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30 março 2006

Leituras dos Outros

Anteontem vi uma pessoa no ônibus lendo Nabokov. Ontem, outra pessoa lia Truman Capote. Hoje, Stendhal. Isso parece ser um bom sinal.

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29 março 2006

Os Problemas da Literatura Brasileira Contemporânea

Em primeiro lugar gostaria de dizer que este texto não foi escrito com o objetivo de valorizar ou desvalorizar a literatura brasileira contemporânea. São apenas impressões pessoais que acredito serem relevantes para que sejam ao menos debatidas por quem gosta de literatura. Escrevi outro post aqui em que falo sobre a leitura de literatura brasileira contemporânea. Porém, os problemas desta literatura existem e é disso que quero tratar aqui. Não cito nomes de autores porque o objetivo não é tratar de autores específicos, mas do cenário atual da literatura e espero que isso fique bem evidente. O leitor, se quiser, poderá interrogar-se e verificar se minhas afirmações são procedentes ou não.

O primeiro problema que percebo é a associação de grande parte dos escritores brasileiros contemporâneos - para não dizer que tentam escrever "igual a" - aos escritores americanos da contracultura. Fante, Bukowski e Salinger são frequentemente citados como fonte de inspiração e não é difícil perceber que são lidos e imitados por vários. A tendência é, portanto, a adaptação do movimento ao cenário brasileiro. Tal associação se faz, em grande parte, somente com elementos estéticos em busca de um efeito de 'transgressão', para usar uma expressão muito em modo hoje. São personagens que vivem entre o sexo e às drogas, dum modo on the road a la Kerouac. O problema é que esse efeito que se busca não está ligado as questões que foram discutidas nos EUA da época - até porque tais questões já se tornaram irrelevantes até mesmo lá, que dirá aqui. A tentativa de inserir novas questões neste modelo de literatura - questões que às vezes são importantes ao momento vivido pela cultura brasileira -, torna-se somente uma imitação destes escritores. O verniz que é passado sobre estes para torná-los mais atuais não funciona, faz parecer que os autores atuais escrevem sobre algo que não nos diz respeito. Pior: em alguns casos o desleixo da obra é evidente, mas o autor prefere afirmar que isso faz parte do estilo dela.

Ligado a isso, há também a enorme obsessão de usar o sexo e a violência como ponto de partida para a literatura. Importante ressaltar que não há qualquer problema em usar sexo ou violência na literatura, o problema reside somente no fato de que tais temas geralmente são tratados de modo único. O sexo, na cultura em que vivemos tradicionalmente religiosa, durante muito tempo foi um tabu, um sinônimo de pornografia. Com as mudanças - leia-se aqui principalmente as conquistas dos movimentos feministas - parece que todos viram uma necessidade urgente de falar sobre sexo, independente do contexto da obra. A sensação é, portanto, a de um estilingue que foi esticado ao máximo e depois é solto. Passou-se de um extremo a outro. São poucos os autores brasileiros que conseguem colocar o sexo na literatura como algo natural. Na maior parte das vezes parece que querem transformá-lo em algo chocante. Quanto mais pervertido e impactante melhor, embora tudo em volta não pareça justificar sua inserção. No final, a literatura se torna algo como um blockbuster do cinema americano, daqueles bem ruins em que uma imagem erótica é colocada na capa para atrair espectadores. Com a desvantagem de que no cinema, a imagem tem um efeito muito mais eficiente do que na literatura. Os que se justificam citando Freud e a psicanálise, na maior parte das vezes, sugerem que Freud e a psicanálise estão resumidos na sexualidade. Uma ofensa a Freud e um reducionismo sem sentido de sua teoria, já que Freud - um teórico dualista - sempre contrapôs os impulsos sexuais à outros não ligados à sexualidade.

