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30 agosto 2006

Finalistas do Prêmio Portugal Telecom 2006


"O antinarciso", de Mário Sabino (Record)


"Cachorros do céu", de Wilson Bueno (Planeta)


"Cinzas do Norte", de Miltom Hatoum (Companhia das Letras)


"Duas praças", de Ricardo Lísias (Editora Globo)


"A história dos ossos", de Alberto Martins (Editora 34)


"Margem de manobra", de Cláudia Roquette Pinto (Aeroplano)


"O mundo inimigo", de Luiz Ruffato (Record)


"Parte alguma", de Nelson Ascher (Companhia das Letras)


"Quase uma arte", de Paula Glenadel (Cosac Naify)

"A vida agarrada", de Claudia Ahimsa (edição da autora)

A escolha dos três vencedores está marcada para o próximo dia 20 de novembro. Notícia da Folha.

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Morre o prêmio nobel egípcio de Literatura Naguib Mahfuz

"O escritor egípcio e Prêmio Nobel de Literatura Naguib Mahfuz morreu hoje num hospital do Egito, aos 95 anos de idade, informou a agência "Mena"."

Notícia do Uol.

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21 agosto 2006

A Influência de Dogmas na Tradução da Bíblia

A Bíblia é um grande livro, que todos deveriam ler por uma série de motivos. Se você for religioso, deve saber que grande parte dos religiosos de nosso país se dizem cristãos e, se afirmam isso, pressupõe-se que tenham a Bíblia como guia principal de suas crenças religiosas. Se você se interessa pela história de nossa civilização, deve saber que a Bíblia é o livro que mais influenciou o Ocidente e que seu domínio e influência servem para justificar uma série de costumes atuais, não necessariamente religiosos. Se você simplesmente gosta de boas histórias e boa literatura, existe ali uma série delas, que satisfazem aos mais variados leitores.

A Bíblia, no entanto, é lida mais freqüentemente apenas através de traduções, já que a maioria dos brasileiros desconhece idiomas tais como o hebraico, o aramaico e o grego. Com uma boa tradução isso não necessariamente pode representar um grande problema – embora claro, como toda tradução, o acesso ao texto se torne apenas uma aproximação e alguns detalhes podem ser perdidos. Mas, tratando-se de um texto base para um número tão grande de religiosos, fica a dúvida se os dogmas e pensamentos destes - que são exteriores ao texto original - influenciam as decisões do tradutor. Infelizmente, o que se nota na maioria das vezes, é um esforço do tradutor em fazer com que idéias que se desenvolveram em períodos posteriores ao da escrita original, sejam sugeridas na tradução. Pior, em alguns casos, usam notas explicativas para assinalar uma idéia que não está no texto. Um recurso que confunde o leitor que não compartilha da mesma idéia.

Uma das traduções em português mais elogiadas, a "Bíblia de Jerusalém", foi realizada, segundo consta na apresentação da nova edição, revista e ampliada de 2002, "por uma equipe de exegetas católicos e protestantes", ou seja, um grupo de tradutores com pensamentos e conceitos religiosos que poderiam direcionar a tradução para algum aspecto que não se encontra no texto original. Também, a contracapa da tradução nos informa que a edição tem "aprovação eclesiástica" e cita uma carta protocolar da CNBB. É difícil imaginar que o texto possa ser tão bem recepcionado pelos religiosos sem nenhuma influência.

Pode-se citar, como exemplo claro disso, o conceito da imortalidade da alma, que é ensinado pela maioria dos religiosos que se afirmam cristãos. A palavra traduzida em português como alma, é 'nefesh' em hebraico e 'psyché' (ou 'psyké') em grego. Segundo o dogma religioso, todo ser humano possui uma alma separada do corpo, imaterial e imortal. Essa idéia não está contida no texto original da Bíblia, mas sim, conforme a própria "Bíblia de Jerusalém" informa na nota sobre o texto da segunda carta aos Coríntios capítulo 5 versículo 8, "essa expectativa de felicidade da alma separada do corpo deve-se a uma influência do pensamento grego". De fato, a idéia é bastante explorada por Platão, no "Fédon". Um conceito, portanto, posterior ao texto bíblico. Mas apesar de reconhecer isso, o que os tradutores fazem em todo o texto é omitir a palavra 'alma' quando há a idéia de mortalidade, substituindo-a por uma série de termos incorretos, e deixando-a sempre onde a idéia de imortalidade pode ser sugerida.

A começar pelo Gênesis, por exemplo, a tradução do texto do capítulo 2, versículo 7, diz:
"Então Iahweh Deus modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente."
Apesar da nota ao pé da página reconhecer a palavra 'nefesh' no texto hebraico original, o termo é traduzido como 'ser vivente' e não como 'alma vivente'. Por quê? Provavelmente porque o uso da palavra 'alma' acarretaria reconhecer que o texto afirma que Deus não fez uma criatura que possuía uma alma imaterial, mas diz que a própria criatura era uma alma.

