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29 julho 2005

Vale a Pena Ler a Literatura Brasileira Contemporânea? - Parte III: Conclusões

Bom, vamos aos fatos: a literatura contemporânea que temos é essa aí. Ponto. Boa ou ruim, ela existe. Está nas livrarias e bibliotecas e, aceitando ou não, são livros já publicados. Outro ponto: ainda não é possível analisarmos tais obras com grande isenção, por causa de uma série de fatores. Às vezes somos benevolentes, outras vezes beligerantes. Então, com o passar do tempo - e o marketing se preocupando menos com a obra - as qualidades que vimos serão ou confirmadas ou descartadas. Outras vezes os erros que apontamos passam a ficar cada vez menores e na balança, a obra acaba sendo melhor avaliada. Com isso em mente, acho que tanto os que afirmam que não vale a pena, como os que afirmam que vale a pena, têm razões válidas.

Os que afirmam que não vale a pena a leitura de literatura contemporânea têm um ótimo motivo para isso: de tempos em tempos, um autor (que ninguém sabe bem o porquê) é eleito pela mídia como favorito e passa a carregar o rótulo de 'modelo a ser seguido'. Daí, vários outros autores menores se espelham nele (que é a unanimidade) e começam a escrever segundo aquele modelo. Poucos inovam, muitos pioram o que já era duvidoso. Como todos estão sendo influenciados a apreciar certo estilo, aquele autor menor acaba vendendo bem, incentivando outros menores ainda a seguirem a mesma trilha. Portanto, todos que estão acostumados a tentar separar o joio do trigo já sabe o resultado disso. Os anos noventa ainda estimularam essa atitude por causa de alguns agravantes. O resultado geral costuma ser tão ruim, que é melhor esperar algum tempo para melhor perceber quem realmente prevalecerá como sinônimo de qualidade.

Os que afirmam que vale a pena (e me incluo entre esses) a leitura, reconhecem que sempre existe aquele desejo insaciável de descobrir um bom livro, um livro surpreendente, que faça valer nosso tempo. E descobrir bons livros é uma sensação muito boa. Como não gosto de perder tempo com livros ruins - aliás prefiro ser visto como preconceituoso a ler um livro ruim somente para ter o direito de criticá-lo - valorizo bastante um bom livro e os ruins que eventualmente caem em minha mão, procuro descobrir o quê exatamente falta. O exercício serve de estímulo para aprimorar a capacidade de apreciação de uma boa obra. Por mais seletivos que sejamos, se lemos com regularidade, eventualmente apanhamos um livro ruim. No caso da literatura contemporânea, a possibilidade aumenta, conforme mostra o parágrafo anterior.

Portanto, acredito que é salutar um certo equilíbrio. Não vejo com bons olhos a afirmativa de que é preciso ler tudo o que é publicado para que se possa descobrir o que é realmente bom. Mas também não acho que o leitor deve simplesmente se isentar da literatura contemporânea pelo simples fato de que é bastante difícil ler algo bom hoje em dia. Por exemplo, da lista citada no primeiro post, já escrevi sobre "Nove Noites" de Bernardo Carvalho, que é excelente. Claro que é impossível não notar que falta algo na literatura atual. Mas ao mesmo tempo, seria uma injustiça não procurar destacar a qualidade de alguns escritores contemporâneos.

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Que Lindo!

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28 julho 2005

A Volta de Mandrake

"Com Mandrake: a Bíblia e a Bengala, Rubem Fonseca faz nova investida na novela policial, gênero do qual é considerado um mestre no Brasil, e traz de volta à cena Mandrake, um de seus mais célebres personagens (A grande arte e vários contos). Desta vez, o cínico advogado criminalista é levado a investigar dois casos insólitos. No primeiro, é procurado por uma linda colecionadora de livros raros que deseja descobrir o paradeiro de um amigo desaparecido. Incapaz de resistir à beleza da mulher, Mandrake aceita dar uma de detetive e passa a desvendar uma trama complicada que envolve ricaços, bibliófilos, livreiros, um anão misterioso e, é claro, uma lista crescente de mortos. No segundo caso, um de seus ex-clientes é assassinado em um crime quase perfeito. Só que a esposa da vítima é amante de Mandrake e a arma usada foi sua própria bengala de estoque, o que o torna um dos principais suspeitos.
Em Mandrake: a Bíblia e a Bengala, o autor de Agosto e Vastas emoções e pensamentos imperfeitos abraça os elementos clássicos do gênero policial para compor enredos cheios de viradas em que há espaço para jogos de sedução, reflexões sobre a ética dos advogados, necrópsias, condessas italianas de identidade duvidosa e indivíduos dispostos a matar para ter em mãos um incunábulo impresso por Gutenberg. Um prato cheio tanto para os fãs do romance policial quanto para os admiradores do universo temático de Rubem Fonseca."


Estou preparando um post sobre o que não gosto na obra do Rubem Fonseca, mas de qualquer forma, reconheço que é um autor que não pára. Ruins ou bons, eis os seus livros. A sinopse é do Submarino.