Quanto a violência, por vezes ligada também ao sexo, existe pelo menos a justificativa de que se trata de um tema relevante para a cultura brasileira acostumada a tratar de assuntos urbanos. Num Brasil que vivia uma ditadura militar e numa cultura onde temas urbanos, como a violência, ainda não estavam na roda de discussões, o lançamento de "Feliz Ano Novo" de Rubem Fonseca foi de grande importância. Não somente o tema, mas a sua utilização em contos, proporcionou uma multiplicação das perspectivas literárias, melhorando o cenário literário. Porém, o que vemos atualmente é um grande número de autores que usam a violência e os temas urbanos - e o já bem visto recurso da fragmentação da narrativa - dum modo que apenas arranha as consequências advindas deste cenário. Ao invés de evoluírem por exemplo para o clima de paranóia, onde as fobias sociais explodiram e as implicações da falta de privacidade em prol de uma suposta redução dos efeitos nocivos da violência já são pensados, a grande maioria dos autores ainda repisa o modelo criado por Rubem Fonseca, tentando apenas fazê-lo com novas técnicas, sem se concentrar em como suas idéias abriram novos caminhos para a época e, assim, em como pode-se conseguir também abrir novos caminhos hoje. A utilização do tema, embora importante, hoje parece estar completamente desatualizado. Se é para falar sobre "a realidade" das favelas, queira me desculpar, mas prefiro assistir ao noticiário das oito do que ler um livro.

Por último, é preciso ressaltar que existe um grande abismo entre os leitores e a academia. Diversas vezes a transição é sempre de um extremo ao outro. Pessoas imaginam que existe apenas dois cenários: literatura voltada às massas, de puro entretenimento e classificada como irrelevante, e a alta literatura, aprovada pela crítica e pelos acadêmicos e classificada como relevante. A grande maioria dos acadêmicos acredita que a literatura tem que estar relacionada com as questões existenciais do homem e quanto mais rica esta investigação, melhor a obra. Mas esta visão entra em conflito com a grande maioria de leitores que procuram prazer na literatura, independentemente disto se tratar ou não de questões universais. Tanto é assim que nas universidades e entre os críticos (acho que não só do Brasil mas de quase todo o mundo), geralmente expressões que denotam prazer são usadas em ensaios ou resenhas como sinônimo de banalidade. Se uma obra literária é rotulada como 'divertida', geralmente a crítica é negativa, ao passo que se o texto utiliza a palavra 'desafiadora', possivelmente a crítica será positiva. Por causa desta postura é que livros como "Ulisses" de James Joyce, são elogiados em várias críticas, ao passo que muitos leitores não gostam da obra e não entendem os elogios. Com isso em mente, muitos autores atuais escrevem somente para um tipo de público, para o leitor que tem grandes conhecimentos de literatura e que buscam nela não o prazer imediato, mas o desafio de identificar conceitos e técnicas literárias. Mas e se todo o trabalho literário estiver contido num texto que é também prazeroso? Por que priorizar técnicas literárias e deixar o prazer na leitura num nível abaixo? Certamente é possível criar literatura num meio termo, um texto que seja valorizado tanto por acadêmicos e críticos, como por leitores comuns. Mas, apesar disso, parece que os dois lados estão cada dia mais afastados, onde os livros são completamente herméticos ou divertidos, porém rasos.

Não imagino que tais questões resumem tudo o que a literatura contemporânea tem de ruim. Existem evidentes interesses comerciais que nem sempre valorizam alguns bons escritores. Nem posso afirmar que todos os leitores têm esta mesma visão, já que para alguns, características que aqui levanto são exatamente as que devem ser valorizadas. Mas não creio que penso sozinho em tais questões. De qualquer modo, a palavra 'projeto' deve passar a fazer parte do cotidiano dos autores atuais. É preciso, antes de tudo, analisar em que medida um escritor está disposto a avançar nestas questões. Já passa da hora de escritores se preocuparem menos em dizer as mesmas coisas com uma nova estética ou técnica e passar a tratar de novas idéias. Escritores que fazem isso escrevem livros, enquanto os que criam um projeto literário eficiente têm a perspectiva de criarem obras. Editoras, críticos e acadêmicos têm um papel fundamental em levantar questões que estarão presentes numa nova literatura, valorizadora de idéias. Esta nova postura poderá fazer com que nossa literatura seja melhor vista não somente por nós, leitores brasileiros, mas por leitores de outros países. E não existe um tempo melhor do que o agora para que isso aconteça.

