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29 novembro 2006

Lançamento do Livro da Olivia


Embora não poderei estar presente, recomendo enfaticamente. Quem conhece o blog da Olivia, sabe por quê. Vale a pena.

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28 novembro 2006

O Livro Eterno

Se tivesse que apostar num livro a ser eternamente escrito, escolheria "O Homem Sem Qualidades". Embora quando ouve-se a expressão "livro eterno", normalmente julga-se o eterno sob o ponto de vista do leitor, referindo-se a um livro que é lido e relido por leitores de toda época, imagino, ao contrário, que seria muito mais difícil um livro eterno do ponto de vista do escritor. E nesse sentido, acho que se Robert Musil tivesse vida eterna, provavelmente ele passaria sua eternidade escrevendo e reescrevendo "O Homem Sem Qualidades". Nunca um livro teve tamanha capacidade de – utilizando um termo da matemática – tender ao infinito. Quando alcançamos as páginas finais da obra, a sensação é de que nosso tato está nos enganando. Parece que não faltam apenas poucas páginas, e sim muitíssimas, uma história que se desenrolará por anos de leitura.



Paradoxalmente, "O Homem Sem Qualidades" é uma irrealização, um livro que fala sobre a incapacidade de alcançar um ideal, uma história onde nada de muito significativo acontece. Há sempre uma fervorosa discussão com o objetivo da construção de uma Ação Patriótica, que será um evento de genialidade ímpar, um evento composto das mais brilhantes mentes de um país, com o objetivo de imortalizar um povo e uma época, mas onde nunca nada acontece. Sempre as discussões se dispersam e a sensação de incapacidade ronda a todos à medida que o tempo passa e se aproxima a data para o anúncio do conteúdo do evento. Aos olhos dos que não participam das discussões, o que se fala durante as reuniões da tal Ação Patriótica representa talvez uma oportunidade única para a imortalidade. Sugestões de várias áreas são enviadas e os responsáveis por tais sugestões torcem para que sua idéia seja escolhida e assim possam participar do que parece ser a maior realização do saber humano. Quem faz parte, porém, sabe que nada acontece de extraordinário, tudo o que a primeira vista parece ser brilhante, com o tempo exala e se perde no ar.

Curiosamente também, "O Homem Sem Qualidades" foi deixado inacabado por Musil e talvez parte da responsabilidade desta sensação de eternidade da história seja causada por seu formato inacabada. Alguns fragmentos escritos, mas não revisados, fazem crer que toda a discussão seria severamente interrompida pela entrada da Primeira Guerra Mundial no cenário otimista da época. Mesmo assim, o livro que se encontra disponível ao leitor hoje leva a crer que se fosse da vontade de Musil, a história poderia permanecer incompleta por toda a eternidade. Parece que sempre haveria o que escrever. Com disse antes, somente uma parte dessa sensação de eternidade pode ser motivada pela sua imcompletude. Também há o rigor extremo com que Musil conduz a história, levando o leitor a ler o texto, não no ritno que deseja, mas no ritmo que o autor quer. Em suma, até o infinito, se assim fosse possível.

Imaginar um livro sendo escrito eternamente parece ser algo terrível também ao se pensar em outro aspecto. Reconhecendo o arquiteto cuidadoso do texto que era Musil, possivelmente o leitor sentiria essa mesma sensação de imcompletude da obra, afinal sempre haveria uma ausência no texto - o processo de leitura é mais rápido que o processo de escrita. Por mais páginas que Musil escrevesse - e ele era cuidadoso ao fazê-lo -, sempre haveria um leitor aguardando a continuidade da obra. E quando olhamos para dentro dela, a sensação não é diferente. Parece que o texto sempre cresce, tomando todas as direções, logrando nossos sentidos e nos fazendo reconhecer que ali está um texto de uma amplitude grandiosa demais. É como tentar imaginar quantos copos dágua são necessários para comportar todo um oceano. Musil, no fim das contas, possivelmente conseguiria produzir o mesmo efeito grandioso por toda eternidade. Algo que além de admirável, é assustador.

