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30 outubro 2005

Novo Livro do Saramago

Entrevista no jornal "O Globo" com José Saramago, que hoje está aqui em Belo Horizonte lançando seu novo livro "As Intermitências da Morte".

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21 outubro 2005

Mais Uma Lista

Desta vez da revista Time. As cem melhores novelas em inglês de 1923 até hoje. Claro que não vou falar que é perfeita, mas que tem muitos bons livros, isso tem.

Dica do Nemo Nox.

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20 outubro 2005

Harold Pinter – O Ganhador do Prêmio Nobel de Literatura 2005

A minha primeira reação ao ouvir o anúncio de Pinter como o escritor ganhador do prêmio Nobel de Literatura do ano foi negativa. Nada contra o autor ou a academia, mas sim por saber que grande parte do trabalho do autor foi para o teatro. Embora meus conhecimentos de teatro sejam quase nulos – dos clássicos do teatro brasileiro, li apenas alguns, em especial Dias Gomes, e quanto aos estrangeiros, pouco, quase tudo Beckett -, coloco os textos num patamar menor. Explico: sinto bastante falta de um narrador quando leio qualquer peça de teatro. No teatro, ninguém olha de soslaio, ninguém sente um cheiro ocre, nenhuma paisagem é arrebatadora. O modo econômico como a ação é conduzida, às vezes dá a sensação de que o ritmo é sempre muito rápido. Daí, quando assistimos à peça sendo bem encenada, o texto parece se transformar. Num romance isso, na maior parte das vezes, não acontece. Primeiro, porque a criação visual não é necessariamente o mais importante. Segundo, porque o narrador, quando aparece no romance, funciona como um controlador do fluxo do texto, enquanto que no teatro, quando um narrador aparece, é apenas mais um personagem. Para o teatro, o narrador é completamente desnecessário.

Apesar de tudo isso, saí à procura de alguma peça de Pinter para conhecer seu trabalho. Encontrei a tradução de Millôr Fernandes da peça “Volta ao Lar”, duma coleção antiga chamada “Teatro Vivo”, da editora Abril. A primeira impressão é que o texto tem muitas semelhanças com o texto de Samuel Beckett. A peça conta a história de um filho que volta ao lar depois de seis anos e isso faz com que o ambiente familiar violento, se torne ainda pior. A diferença parece ser que nas peças de Beckett o absurdo é sempre apresentado de modo bem escancarado (Lucky amarrado pelo pescoço, obedecendo as ordens de Pozzo em “Esperando Godot”, ou o cego Hamm explorando suas vítimas em “Fim de Partida”) enquanto o absurdo na obra de Pinter parece mais escondido (o texto se refere não a mendigos ou vagabundos como em Beckett, mas sim a uma família). Apesar disso, o efeito não é amenizado, a estranheza é semelhante aos textos de Beckett.

“Volta ao Lar” foi escrita em 1964, quando o autor já escrevia roteiros para o cinema, e pouco tempo depois, Pinter declarou em entrevistas que se dedicaria a peças mais curtas – “Paisagem”, peça de 1968, quando encenada, dura cerca de trinta minutos apenas e “Noite”, uma peça minúscula, sete. Em 1969, o escritor adaptou o romance “O Mensageiro” (The Go-Between) para o cinema e o filme levou a Palma de Ouro em Cannes em 1971. Além disso, Pinter também escreveu para rádio e televisão e foi condecorado com a Ordem do Império Britânico. Um escritor que realmente trabalhou muito durante toda sua vida, recebeu um bom reconhecimento por todo este trabalho e é, aparentemente, bem visto pelo público. Com isso, o que se pode dizer contra a escolha da Academia Sueca? Esperamos apenas que não demore muito para que as editoras brasileiras publiquem outros bons trabalhos do escritor.