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22 março 2006

Machado de Assis Esquecido

O Rafael Galvão, em seu blog, publicou uma lista de sonhos de consumo. O primeiro deles, ele descreve assim:

"Uma edição crítica definitiva de Machado de Assis, com texto fixado e notas de rodapé contextualizando as referências históricas e geográficas, introduções com boa apreciação crítica de cada peça e um apêndice com fotos de Machado e do Rio de Janeiro daquela época, em edição bem acabada, com capa dura e sobrecapa elegante."

Este é um item que eu estou procurando faz algum tempo. Não consigo entender como pode um dos mais importantes escritores do país não ter uma coleção para os leitores mais exigentes. Aliás, difícil encontrar uma coleção decente. A que mais se aproxima disso é a edição da editora "Nova Aguilar" que reúne as obras em três volumes, com capa dura e papel Bíblia. A reunião possui alguns inconvenientes: o leitor que quiser ler apenas uma das obras tem que levar várias outras consigo e a diagramação - por causa do formato - é feita com letras pequenas e o espaço entre as linhas é também reduzido. Mas é a melhor que temos. A editora "Globo", no passado, também publicou as obras de Machado de Assis em vários volumes, numa boa coleção, mas que hoje em dia somente é encontrada nos sebos. Eu, assim como o Rafael, ainda não encontrei a coleção que Machado de Assis merecia e, se encontrasse, não hesitaria em adquiri-la. Machado de Assis é assim um escritor que está mais presente nas lixeiras do que nas prateiras de destaque das livrarias.


O que é mais estranho no caso do escritor é que há no país um grande número de leitores interessados na obra. Basta ver o sucesso da nova biografia de Machado de Assis, "Machado de Assis: Um Gênio Brasileiro" de Daniel Piza, que foi resenhada nos principais jornais e revistas do país. Mesmo se este público inexistisse, o MEC (pelo que sei) ainda recomenda a leitura de suas obras aos estudantes do ensino básico e médio. Além dos leitores, estudiosos dos textos de Machado estão em todas as principais faculdades de Letras do país. O número de dissertações e teses sobre o escritor é talvez maior que todos os outros. Por último, os direitos autorais de suas obras já pertencem ao público, segundo a Lei de Direitos Autorais do nosso país. Em resumo: se existe alguma razão para que nenhuma editora se interesse em realizar o trabalho e publicá-lo, eu desconheço.


O tratamento que o país dá a um dos seus maiores escritores - o único considerado gênio por Harold Bloom, um dos mais importantes críticos literários vivos - dá idéia de como o mercado editorial brasileiro ainda precisa se desenvolver. Apenas para comparar, qualquer leitor que apanhe um exemplar da obra de Fernado Pessoa de "Poesia", publicado pela editora "Assírio & Alvim" em Portugal, ficaria espantado em como aquele país cuida bem da obra do escritor que é tão importante para o país como Machado para o Brasil. Definitivamente, o mínimo que esperamos é um mercado editorial que valorize a literatura.

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20 março 2006

Ainda o Jabá

"A discussão em torno à venda de livros - se é algo que possa se vender como sabonetes ou se é uma mercadoria especial - não é de hoje. Há editores e livreiros que julgam ser o livro uma mercadoria como qualquer outra. Também há os mais raros, se é que ainda existem, que consideram o livro uma mercadoria nobre. O fato é que os mercenários mandam no mercado. Eu, que sempre vivi cercado de livros, hoje tomo distância das grandes livrarias. E se, por necessidade, entro numa delas, a resposta é sempre uma só: o livro que o senhor procura, não temos no momento."