Outro exemplo onde ocorre a palavra hebraica é no livro de Ezequiel, capítulo 18, versículo 4, que é traduzido:
"Todas as vidas (nefashohth) me pertencem, tanto a vida do pai, como a do filho. Pois bem, aquele (nefesh) que pecar, esse morrerá."
Embora neste texto o termo apareça duas vezes e, sem dúvida, está ligado à idéia de mortalidade, a tradução é feita dum modo que o leitor não conseguisse chegar a essa mesma idéia. Neste caso a tradução não usa sequer uma nota para esclarecer ao leitor que a palavra hebraica foi traduzida dum modo diferente.

A incongruência da tradução do termo fica evidente quando há no texto grego citações do texto hebraico. Veja a tradução do livro de Atos, capítulo 2, versículo 27:
"porque não abandonarás minha alma no Hades..."
Este texto é uma citação do Salmo 16, versículo 10, que na mesma tradução diz:
"pois não abandonarás minha vida no Xeol..."
Por que os textos não são traduzidos da mesma forma? Provavelmente porque no livro de Atos a idéia de imortalidade pode ser sugerida, mas não no texto do Salmo. Daí, como forma de corroborar a tradução influenciada, o leitor encontra na nota do texto da primeira carta aos Coríntios, capítulo 15, versículo 44, a informação de que o termo grego psyché "pode designar... até mesmo o ser espiritual e imortal" e cita como 'comprovação' disso justamente o texto de Atos transcrito acima.

Evidentemente, toda religião tem o direito de ditar e divulgar seus dogmas e o fiel pode acreditar ou não nestes. A crítica aqui não é feita à religião ou ao dogma, mas sim às opções utilizadas pelos tradutores em adequar o texto original às suas próprias crenças. Não é papel do tradutor interpretar qualquer texto e sim torná-lo o mais fiel possível ao original. No caso citado, qualquer tradutor com algum conhecimento do texto original bíblico concordará que em nenhum trecho deste existe a expressão "alma imortal", embora a palavra "alma" apareça centenas de vezes.

Para que o leitor tenha uma idéia mais clara do texto, a recomendação é que procurem ter acesso ao maior número de traduções possível. Compare-as, assinalando as diferenças existentes e procurando esclarecer o porquê de tais diferenças. Traduções clássicas, como a "King James" em inglês, também ajudam. Quanto às notas religiosas, é preciso sempre um cuidado especial. A dúvida sempre serve como método de esclarecimento.

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18 agosto 2006

Novamente o Salão do Livro de BH 2006

O que mais me chamou atenção no Salão do Livro foi realmente perceber que a literatura argentina ainda é bastante desconhecida por aqui (ainda falarei mais sobre o assunto neste blog). Conforme disse no post anterior, a primeira palestra do Martín Kohan estava vazia, apesar do escritor ser ótimo e de provar isso lá. Pois bem, voltei no dia seguinte onde Kohan estaria na mesa-redonda junto com Paloma Vidal. Antes, porém, fui ouvir João Gilberto Noll falar de sua obra, um escritor que não gosto muito, mas que é bastante elogiado pela crítica.

Pois bem, Noll falava sobre sua literatura, que possui algo chamado de "movimento bipolar forte", onde a "ausência é tão importante quanto o que se apresenta" e, a certa altura, o entrevistador perguntou sobre como ele lidava com as críticas positivas, se estas serviriam para aplainar sua radicalidade. Bem, pensei, por que não falar das críticas negativas, que é algo muito mais interessante? Não resisti e depois da palestra perguntei ao autor. Apesar de dizer que realmente não liga, lembrei-lhe dum caso sobre uma crítica bastante negativa do livro "Lorde". A explicação dada é que ele voltava de Londres, passava um momento difícil e por isso reagiu realmente de modo muito forte, mas que não se devia a crítica em si, mas ao momento. Ok. Noll falou ainda sobre seu novo livro de contos, que se chamará segundo ele "A Máquina de Ser". Falou do seu propósito de escrever uma tetralogia (que segundo ele tem como primeira obra o já lançado "Berkeley em Belaggio").

De lá até a mesa, foi uma história que merece um livro. Imaginando que haveria apenas algumas pessoas, qual não foi minha surpresa ao observar um número absurdo de pessoas tentando um lugar no evento. O tema da mesa era "A criação literária no período da repressão política". Paloma Vidal começou lendo um texto, onde falava sobre o Colectivo de Acciones De Arte (CADA), um grupo artístico que procurou levar a arte aos espaços públicos, e a escritora Diamela Eltit. Depois Martin Kohan falou de suas experiências com a ditadura na Argentina. Falou de três períodos: o primeiro da ditadura em si (1976 a 1983), o segundo, o período imediatamente posterior, onde os textos literários explicitamente procuravam confrontar a ditadura, e o último, o período mais recente, quando a ficção quer apenas sugerir o período da ditadura, realçando assim o clima misto de paranóia e torpeza existente então.