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18 outubro 2005

Disparos Certeiros

O pop parece ser o patinho feio dentre os estilos. Apreciar música erudita neste país tão cheio de pessoas sem informação, é tido como 'elitismo', enquanto pessoas que ouvem música chamada brega são rotuladas como ignorantes. Já a música pop, com todas as suas variações, ora é apreciada, ora é execrada. A linha é sempre tênue e falar sobre cultura pop, de um modo ou de outro, tende a desagradar um bom número de pessoas. Embora boa parte das pessoas não admita, mas em algum momento da vida a pessoa gostar de algo e com o tempo passou a não gostar justamente por ser muito pop. Pessoalmente, foi-se o tempo em que eu acreditava que poderia ou amar ou odiar tudo do chamado 'mundo pop'. Admito gostar do que alguns consideram de má qualidade, mas também não acho que devo engolir qualquer coisa somente para ter alguma 'autoridade' para criticar o que quer que seja. Por isso, quando li o livro de Tony Parsons, "Disparos do Front da Cultura Pop", às vezes sentia grande interesse, outras passava os olhos de um modo bem desinteressado sobre ensaios e entrevistas de personagens que entraram na cena britânica da cultura pop.


O maior elogio que se pode fazer ao autor é que ele é exagerado quando escreve. E uma das grandes virtudes de se ser exagerado é que se é, ao mesmo tempo, divertido. Por incrível que pareça, boa parte da mídia do Brasil esqueceu-se de como é ótimo ser divertido ao exagerar em suas opiniões. Não me refiro a graça que alguns vêem quando Diogo Mainardi fala em acabar com o governo Lula, ou de Luís Fernando Veríssimo quando retrata o inusitado do mundo comum. Falo a respeito de ele ser elegantemente divertido. Consegue tratar figuras famosíssimas da música como 'chapas', sem, no entanto, parecer um desses jornalistas irritantes e bajuladores que se acham no dever de aparecer mais que seu entrevistado. Numa entrevista com Johnny Cash, para vocês terem uma idéia, ele dá ao entrevistado uma moeda comemorativa de Winston Churcill porque sabe que Cash coleciona moedas. Em troca uma entrevista insossa dessas de cinco minutos que os jornalistas estão acostumados a fazer se transforma num ótimo papo despreocupado. Num outro relato, é capaz de encontrar Robert Plant num showzinho (desses que ninguém nunca imagina ver uma figura como Robert Plant), sorrir, entrevistá-lo rapidamente e escrever depois algo como "Muito amigável, esse Robert Plant".

Outro grande mérito do exagero de Parsons é conseguir apresentar argumentos razoáveis de modo inesperado, quando o assunto é polêmico. O livro possui uma sessão denominada "Polêmica", que é onde o autor consegue escrever suas opiniões de forma (além de polêmica, claro) franca. Num artigo entitulado "Lixo das Ruas", o autor fala do problema dos mendigos na Inglaterra (um problema comum para os que moram em qualquer grande centro urbano de nosso país) colocando frases duras, de um modo bastante sensato. Um exemplo disso é quando diz num trecho:

"Os mendigos desfiguram a cidade, degradam o espírito. Eles desumanizam você, assim como a si mesmos; eles embrutecem a todos. Você aprende a passar reto por essas pessoas porque precisa, e isso acaba tornando mais fácil virar o rosto para quem realmente precisa. Esses sanguessugas profissionais, alguns deles são sujeitos bem robustos, endurecem o seu coração, fazem calos na sua alma. Eles fazem qualquer pedido de ajuda parecer um folheto promocional."

Numa outra sessão do livro, sobre viagens, o exagero de Parsons se transforma em entusiasmo. Ele é capaz de falar de uma cidade não como uma construção cheia de concreto, ferro e vidro, mas sim como um enigma a ser desvendado. Seu entusiasmo o faz procurar por pistas nos lugares mais inusitados: o Daley Plaza em Chicago, um trem-bala no Japão ou o Cimitero Monumentale em Milão. E o que ele encontra nesses lugares são retratos que talvez passem por alto até mesmo aos que vivem em tais cidades. Retratos pintados por um observador sagaz.