Não sei até que ponto isso pode ser positivo, do ponto de vista do autor. Musil parece que foi atormentado enquanto viveu por este monstro; uma obra que cobrava todo seu tempo, que exigia todo seu esforço de trabalho, que exigia, enfim, a eternidade para sua composição. Imaginar um autor sendo consumido e consumindo todos os seus recursos na realização de uma única obra é como imaginar um Sísifo condenado a rolar sua pedra eternamente. Um escravo de sua vontade de sublimação, sem nenhuma garantia de que seu esforço pudesse ter efeito. Mas ao lermos "O Homem Sem Qualidades" descobrimos o quanto é difícil resistir a esse monstro. Se no papel de leitores, somos levados a pensar na obra pelo tempo em que vivemos, imagine se fôssemos tomados por sua idéia original, sua gênese. Difícil não nos imaginarmos também transformados em Sísifos com tinta e papel.

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22 novembro 2006

Eu Admito

Também sou um louco lunático que coloca um livro hermético de 1120 páginas na minha wish list. Não tenho dinheiro, mas não custa sonhar né? Pois é, o novo Pynchon já está a venda e eu não o trocaria por nenhuma torradeira.

Pronto, falei.

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06 novembro 2006

A Moda das Autobiografias Polêmicas

Mais uma. Agora do Saramago dizendo que foi salazarista.

"O episódio está descrito na página 131 da pequena autobiografia, que conta a infância e juventude de Saramago. Em 1936, quando começava a Guerra Civil Espanhola, ele, jovem estudante de uma escola industrial, leu nos jornais sobre o conflito, acompanhou o desenrolar dos combates e percebeu que estava sendo ludibriado pelos militares reformados que censuravam a imprensa. Essa foi a razão por que, mandado pelos colegas ao Liceu de Camões para apanhar sua farda verde e castanha da Mocidade Portuguesa, deu um jeito de ficar no fim da fila até que se esgotasse o estoque das malditos barretes e calções de Salazar."

Matéria do jornal "O Estado de São Paulo". Leia mais aqui. E uma entrevista com Saramago, no mesmo jornal, aqui.

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Machado de Assis Lá Fora

"O senhor reconhece que Machado é um escritor de estatura internacional, mas que é difícil justificar isso a um leitor estrangeiro. Por que o mundo se curva a Proust e a Joyce, e não a Machado? Problemas de tradução ou de interpretação?

Andei pensando neste problema ao escrever um ensaio sobre a tradução de Machado para um concurso, e ao dar aula na UFSC em Florianópolis sobre tradução no ano passado. Há muitos fatores, e a tradução faz parte, sem dúvida - falando só do inglês, há ao menos duas traduções vergonhosas, uma de Dom Casmurro (que omite 8 ou 9 capítulos), e outra, mais recente, de Memórias Póstumas de Brás Cubas, pelo famoso tradutor Gregory Rabassa, que cochilou em grande estilo. Mas as traduções dos anos 50, as primeiras, são boas, melhoráveis sem dúvida, mas boas. Não sei até que ponto a interpretação afeta a divulgação do autor - seria legal pensar que a publicação em tradução inglesa do livro de Roberto Schwarz sobre Brás Cubas afetasse, e pode ser que afete, mas a longo prazo. Para simplificar, podemos comparar Machado, não com escritores do século 20, mas com os russos contemporâneos dele. Esses escritores também vinham da periferia do mundo cultural da época, mas tiveram enorme impacto na civilização ocidental - Gogol, Turgueniev, Tolstoi, Dostoievski, Chekhov... - um dos segredos pode ser justamente o fato de serem muitos, e de Machado ser um só. Os russos se entreiluminam, podemos dizer, e o leitor pouco a pouco vai entrando nesse mundo social e político (a servidão, a burocracia, o regime autoritário...) e no âmbito cultural, de ideologias como o eslavofilismo, o niilismo, etc. Todos entraram em conjunto, vamos dizer, e um escritor reduzia a estranheza do outro. Machado não só está praticamente sozinho - nem na América Latina há nada parecido -, ele é encoberto, esconde as coisas de um jeito necessário, constitutivo podemos dizer, à ficção dele, e que dificulta a sua abordagem."


Entrevista do ensaísta inglês John Gledson, autor do livro "Por um Novo Machado de Assis" ao jornal Estado de São Paulo. A entrevista completa pode ser lida aqui.
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