Conforme disse no início, pude perceber que a literatura argentina é praticamente desconhecida por aqui. No fim da mesa, a maioria das perguntas foi dirigida ao escritor argentino, mas tratando apenas dos aspectos da repressão da ditadura, não da literatura em si. Uma pena, pois ambas as apresentações poderiam ter gerado discussões excelentes sobre literatura. Após a mesa, pude conversar brevemente com a Paloma sobre a literatura chilena contemporânea, o movimento McOndo que procura desfazer o estereótipo de que América do Sul é sinônimo de realismo fantástico.

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Update: Sai a Lista da Bravo no Site

A revista "Bravo!" publicou em seu site a lista que a revista considera como "100 livros essenciais" da literatura brasileira. São as obras abaixo:
1. MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS, Machado de Assis
2. DOM CASMURRO, Machado de Assis
3. VIDAS SECAS, Graciliano Ramos
4. OS SERTÕES, Euclides da Cunha
5. GRANDE SERTÃO: VEREDAS, Guimarães Rosa
6. A ROSA DO POVO, Carlos Drummond de Andrade
7. LIBERTINAGEM, Manuel Bandeira
8. LAVOURA ARCAICA, Raduan Nassar
9. A PAIXÃO SEGUNDO G.H., Clarice Lispector
10. MACUNAÍMA — O HERÓI SEM NENHUM CARÁTER, Mário de Andrade
11. LIRA DOS VINTE ANOS, Álvares de Azevedo
12. O TEMPO E O VENTO, Erico Verissimo
13. MORTE E VIDA SEVERINA, João Cabral de Melo Neto
14. VESTIDO DE NOIVA, Nelson Rodrigues
15. SERAFIM PONTE GRANDE, Oswald de Andrade
16. CRÔNICA DA CASA ASSASSINADA, Lúcio Cardoso
17. OS ESCRAVOS, Castro Alves
18. O GUARANI, José de Alencar
19. ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA, Cecília Meireles
20. TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA, Lima Barreto
21. SÃO BERNARDO, Graciliano Ramos
22. LAÇOS DE FAMÍLIA, Clarice Lispector
23. SERMÕES, Padre Vieira
24. AS MENINAS, Lygia Fagundes Telles
25. SAGARANA, Guimarães Rosa
26. NOVA ANTOLOGIA POÉTICA, Mário Quintana
27. NAVALHA NA CARNE, Plínio Marcos
28. A OBSCENA SENHORA D, Hilda Hilst
29. NOVA ANTOLOGIA POÉTICA, Vinícius de Moraes
30. BRÁS, BEXIGA E BARRA FUNDA, Antônio de Alcântara Machado
31. PAULICÉIA DESVAIRADA, Mário de Andrade
32. I-JUCA PIRAMA, Gonçalves Dias
33. BAÚ DE OSSOS, Pedro Nava
34. A VIDA COMO ELA É, Nelson Rodrigues
35. A ALMA ENCANTADORA DAS RUAS, João do Rio
36. ESTRELA DA MANHÃ, Manuel Bandeira
37. OBRA POÉTICA, Gregório de Matos
38. GABRIELA, CRAVO E CANELA, Jorge Amado
39. MARÍLIA DE DIRCEU, Tomás Antônio Gonzaga
40. CLARO ENIGMA, Carlos Drummond de Andrade
41. MAR ABSOLUTO, Cecília Meireles
42. MALAGUETA, PERUS E BACANAÇO, João Antônio
43. O PAGADOR DE PROMESSAS, Dias Gomes
44. NOITE NA TAVERNA, Álvares de Azevedo
45. ROMANCE D’A PEDRA DO REINO E O PRÍNCIPE DO SANGUE DO VAI-E-VOLTA, Ariano Suassuna
46. BAGAGEM, Adélia Prado
47. VIVA O POVO BRASILEIRO, João Ubaldo Ribeiro
48. MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS, Manuel Antônio de Almeida
49. CARTAS CHILENAS, Tomás Antônio Gonzaga
50. CANAÃ, Graça Aranha
51. MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE JOÃO MIRAMAR, Oswald de Andrade
52. A COLEIRA DO CÃO, Rubem Fonseca
53. ESPUMAS FLUTUANTES, Castro Alves
54. UM COPO DE CÓLERA, Raduan Nassar
55. A ESTRELA SOBE, Marques Rebelo
56. POEMA SUJO, Ferreira Gullar
57. LUCÍOLA, José de Alencar
58. O ATENEU, Raul Pompéia
59. FOGO MORTO, José Lins do Rego
60. O QUINZE, Rachel de Queiroz
61. SEMINÁRIO DOS RATOS, Lygia Fagundes Telles
62. INVENÇÃO DE ORFEU, Jorge de Lima
63. TERRAS DO SEM FIM, Jorge Amado
64. BROQUÉIS, Cruz e Souza
65. O ENCONTRO MARCADO, Fernando Sabino
66. A MORENINHA, Joaquim Manuel de Macedo
67. MORANGOS MOFADOS, Caio Fernando Abreu
68. O EX-MÁGICO, Murilo Rubião
69. O PICAPAU AMARELO, Monteiro Lobato
70. AS METAMORFOSES, Murilo Mendes
71. HARMADA, João Gilberto Noll
72. ÓPERA DOS MORTOS, Autran Dourado
73. O CORTIÇO, Aluísio Azevedo
74. A ESCRAVA ISAURA, Bernardo Guimarães
75. 200 CRÔNICAS ESCOLHIDAS, Rubem Braga
76. O VAMPIRO DE CURITIBA, Dalton Trevisan
77. O CORONEL E O LOBISOMEM, José Cândido de Carvalho
78. OS RATOS, Dyonélio Machado
79. O ANALISTA DE BAGÉ, Luis Fernando Verissimo
80. FEBEAPÁ, Stanislaw Ponte Preta
81. O HOMEM E SUA HORA, Mário Faustino
82. CATATAU, Paulo Leminski
83. OS CAVALINHOS DE PLATIPLANTO, José J. Veiga
84. AVALOVARA, Osman Lins
85. EU, Augusto dos Anjos
86. O QUE É ISSO, COMPANHEIRO?, Fernando Gabeira
87. O BRAÇO DIREITO, Otto Lara Resende
88. QUARUP, Antonio Callado
89. A SENHORITA SIMPSON, Sérgio Sant’Anna
90. TREMOR DE TERRA, Luiz Vilela
91. ZERO, Ignácio de Loyola Brandão
92. GALVEZ, IMPERADOR DO ACRE, Márcio Souza
93. VIVA VAIA, Augusto de Campos
94. GALÁXIAS, Haroldo de Campos
95. INOCÊNCIA, Visconde de Taunay
96. POESIAS, Olavo Bilac
97. O TRONCO, Bernardo Élis
98. O URAGUAI, Basílio da Gama
99. JUCA MULATO, Menotti del Picchia
100. CONTOS GAUCHESCOS, João Simões Lopes Neto

