Novo Livro do Saramago
Entrevista no jornal "O Globo" com José Saramago, que hoje está aqui em Belo Horizonte lançando seu novo livro "As Intermitências da Morte".
Literatura - tudo e mais um pouco.
Entrevista no jornal "O Globo" com José Saramago, que hoje está aqui em Belo Horizonte lançando seu novo livro "As Intermitências da Morte".
A minha primeira reação ao ouvir o anúncio de Pinter como o escritor ganhador do prêmio Nobel de Literatura do ano foi negativa. Nada contra o autor ou a academia, mas sim por saber que grande parte do trabalho do autor foi para o teatro. Embora meus conhecimentos de teatro sejam quase nulos – dos clássicos do teatro brasileiro, li apenas alguns, em especial Dias Gomes, e quanto aos estrangeiros, pouco, quase tudo Beckett -, coloco os textos num patamar menor. Explico: sinto bastante falta de um narrador quando leio qualquer peça de teatro. No teatro, ninguém olha de soslaio, ninguém sente um cheiro ocre, nenhuma paisagem é arrebatadora. O modo econômico como a ação é conduzida, às vezes dá a sensação de que o ritmo é sempre muito rápido. Daí, quando assistimos à peça sendo bem encenada, o texto parece se transformar. Num romance isso, na maior parte das vezes, não acontece. Primeiro, porque a criação visual não é necessariamente o mais importante. Segundo, porque o narrador, quando aparece no romance, funciona como um controlador do fluxo do texto, enquanto que no teatro, quando um narrador aparece, é apenas mais um personagem. Para o teatro, o narrador é completamente desnecessário.
Apesar de tudo isso, saí à procura de alguma peça de Pinter para conhecer seu trabalho. Encontrei a tradução de Millôr Fernandes da peça “Volta ao Lar”, duma coleção antiga chamada “Teatro Vivo”, da editora Abril. A primeira impressão é que o texto tem muitas semelhanças com o texto de Samuel Beckett. A peça conta a história de um filho que volta ao lar depois de seis anos e isso faz com que o ambiente familiar violento, se torne ainda pior. A diferença parece ser que nas peças de Beckett o absurdo é sempre apresentado de modo bem escancarado (Lucky amarrado pelo pescoço, obedecendo as ordens de Pozzo em “Esperando Godot”, ou o cego Hamm explorando suas vítimas em “Fim de Partida”) enquanto o absurdo na obra de Pinter parece mais escondido (o texto se refere não a mendigos ou vagabundos como em Beckett, mas sim a uma família). Apesar disso, o efeito não é amenizado, a estranheza é semelhante aos textos de Beckett.
“Volta ao Lar” foi escrita em 1964, quando o autor já escrevia roteiros para o cinema, e pouco tempo depois, Pinter declarou em entrevistas que se dedicaria a peças mais curtas – “Paisagem”, peça de 1968, quando encenada, dura cerca de trinta minutos apenas e “Noite”, uma peça minúscula, sete. Em 1969, o escritor adaptou o romance “O Mensageiro” (The Go-Between) para o cinema e o filme levou a Palma de Ouro em Cannes em 1971. Além disso, Pinter também escreveu para rádio e televisão e foi condecorado com a Ordem do Império Britânico. Um escritor que realmente trabalhou muito durante toda sua vida, recebeu um bom reconhecimento por todo este trabalho e é, aparentemente, bem visto pelo público. Com isso, o que se pode dizer contra a escolha da Academia Sueca? Esperamos apenas que não demore muito para que as editoras brasileiras publiquem outros bons trabalhos do escritor.
O pop parece ser o patinho feio dentre os estilos. Apreciar música erudita neste país tão cheio de pessoas sem informação, é tido como 'elitismo', enquanto pessoas que ouvem música chamada brega são rotuladas como ignorantes. Já a música pop, com todas as suas variações, ora é apreciada, ora é execrada. A linha é sempre tênue e falar sobre cultura pop, de um modo ou de outro, tende a desagradar um bom número de pessoas. Embora boa parte das pessoas não admita, mas em algum momento da vida a pessoa gostar de algo e com o tempo passou a não gostar justamente por ser muito pop. Pessoalmente, foi-se o tempo em que eu acreditava que poderia ou amar ou odiar tudo do chamado 'mundo pop'. Admito gostar do que alguns consideram de má qualidade, mas também não acho que devo engolir qualquer coisa somente para ter alguma 'autoridade' para criticar o que quer que seja. Por isso, quando li o livro de Tony Parsons, "Disparos do Front da Cultura Pop", às vezes sentia grande interesse, outras passava os olhos de um modo bem desinteressado sobre ensaios e entrevistas de personagens que entraram na cena britânica da cultura pop.