz avançar a cada página quase que com voracidade.


"Enquanto Agonizo" tem um enredo aparentemente comum: Addie Bundren, a matriarca da família, está gravemente enferma e todos se preparam para seu funeral. Um pedido feito em seu leito de morte, faz com que os outros membros da família se preparem para viajar até Jefferson, uma cidade vizinha, onde a personagem será enterrada. A aparente simplicidade do roteiro esconde relações complexas entre todos os membros da família e a obra procura refletir isso dum modo poderoso e inovador para a época: cada capítulo da história é narrado em primeira pessoa por algum personagem. São, portanto, várias primeiras pessoas nos informando sobre o que acontece ao seu redor e (claro) em seu interior. O recurso põe em evidência assim o 'stream-of-consciousness' de maneira a enriquecer a narrativa, com um domínio que somente um mestre da literatura mundial poderia exercer.


Faulkner consegue provar assim que não é preciso ser hermético para ser inovador. Inovações podem causar estranhezas, mas podem também ter um efeito atraente para os leitores. Sua literatura pode servir de porta de entrada para outras obras que utilizam o recurso dum modo mais radical e restritivo, principalmente a obra "Enquanto Agonizo". Daí, os que gostarem, poderão passar por outras obras-primas como "O Som e a Fúria", confirmando que a 'marca' Faulkner é um sinal de qualidade. E o que melhor: qualidade esta preocupada em aproximar a literatura dos leitores.

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07 abril 2006

Links

Três textos excelentes, desses que a gente imprime e guarda na nossa gaveta de favoritos:
"Sei que soa antipático e bastante pedante dizer isso, mas a covardia não é algo que eu cultive, então, vamos lá: o leitor é, em geral, bastante idiota. Mesmo os mais esclarecidos dentre eles. Há uma tendência, em nosso tempo, de seguir uma moda. Por conseqüência, os gostos se parecem tanto quanto os maus-gostos. Tudo é padronizado e planificado. Dificilmente o leitor foge da opinião mais comum. Aliás, a própria idéia do leitor como uma entidade digna de defesa é monstruosa em sua concepção, porque nivela a todos de acordo com parâmetros discutíveis do que é leitura aceitável ou não."

Leia "A culpa dos leitores" no site do Paulo Polzonoff.

Sobre a biografia de Truman Capote, o Rafael Lima diz:
"Sobraram uma ou duas histórias realmente interessantes, como quando ele ganha várias quedas de braço seguidas de Humphrey Bogart durante as filmagens de Beat the Devil, ou quando clama ter levado para a cama o escritor existencialista Camus, notório mulherengo, mas a impressão é de que foi pouco para as 400 páginas."

O texto completo está aqui.

E Julio Daio Borges conta-nos suas impressões ao ler Guimarães Rosa:
"Foi no início de 2002, logo depois do ano novo. Eu estava na praia, e nem sei se fazia tempo ruim ou bom, só sei que me embrenhei no Grande Sertão. Minha primeira reação foi xingar todos aqueles que haviam superestimado as dificuldades apresentadas pela linguagem: a linguagem era difícil, sim, mas não era impossível! Depois de algumas páginas, ela adquiria uma lógica própria, e você se pegava raciocinando que nem o Riobaldo, no seu célebre monólogo. Tanto que fui ler outra coisa, naquela mesma época, e, quando encarei um texto em ordem direta, parecia que estava tudo de cabeça pra baixo. Como um óculos – que os físicos dizem que existe – que “desinverte” as imagens projetadas, de cabeça pra baixo, na sua retina, e que, quando você tira, – de tão acostumado que o cérebro está – inverte o mundo todo. Depois de mergulhar no Riobaldo, não adianta, seu português é outro. Eis um dos grandes mistérios do Guimarães Rosa. Como ele conseguiu produzir esse efeito? E como ele (o efeito) foi reproduzido nas traduções?"

Leia "Minha história com Guimarães Rosa" clicando aqui.

Não precisam me agradecer.

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03 abril 2006

Xerox de Livros em Discussão

Assunto polêmico, o jornal "O Globo" aborda dois lados: a pouco verba que as Universidades possuem para a compra de livros e o prejuízo que o xerox pode causar às editoras.

Leia os textos aqui, aqui e aqui.
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