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17 agosto 2006

Pesquisa

Você já leu algum autor da literatura argentina?

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Primavera dos Livros em São Paulo

"De fato, a Primavera dos Livros nasceu justamente com a finalidade de apresentar ao público editoras cujos catálogos se distanciam de certas facilidades mercadológicas. Neste ano, por exemplo, 90 expositores representando as chamadas médias e grandes vão apresentar seu catálogo diferenciado e com descontos que variam entre 20% e 40%. "São opções nem sempre encontráveis nas grandes livrarias", diz Mary Lou. "Não promovemos lançamentos, pois nossos títulos sempre estão à disposição.""

O "Estadão" fala sobre a Primavera dos Livros, um evento que é uma boa opção para você comprar seus livros se estiver em São Paulo. Mais informações podem ser encontradas no site do evento.

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16 agosto 2006

A Polêmica & Grass

Autobiografia de Günter Grass sai antecipadamente

"Grass admitiu pela primeira vez, na última sexta-feira, em entrevista publicada pelo jornal "Frankfurter Allgemeine Zeitung", ter feito parte da Waffen-SS, o corpo de elite militar do regime nazista, pouco antes do final da 2.ª Guerra Mundial."


Notícia do "Estadão". Quem lê este blog a algum tempo sabe que eu nunca fui fã do Grass. Essa revelação parece só ter como objetivo fazer estourar as vendas de sua autobiografia. Mais um na sociedade do espetáculo.

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14 agosto 2006

Martin Kohan no 7º Salão do Livro


Como já anunciado aqui, quinta-feira, dia 10, começou o 7º Salão do Livro de Belo Horizonte. Estive na Serraria Souza Pinto e fiquei surpreendido pelo número pequeno de visitantes em comparação ao ano passado. A programação, em compensação, é uma das melhores que já montaram. Ontem (em pleno domingo), foi possível ouvir o simpático Martin Kohan sem confusão ou brigas para pegar uma senha para o evento, que são distribuídas uma hora antes de cada palestra. Pelo contrário, assustei-me quando o acesso ao pavilhão Mário Palmério foi liberado e somente alguns poucos entraram. O serviço de tradução simultânea também tentou achar um meio adequado para não interromper a cada frase o escritor, mas por fim acabou por deixá-lo falar em espanhol, sem traduzir nada. Não chegou a ser um problema já que o autor fala dum modo pausado, tornando fácil a assimilação das idéias.