A leitura do livro de Parsons permite-nos apreciar a qualidade dos disparos dados pelo autor numa direção arriscada: o pop, que traduzindo, corresponde à fronteira entre o bom e mau gosto. Mesmo quando não gostamos ou não conhecemos a figura retratada por Parsons, o tiro atinge seu alvo. Em meio a tantos artigos da mídia que apenas nos dão sono, os textos reunidos na obra indicam que é possível ainda encontrarmos ótimos disparos dados na direção certa.

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16 outubro 2005

Retorno

Estou de volta após alguns dias de sol e mar. As malas ainda estão no chão, portanto tenham um pouco de paciência. Quanto ao Nobel, vou logo adiantando que não li nada ainda do sujeito. E quanto as leituras, bem, aproveitei a folga para ler 3 livros que realmente gostaria de comentar um pouco. Aos meus amigos que mandaram e-mails durante o período, por favor - e mais uma vez -, um pouco de paciência: são 185 e-mails das mais diversas naturezas (e alguns até um pouco sobrenaturais!) e deverão ser lidos durante a semana.

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06 outubro 2005

Torres de Letras

Em outubro de 1985, quando a Academia Sueca concedeu o Prêmio Nobel de Literatura a Claude Simon, boa parte das pessoas ao redor do mundo se perguntava: "Mas, afinal, quem é Claude Simon?". É possível que hoje, duas décadas depois do anúncio, ainda um grande número de leitores se faça a mesma pergunta. Grande parte da responsabilidade é do próprio autor e a outra grande parcela fica por conta das editoras brasileiras. Embora editado por aqui em 1986 pela editora "Nova Fronteira", já faz algum tempo que sua obra-prima, o romance "A Estrada de Flandres" se encontra esgotado. Uma prova de que o prêmio, que muitos afirmam servir para distinção no mundo literário, não ajuda tanto assim a chamar atenção às obras de um escritor. Sua morte recente passou praticamente despercebida, anunciada nos principais jornais do Brasil apenas numa notinha entre tantas que passam pelos nossos olhos sem nos determos.

Claude Simon, um mestre dentre os ficcionistas franceses surgidos a partir de 1955, soube tirar proveito de algo que geralmente afasta os leitores: o tédio. Por isso, pode-se dizer que é também sua a responsabilidade pelo desconhecimento de suas obras. Um leitor curioso que porventura apanhasse um livro de Simon da prateleira de uma livraria poderia se assustar com parágrafos de quinze páginas ou mais. O leitor mais atento já percebeu que muitas vezes, onde existem páginas inteiras cobertas de letras, existe também um tédio descritivo muito grande. Daí, ao invés de se arriscar, procura outro livro. O que a maior parte desses leitores ainda não descobriu é que isso pode sim ser algo bom.

Simon, como poucos, fez da experimentação uma massa de modelar, que ia tornando do formato que desejava. O livro "A Estrada de Flandres" conta a respeito de um oficial francês derrotado numa batalha em 1940, que vai conduzindo sua tropa pela estrada de Flandres até ser morto por um atirador alemão. Simon, na obra, faz questão de jogar fora uma das principais peças de um grande romance, o tempo, e procura nos contar a história como uma sucessão de eventos sobrepostos, desfazendo assim as noções de passado, presente e futuro. Se você imagina que o romance é complexo, acertou. Mas, boa parte dos livros que apreciamos, nos conquistaram exatamente por serem construídos por uma teia complexa de inventividade, não é?

Quanto ao tédio dos parágrafos longos, bom, imagine o seguinte: a história de um oficial derrotado, que viu grandes atrocidades ao seu redor, abandonado em um lugar qualquer, de forma indiferente por seus superiores, poderia gerar que tipo de sensações? Simon usa sua fórmula de romance para se concentrar em transmitir aquele clima que vive o personagem, mais do que os fatos lineares de sua história. O escritor usa a literatura para explorar toda dor e todo sofrimento por trás da guerra e faz isso perfeitamente, consolidando sua imagem de grande ficcionista. Então, antes de se afastar das torres de letras escritas por Simon, lembre-se de que, como na guerra, grandes torres foram feitas para serem conquistadas.