Embora a notícia do jabá nas livrarias não repercutiu muito, Janer Cristaldo, com uma clareza e uma objetividade que quase nunca é vista por aqui, critica fortemente a prática e as grandes redes de livrarias. Leia o texto dele aqui. E ainda querem me convencer que existe uma crise no mercado brasileiro...

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16 março 2006

Uma Nação de Iletrados

"Many Brazilians cannot read. In 2000, a quarter of those aged 15 and older were functionally illiterate. Many simply do not want to. Only one literate adult in three reads books. The average Brazilian reads 1.8 non-academic books a year—less than half the figure in Europe and the United States. In a recent survey of reading habits, Brazilians came 27th out of 30 countries, spending 5.2 hours a week with a book. Argentines, their neighbours, ranked 18th."

A revista "The Economist" desta semana fala sobre os hábitos (ou a falta de hábito) de leitura dos brasileiros. Clique aqui para ler o artigo.

Na Folha, o mesmo texto em português aqui.

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Morre Josué Montello

"Um de seus romances mais famosos, “Os tambores de São Luís” (1975), foi incluído no currículo de literatura brasileira de diversas universidades francesas, integrou a lista dos cem maiores livros de língua portuguesa do século XX, organizada pelo GLOBO, e ganhou as telas, transformado em roteiro de documentário. O escritor teve obras transpostas para o cinema e romances traduzidos para o inglês, francês, espanhol e sueco. Ele recebeu mais de dez prêmios."

Notícia de "O Globo". Leia o obituário completo aqui.

***

Conforme já disse, "Os Tambores de São Luís" de Josué Montello, foi relançado como comemoração dos 40 anos da editora "Nova Fronteira". A coleção traz excelentes títulos por preços promocionais. E o livro é um clássico da literatura brasileira. Para comprá-lo, clique aqui.

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15 março 2006

Despertando nossa Curiosidade

Excelente ensaio de Sérgio Augusto, publicado no Digestivo Cultural, sobre Jonathan Safran Foer e seu "Tudo se ilumina". Não conheço o autor (embora já haviam me recomendado a leitura de "Como o Futebol Explica o Mundo") e o ensaio serve como um ótimo estímulo à nossa curiosidade. O ensaio "Uma Jornada Rígida e Inordinária" pode ser lido aqui.

Será que somente eu tenho saudades dos ensaios de Sérgio Augusto que eram publicados na revista "Bravo!"?

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14 março 2006

O ano de Harold Pinter

What effect did the Nobel prize have on your life?

Well for a start it was a great surprise. Quite unexpected. A chap phoned me at about twenty to twelve from Stockholm and said "Good morning, is that Harold Pinter?" and I said "Yes." He said, "I'm glad to tell you you've won the Nobel prize for literature." I said, "Have I really?" He said, "Yes." I said, "Thank you." The next step really was that I was asked to write and deliver the annual Nobel lecture. I then found myself in hospital again. I had a very, very mysterious skin condition which emanated from the Brazilian jungle. I should explain I've never set foot in the Brazilian jungle but I shared this very distressing physical condition with the Brazilian Indians. Anyway, I came through that and was writing the Nobel speech when the phone rang and it was the doctor saying that he'd looked at my blood tests. He said, "You must come into hospital immediately." I said what do you mean by "Immediately?" He said, "Now, within the next five minutes."


Harold Pinter em entrevista para o The Guardian. A entrevista completa pode ser lida aqui.

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13 março 2006

As Mais Pedidas da Manhã!

"A cobrança é uma extensão da prática revelada ontem pela Folha de venda da visibilidade de obras nas grandes redes de livrarias do país. As redes estabelecem preços para colocar livros em destaque, sem que os clientes tenham conhecimento do que é indicação dos livreiros e do que é espaço comprado pelas editoras."

Jabá. E agora nas livrarias virtuais. Leia a matéria completa aqui.