A palestra começou com a entrevistadora Graciela Ravetti de Gomes perguntando sobre a obra "Duas Vezes Junho" e sua famosa frase inicial. Para quem não conhece a frase é "A partir de qué edad se puede empesar a torturar a un niño?" - na tradução a frase é "A partir de que idade se pode comesar a torturar uma criança?". O conteúdo, que deveria causar grande impacto, é completamente ignorado pelo recruta que a encontra, que se preocupa apenas com o erro ortográfico na frase.

Kohan falou sobre suas experiências durante a ditadura argentina, que começou quando o autor tinha apenas nove anos e que por isso, cresceu sem ter muita idéia da atmosfera de horror e medo que pairava sobre a nação. Falou também sobre o futebol e seu papel na propagação de idéias nacionalistas, idéias que serviam a ditadura. Por exemplo, citou que influenciado pela propaganda, muitos argentinos juram que viram a Copa de 78 em cores, embora esta não foi transmitida em cores para o país. Na obra, fala-se de duas derrotas argentinas: na Copa de 78 e 82. Segundo o autor, escrever sobre as derrotas e não sobre a vitória, era uma maneira de levantar a memória.

Por último, quando perguntado se haveria algum problema em se escrever textos de crítica literária e ficção, o escritor respondeu com muita naturalidade, dizendo que não há uma divisão de antes e depois, mas sim um funcionamento mais dinâmico.

Após a palestra conversei com o escritor sobre as similaridades entre os dois países e perguntei a ele sobre como ele vê os problemas de distribuição e disseminação da literatura argentina em nosso país. Na opinião dele o problema não se restringe apenas ao eixo Brasil-Argentina, mas a toda América do Sul, com as exceções de sempre. Também, na opinião do escritor, um grande problema é a falta de boas revistas populares de literatura, algo que no Brasil não chega a ser tão grave como em outros países e citou a revista Cult, que ele disse conhecer e gostar.

Kohan fala novamente hoje, junto com Paloma Vidal, na mesa-redonda cujo tema é “A criação literária no período da repressão política”. Quem quiser procurar mais informações sobre literatura latino-americana poderá encontrar, por exemplo, um texto que considero básico da Paloma chamado "Diálogos entre Brasil e Chile - Em torno às novas gerações", publicado no livro "A Literatura Latino-Americana do Século XXI" que fala inclusive sobre Alberto Fuguet, outro escritor que participará do Salão do Livro neste ano. Logo mais, às 18 horas, João Gilberto Noll será o entrevistado. Se você estiver em Belo Horizonte, não pode perder. Estarei lá e amanhã direi como foi. Se quiser saber mais sobre a programação entre no site do Salão do Livro clicando aqui.

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Jornalistas & Literatura

"Em sua opinião, há uma intersecção entre a linguagem jornalística e a narrativa ficcional?

Sim, de alguma maneira, mas não gostaria de receber notícias de um literato nem ler uma novela produzida por um jornalista. Se for cruzar uma ponte com meu carro, quero ter certeza de que ela foi construída por um engenheiro.
"

Jonathan Safran Foer, em entrevista para o "Estadão". Leia a entrevista completa aqui.

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10 agosto 2006

A Lista da "Bravo!". Essencial?

A revista "Bravo!", neste mês, lançou um número especial com o que ela classifica como os 100 livros essenciais da literatura brasileira de todos os tempos. O critério da escolha é descrito no site da revista:

"Embora tenha sua inevitável dose de subjetividade, a seleção feita nesta edição, contudo, está longe de ser arbitrária. Não foram desprezados — na relação geral e na ordem — os livros que, em seus vários gêneros — romance, poesia, crônica, dramaturgia —, ajudaram a construir a identidade da literatura nacional. Nem foram deixados de lado aqueles destacados pelas várias correntes da crítica, muito menos os que a própria BRAVO!, na sua missão de divulgar o que de melhor tem sido produzido na cultura brasileira, julgou merecer."

Infelizmente a lista não foi publicada na internet, então o leitor tem que comprar a revista (que é ainda mais cara do que as edições normais). Abaixo, sem pensar muito, relacionei algumas obras que NÃO fazem parte da lista da "Bravo!". Se você comprar a revista e perceber que não existe uma obra que você colocaria, pode usar a caixa de comentários para citá-la (talvez cheguemos a 100 livros):