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04 outubro 2005

A Satisfação do Desejo que Não Sabemos Bem Qual É: Parte I - Livros Novos

Encontrar uma caixa fechada em nossa porta de manhã, abri-la e descobrir dentro dela um livro novo, com aquela capa preguiçosa, que insiste em permanecer fechada, como se estivesse sendo acordada de um bom sono. Daí nossos dedos continuam a revistar a obra. O título é escrito em relevo? Então queremos percorrê-lo. A capa é dura? Damos algumas batidas com a ponta do indicador e escutamos o som oco produzido. A ordem é folheá-lo e escutar o som das folhas separando-se uma das outras e depois dos cadernos separando-se dos outros cadernos. O manuseio da obra faz subir um leve vento que carrega até nossas narinas o cheiro de novo do objeto. Enquanto isso, nossos olhos parecem hipnotizados, querem percorrê-lo todo, de uma só vez. E brilham.

Se comprar livros novos é uma de suas paixões, você sabe o que a descrição acima quer dizer. A variação se dá apenas no modo como o livro chega às suas mãos: se você comprou-o numa livraria, a primeira frase começará com você retirando-o duma sacola plástica ou de um belo embrulho. Mas o prazer que vem depois é o mesmo – ou às vezes maior (já vi alguns perderem o sono após a compra de um bom livro, por causa da felicidade). Mas em meio à infinidade de livros que habitam em nossa imaginária (ou também real) lista de desejos, nem sempre sabemos exatamente qual escolher. Eis então o grande problema: partindo da suposição que nossos recursos financeiros são limitados, que livro satisfará nosso desejo quando não sabemos exatamente que desejo é este?

A resposta rápida poderia nos levar a um equívoco, fazendo-nos igualar contentamento e satisfação. Vez por outra, aos que amam comprar livros, ocorre algo assim: após a compra, o livro é colocado na estante (talvez porque estamos lendo outro no momento) e depois completamente esquecido. Apesar do contentamento inicial da aquisição, percebemos que aquele não era o ‘momento’ para a leitura da obra. A aquisição, assim, não produz satisfação. Portanto alguns pontos devem permear nossas escolhas ao passear pelas prateleiras de livros (reais ou virtuais).

Primeiro acredito que a menos que você goste de apostar, adquirir lançamentos quase sempre se converte (no máximo) em um leve contentamento. O principal motivo é que logo que uma obra é lançada, muita propaganda é feita para que você adquira o produto. Assim, você não tem real idéia do que o livro é. A cada semana, um novo best-seller ‘completamente revolucionário’ é lançado e a grande maioria, no fim do mês, já é convertido no mais novo livro inútil de sua estante. Assim costumo privilegiar livros que estão na minha lista de desejos há mais tempo. Ligado a isso, embora reconheça ser bem difícil, procuro separar alguns aspectos estéticos e avaliá-los em separado. Por exemplo, uma boa capa é excelente, mas ser levado a comprar um livro completamente estranho somente por causa da capa é o caminho mais curto para a decepção. Aspectos estéticos servem apenas como ‘critério de desempate’ e separá-los antes de tomar uma decisão pode salvar-nos de comprar um livro que depois servirá apenas como apoio para os papéis da mesa.

Também ocorre, vez por outra, que adquirimos um livro maravilhoso que fica esquecido por muito tempo na estante. Aí, num belo dia, surge um ‘insight’, começamos a ler o livro e nos perguntamos por que se passou tanto tempo sem que apreciássemos seu maravilhoso conteúdo. Daí concluímos que um bom modo de satisfação é rever nossa estante e procurar desencalhar aquelas obras que num dado momento chamou tanto nossa atenção que acabamos por comprá-la. Numa época em que o dinheiro nos falta, esta pode ser uma ótima opção para se encontrar aquilo que não sabíamos que procurávamos.
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