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08 março 2006

Nossa Eterna Ignorância dos Fatos

Nesses tempos de blockbusters milionários com grandes gastos em efeitos especiais e pouca preocupação com conteúdo, tenho me mantido um pouco afastado das salas de cinema. Talvez por isso ainda não fui ver "Capote", um dos poucos filmes recentes de que tenho vontade de ver. Mas mesmo não tendo ainda visto a obra, ela me serve como um espelho, fazendo-me admitir minha eterna ignorância, como todo o ser humano.

O filme conta a história do escritor Truman Capote e sua busca de informações para confecção da obra "A Sangue Frio", considerado um clássico do chamado jornalismo literário ou, segundo o próprio autor, "non-fiction novel". Capote usou todas as regras da criação literária para relatar um crime que ocorreu numa fazenda do Kansas, nos EUA. Uma obra, portanto, de interesse aos amantes da literatura, por sua capacidade criativa inovadora, e também de interesse aos jornalistas, pela sua ligação evidente com a profissão.


Apesar disso tudo ainda não separei um tempo para ler a obra. Aliás, além de "A Sangue Frio", outras duas obras de Capote recentemente lançadas pela editora "Companhia das Letras" estão na minha wishlist: "Bonequinha de Luxo" e "Música para Camaleões". Em resumo, não li ainda nada de Truman Capote e considero-me, com bastante razão, um completo ignorante neste tipo de literatura. Assim sendo, ver o filme sem ter lido "A Sangue Frio", perde grande parte da graça. O filme será mais um dedo apontando para mim e me dizendo que eu devia ter tirado algum tempo, qualquer tempo, de uma atividade qualquer, para a leitura da obra.


No mundo atual, onde há um bombardeio de informações e, ao mesmo tempo, um bombardeio de anúncios que nos avisam da importância de obter mais e mais informações, admitir ser eternamente ignorante não é fácil. Num dado momento damos às costas a uma série de atividades e nos empenhamos na leitura e compreensão de certo assunto. Quando parece que já acumulamos um volume razoável de informações surge uma nova moda, um novo lançamento, uma nova necessidade. O empenho pela aquisição de mais conhecimento parece nos forçar a lermos cada vez mais, dum modo cada vez mais rápido. E se o livro imprescindível do momento cai na roda de discussões e ainda não o lemos, somos tentados a mentir e dizer que sim, já o lemos.



Mas o que havia de errado com o antigo modelo de leitores, que se preocupavam apenas com o prazer da leitura, não importando quanto seria o tempo gasto com o ato de ler? Por quê, de uma hora para outra, virou cult exibir uma lista de leituras que outros observam e se espantam, dizendo para si mesmos "nossa!!! preciso ler mais!!!"? Por que não admitir simplesmente que nunca teremos o tempo necessário para ler tudo o que nos recomendam? Daí, após o reconhecimento da eterna ignorância, por que não usar o tempo que se dispõe para a leitura prazerosa de obras que chamam a nossa própria atenção e não a de outros? Por causa da minha eterna ignorância não posso afirmar que conceitos outras culturas desenvolveram à respeito do ato da leitura, mas ao meu redor percebo que muitos acreditam que a leitura é estritamente um ato intelectual. Derivar prazer do ato de ler é, para esses, algo de menor importância. É algo que se perdeu por serem leitores 'mais experientes'.

***

Relacionado com Truman Capote, li rapidamente numa livraria a introdução de "Música para Camaleões", da nova edição lançada pela editora "Companhia das Letras". É interessante que em certo trecho ele afirma que aos dezessete anos se viu pronto para a literatura. Numa analogia, ele diz que se fosse músico, poderia dizer que estava pronto para tocar num concerto. Com esta convicção, Capote apanhou alguns de seus textos e enviou para os principais periódicos americanos, sendo que alguns foram realmente publicados. Não sei se é verdade que aos dezessete anos Capote tivesse realmente toda essa autoconfiança, mas o fato é que o texto é deleitosamente inspirador. Parece nos dizer que tão importante quanto o talento ao escrever, é preciso também maturidade ao escritor para admitir estar ou não preparado para o lançamento de uma obra qualquer. Talvez, sem querer, ele tenha dado um belo conselho aos aspirantes a escritores.

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