A Bagaceira - José Américo de Almeida
Abama - Samuel Rawet
A Casa da Água - Antônio Olinto
Água Viva - Clarice Lispector
A Hora da Estrela - Clarice Lispector
A Imaginária - Adalgisa Néri
Alto da Compadecida - Ariano Suassuna
A Lua Vem da Ásia - Campos de Carvalho
Amanuense Belmiro - Ciro dos Anjos
Amar, Verbo Intransitivo - Mário de Andrade
A Marquesa de Santos - Paulo Setúbal
A Menina Morta - Córnelio Penna
Angústia - Graciliano Ramos
Anjo de Pedra - Otávio de Faria
A Orelha de Van Gogh - Moacyr Scliar
Bom Crioulo - Adolfo Caminha
Cartas, Fragmentos Históricos e Sermões - Padre José de Anchieta
Casa-Grande & Senzala - Gilberto Freyre
Cascalho - Herberto Sales
Cego e a Dançarina - João Gilberto Noll
Centauro no Jardim - Moacyr Scliar
Choque das Raças - Monteiro Lobato
Corpo de Baile - João Guimarães Rosa
Corpo Vivo - Adonias Filho
Dois Irmãos - Milton Hatoum
Dona Guidinha do Poço - Manuel de Oliveira Paiva
Doramundo - Geraldo Ferraz
Ermos e Gerais - Bernardo Ellis
Espelho Partido (trilogia) - Marques Rebelo
Feliz Ano Novo - Rubem Fonseca
Grande Mentecapto - Fernando Sabino
Histórias Reunidas - Aníbal Machado
Homem - Aluísio Azevedo
Hospício é Deus - Maura Lopes Cançado
Inferno é Aqui Mesmo - Luiz Vilela
Iracema - José de Alencar
Juiz de Paz na Roça - Martins Pena
Lições de Abismo - Gustavo Corção

Lugar Público - José Agrippino de Paula
Marcoré - Antônio Olavo Pereira
Margarida La Roque - Dinah Silveira de Queiroz
Maria de Cada Porto - Moacir Lopes
Memórias de um Gigolô - Marcos Rey
Menino de Engenho - José Lins do Rego
Minha Formação - Joaquim Nabuco
Missionário - Inglês de Souza
Monstro - Sérgio Sant'anna
Nariz do Morto - Antônio Carlos Villaça
Nove Noites - Bernardo Carvalho
Nove Novena - Osman Lins
Os Corumbás - Amando Fontes
Os Tambores de São Luís - Josué Montello
Pirotécnico Zacarias - Murilo Rubião
Presença de Anita - Mário Donato
Quase Memória, Quase Romance - Carlos Heitor Cony
Quincas Borba - Machado de Assis
Risco do Bordado - Autran Dourado
Rua do Sol - Orígenes Lessa
Sargento Getúlio - João Ubaldo Ribeiro
Sentimento do Mundo - Carlos Drummond de Andrade
Terreno Baldio - José Geraldo Vieira
Terreno de uma Polegada Quadrada - Samuel Rawet
Transamérica - José Agrippino de Paula
Turbilhão - Coelho Neto
Um Homem sem Rosto - Olímpio Monat
Vila dos Confins - Mário Palmério


Bem, pelo menos a lista da "Bravo!" tem "O Que é Isso Companheiro?" (!?)

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08 agosto 2006

Prêmio Jabuti 2006

Acaba de sair a lista dos vencedores do prêmio Jabuti. Para mim, nenhuma surpresa: Milton Hatoum e seu belíssimo romance "Cinzas do Norte", a biografia de Carmen Miranda, a tradução genial de Mamede Mustafá Jarouche (talvez a categoria com o maior número de excelentes candidatos deste ano) e os "Contos Negreiros" de Marcelino Freire, estão entre os vencedores.

Uma curiosidade: Milton Hatoum tem três romances publicados e todos eles ganharam o prêmio (todos merecidíssimos): "Relato de um Certo Oriente", melhor romance de 1990, "Dois Irmãos", melhor romance de 2001 (também eleito numa pesquisa recente o melhor romance brasileiro dos últimos 25 anos) e agora em 2006 este "Cinzas do Norte".


Veja abaixo as classificações. A lista completa pode ser lida aqui:

Romance

1º Cinzas do Norte
Milton Hatoum
Companhia das Letras

2º Meninos no Poder
Domingos Pellegrini
Editora Record

Menino Oculto
Godofredo de Oliveira Neto
Editora Record

3º Olho de Rei
Edgard Telles Ribeiro
Editora Record

Biografia

1º Carmen - uma Biografia
Ruy Castro
Companhia das Letras

2º Orestes Barbosa- Repórter, Cronista e Poeta
Carlos Didier
Agir Editora

3º Machado de Assis: um Gênio Brasileiro
Daniel Piza
Imprensa Oficial

Teoria/crítica literária

1º O Local da Diferença
Márcio Seligmann-Silva
Editora 34

2º Fragmentos de uma Deusa
Giuliana Ragusa
Editora da Unicamp

3º Clarice Lispector Com a Ponta dos Dedos
Vilma Arêas
Companhia das Letras

Tradução

1º Livro das Mil e uma Noites
Mamede Mustafa Jarouche
Editora Globo

2º A Balada do Velho Marinheiro
Alípio Correia de Franca Neto
Ateliê Editorial

3º Ulisses
Bernardina da Silveira Pinheiro
Editora Objetiva

Poesia

1º Vestígios
Affonso Romano de Sant`anna
Rocco

2º Elegia de Agosto
Ruy Espinheira Filho
Bertrand Brasil

3º Gaiola Aberta
Domingos Pellegrini
Bertrand Brasil

Contos e Crônicas

1º Contos Negreiros
Marcelino Freire
Editora Record

2º Histórias Mal Contadas
Silviano Santiago
Rocco

3º A Hora Extrema
Mário Araújo
Editora 7letras

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07 agosto 2006

7º Salão do Livro & Encontro de Literatura de Belo Horizonte

Já está no ar a programação completa do 7º Salão do Livro & Encontro de Literatura de Belo Horizonte. O tema deste ano é a literatura do Mercosul. Os destaques são os escritores brasileiros Luís Fernando Veríssimo (10/08), Bartolomeu Campos de Queirós (11/08), Marcelo Xavier (12/08), João Gilberto Noll (14/08), Marçal Aquino (17/08), Affonso Ávila (19/08) e Antônio Barreto (20/08), e os sul-americanos, Martin Kohan (13/08), da Argentina; Alberto Fuguet (15/08), do Chile; Renée Ferrer (16/08), do Paraguai, e Pablo Roca (18/08), do Uruguai, além do argentino Ricardo Piglia no dia 15/08.

Para acessar o site clique aqui. A programação completa pode ser visualizada aqui.

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Links para Hoje

1 - Duas entrevistas que valem a pena:
Primeiro Ricardo Piglia fala sobre o leitor, assunto de seu novo livro "O Último Leitor".

"Como o senhor imagina o leitor de hoje?

PIGLIA: Por um lado lemos muito mais, a internet nos faz ler o tempo todo. A leitura (na internet) é uma forma de mediação particular na sociabilização de hoje, estamos muitas horas conectados e vendo circular textos. Isso iniciou um processo de modernização muito particular, ainda não sabemos muito bem o que fazer com tudo isso. Quando o livro apareceu foi a mesma coisa. Sempre existe a reação de setores que afirmam que a novidade vai arruinar a cultura e outros dizem que é a solução. Os apocalípticos e os integrados. Eu não sou apocalíptico. Acho que a literatura responde à lógica da paixão e a paixão não é algo que possa ser calculado como uma estatística. Não acredito que o presente seja sempre pior do que o passado."


Entrevista publicada no jornal "O Globo", que pode ser lida aqui.

No mesmo caderno d'O Globo, Mario de Carvalho fala sobre seu livro "Um deus passeando pela brisa da tarde".

"O livro, escrito em 1994, aborda uma civilização em crise às voltas com as invasões bárbaras e com o questionamento de crenças religiosas. Houve intenção de fazer um paralelo com a sociedade contemporânea?

CARVALHO: Impossível deixar de fazer comparações com os tempos presentes porque a natureza do homem é a mesma, e os grandes temas — o amor, o dinheiro, a morte, o poder — são os que ainda hoje nos motivam. Conflitos, guerras, jogos de poder e de interesses, mal-entendidos, erros de apreciação têm acompanhado estes escassos cinco mil anos de História. Até quando será assim? Não sei. Temos estado ferozmente, dramaticamente embutidos nisto a que se pode chamar "condição humana". As analogias que existem entre as várias épocas não as inventei. Elas lá estão, ainda a falar em nome das debilidades da construção humana, e a colocar-nos sistematicamente em frente do espelho."


A entrevista completa está aqui.

2 - No "El Pais" o assunto é o humor na literatura e como esta qualidade é, para muitos críticos, um defeito. Um trecho:

"A pesar de que la risa es un atributo exclusivamente humano, la literatura de humor nunca ha gozado de reconocimiento. La tragedia, aristocrática y cercana al poder, siempre se ha considerado de mayor altura que la comedia, irreverente y popular. Con todo, clásicos como Cervantes, Quevedo o Rabelais serían incomprensibles sin sus gotas de ironía."

Leia "La mala fama del buen humor" clicando aqui.

3 - Por último, mas não menos interessante, Joe Queenan, do New York Times, fala sobre o vício da leitura de vários livros ao mesmo tempo:

"I used to think that I kept stopping and starting books because I could never find the right one. Untrue. All these books are the right one. It’s the fact that all these books are generally so good that makes me stop reading them, as I am in no hurry to finish; the bad ones I whip through in a few hours. The problem is, there are just too many good books. Reading is like being in a candy shop, or the Frick: Just because you love the Rembrandts and the Van Dycks doesn’t mean you shouldn’t be tempted by the Titians and Bellinis."

O divertido texto "Why I Can’t Stop Starting Books" pode ser lido aqui.

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04 agosto 2006

O Entrelaçamento de Culturas na Obra de Gombrowicz

No ensaio intitulado "O Romance Polonês" (o texto original em espanhol pode ser lido aqui), publicado no livro "Formas Breves", Ricardo Piglia faz uma leitura de "Ferdydurke" a partir dos problemas culturais de um autor que pertence a uma cultura secundária, escrevendo numa língua marginal, o polonês. Numa comparação com "Transatlântico", denominado no ensaio como "um dos melhores romances escritos neste país" (i.e., a Argentina) e o primeiro escrito após o exílio de Witold Gombrowicz, Piglia sugere que o escritor, além de retomar as questões culturais de "Ferdydurke", consegue também ampliar suas observações, certamente influenciado pelo novo ambiente - deslocado do cenário europeu - e pelo cruzamento das duas línguas: o polonês e o espanhol. Piglia enaltece a obra desse grande escritor e destaca a importância e a influência dela para a literatura argentina.


Apesar de "Ferdydurke" ser uma das principais obras do modernismo europeu, por aqui nunca recebeu o devido mérito. De fato, o escritor e suas obras são praticamente ignorados pelo mercado editorial brasileiro. Por isso, é uma ótima notícia o lançamento de "Ferdydurke" pela "Companhia das Letras", traduzido diretamente do polonês. Ao começar a lê-lo, o leitor talvez se recorde de Kafka, mas ao invés de um inseto metamorfoseado, Józio - o personagem principal do romance - 'torna-se' um adolescente e é sequestrado - e aqui a comparação talvez seja à Alice de Lewis Carroll - por um professor que o leva a um estranho colégio. Mas qualquer comparação entre esses escritores serve apenas como uma aproximação: a obra de Gombrowicz possui um humor incomparável, presente em imagens grotescas. É o absurdo, contado numa linguagem também absurda e divertida.

A obra se sobressai já pelo título, que, como Susan Sontag observa no prefácio que acompanha a tradução, "significa... nada" pois não há nenhum personagem com esse nome no texto. Um título que parece uma provocação, um mistura de escolha aleatória e deliberada; uma tentativa de conexão entre uma estranha cultura polonesa e o resto do mundo. Gombrowicz, assim como Joseph Conrad, Samuel Beckett e Vladimir Nabokov, transitou entre dois idiomas, o que fez com que sua própria vida servisse de laboratório para sua literatura. Especialmente neste romance, cujo tema principal é a imaturidade, lemos e achamos graça de um tipo humano que reconhecemos, por seus anseios como um 'adolescente' de trinta anos, mas ao mesmo tempo parece bem distante, por causa do ambiente e das situações absurdas que são descritas nele. Uma mistura fascinante.

No Brasil, a obra mais conhecida de Gombrowicz é "A Pornografia" lançada pela "Nova Fronteira" e atualmente esgotada. O livro costuma ser facilmente encontrado pelos sebos, possivelmente porque os leitores o compram imaginando um livro que vai fazer valer o título com várias descrições de sexo e dentro dele não encontram nada disso. Mesmo assim, seria um erro afirmar que não há ressonância de suas obras em nossa própria literatura. Entre os contemporâneos, por exemplo, vários autores demonstram uma influência ou, pelo menos, um interesse no escritor. É o caso, por exemplo, de Marcelo Mirisola que num belo texto intitulado "Carta Para Gombro" usa o autor e sua criação literária para refletir sobre si mesmo (ou o Mirisola narrador) e sua literatura. Outro autor também contemporâneo ligado à obra de Gombrowicz é Juliano Garcia Pessanha que no texto "Heterotanatografia" cria um "Gombro" para conversar com si mesmo. Esse interesse de autores contemporâneos pela obra de Gombrowicz somente ressalta a importância de se conhecer a sua obra, muito atual pelas questões que levanta. Um texto que é literatura de primeira linha.

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02 agosto 2006

Uma Opinião Perspicaz

"O crítico, o resenhista, é o homem médio que nos permite saber do que se trata um livro e qual seu mérito. Se o aprecia, tem de explicar o motivo e assim possibilita que outras pessoas tenham interesse de ler o livro. Se não o aprecia, sua intenção é dizer ao leitor que não perca seu tempo (porque a literatura sempre requer tempo) lendo aquela específica obra. Eu evito escrever resenhas por três razões: primeiro, porque não sou um profissional nisso, não me sinto à vontade tendo de ler o livro inteiro tão rápido; segundo, porque posso reconhecer o mérito de um livro e ao mesmo tempo não ter nada a dizer sobre ele; terceiro, porque, se o livro for terrível, por que dizer qualquer coisa? Por que não simplesmente ignorá-lo? É um esforço totalmente vão e inócuo."

Margaret Atwood, numa entrevista para a revista "Entrelivros" deste mês que já está nas bancas. A entrevista não está disponível no site, o jeito é comprar a revista na banca mesmo.

P.S.: Retorno de férias é sempre complicado. Quem mandou e-mail durante o período, aguarde um pouco até tudo se reorganizar. Para facilitar (minha caixa tem zilhões de e-mails), por favor, mandem novamente ou deixem um comentário aí em baixo.
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