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6º Salão do Livro de Minas Gerais & Encontro de Literatura

6º Salão do Livro de Minas Gerais & Encontro de Literatura
11 a 21 de agosto
Entrada Franca
Horário de Funcionamento
9h às 22h

Local
Serraria Souza Pinto
Av. Assis Chateaubriand, 809

Destaques:
11 de Agosto - Quinta-Feira
09h00 Abertura do 6º Salão do Livro

18h00 Mesa-redonda Políticas públicas de incentivo à leitura.Galeno Amorim (MinC), Edilane Maria de Almeida Carneiro (Representante da Fundação Municipal de Cultura), Maria Augusta Cesarino (Representante da Secretaria de Estado da Cultura), Ricardo Aleixo (Representante do Movimento Literatura Urgente). Mediador: José de Alencar Mayrink (Câmara Mineira do Livro) Auditório Paulo Mendes Campos (mezanino)

19h30 Mesa-redonda A razão de ler. Edmir Perrotti e Felipe Lindoso.Mediador: José Eduardo Liboreiro (Fundação Municipal de Cultura) Auditório Paulo Mendes Campos (mezanino)

12 de Agosto - Sexta-Feira
09h30 Contos de Andersen. Contadores: Sandra Lane e Vilmar Oliveira Pavilhão Hélio Pellegrino

18h30 Encontro Marcado: Moacyr Scliar Coordenador: Fabrício Marques Entrevistador: Francisco Moraes Mendes Pavilhão Hélio Pellegrino

19h30 Mesa-redonda Blogs: a literatura e o espaço virtual. Fal Azevedo, Alexandre Inagaki e Idelber Avelar. Coordenação: Afonso Andrade. Auditório Paulo Mendes Campos (mezanino)

13 de Agosto - Sábado
16h00 Encontro Marcado: Silviano Santiago Coordenador: Fabrício Marques Entrevistador: Wander Melo Miranda Pavilhão Hélio Pellegrino

17h30 Mesa-redonda Literatura e erotismo. Alexei Bueno, Luiz Roberto Guedes e Mora Fuentes. Coordenação: Lúcia Castelo Branco. Auditório Paulo Mendes Campos (mezanino)

14 de Agosto - Domingo
17h30 Mesa-redonda O olhar atencioso: a crônica e o cotidiano. Manoel Lobato, Roberto Mendonça e Carlos Herculano Lopes. Coordenação: Nereide Beirão. Auditório Paulo Mendes Campos (mezanino)

20h00 Palestra Cidade, cultura e comunicação e mostra de vídeo BH conexão La Plata. Palestrante: José Márcio Barros Auditório Otto Lara Resende (mezanino)

15 de Agosto - Segunda-Feira
09h00, 10h00, 14h00 e 15h00 O patinho feio (teatro infantil) Pavilhão Fernando Sabino

16h00 Lançamento do livro A maçã e os outros sabores. Tarde de autógrafos com o escritor Rubem Alves. Estande da Asteca

18h30 Encontro Marcado: Rubem Alves Coordenador: Fabrício Marques Entrevistador: Antônio Vidal Nunes Pavilhão Hélio Pellegrino

19h30 Mesa-redonda O Suplemento Literário de Minas Gerais. Humberto Werneck, Sebastião Nunes, Márcio Sampaio. Auditório Paulo Mendes Campos

20h30 Show de Verônica Sabino em homenagem ao escritor Fernando Sabino Pavilhão Fernando Sabino

16 de Agosto - Terça-Feira
18h30 Encontro Marcado: Luiz Ruffato Coordenador: Fabrício Marques Entrevistador: Ronaldo Cagiano Pavilhão Hélio Pellegrino

19h30 Mesa-redonda O narrador angustiado. Luiz Ruffato, Ronaldo Cagiano e Luiz Vilela. Auditório Paulo Mendes Campos (mezanino)

17 de Agosto - Quarta-Feira
18h30 Encontro Marcado: Adélia Prado. Coordenação: Fabrício Marques. Entrevistador: Ana Elisa Ribeiro. Pavilhão Hélio Pellegrino

19h30 Mesa-redonda Para além das Minas:correspondências 1. Marcos Moraes, Marília Rothier e Reinaldo Marques. Coordenação: Eneida Maria de Souza Auditório Paulo Mendes Campos (mezanino)

18 de Agosto - Quinta-Feira
18h30 Encontro Marcado: Luís Giffoni. Coordenação: Fabrício Marques. Entrevistador: José Eduardo Gonçalves. Pavilhão Hélio Pellegrino

20h30 Show Conspiração dos Poetas com Fernando Brant e Tavinho Moura Pavilhão Fernando Sabino

19 de Agosto - Sexta-Feira
18h30 Encontro Marcado: Edimilson de Almeida Pereira Coordenação: Fabrício Marques. Entrevistador: Prisca Agustoni Pavilhão Hélio Pellegrino

20 de Agosto - Sábado
10h00 Bate-papo com Professor Pasquale Cipro Neto. Pavilhão Fernando Sabino

16h00 Encontro Marcado: Afonso Romano de Sant’Anna Coordenação: Fabrício Marques Entrevistador: João Pombo Barile. Pavilhão Hélio Pellegrino

21 de Agosto - Domingo
17h30 Mesa-redonda Panorama da literatura mineira: dos anos 80 ao século XXI. Luís Giffoni, Alécio Cunha e Marcelo Dolabela. Coordenação: Sérgio Fantini Auditório Paulo Mendes Campos (mezanino).

19h30 Mesa-redonda O rumo dos quadrinhos contemporâneos. Gonçalo Jr., Piero Bagnariol e Afonso Celso Rodrigues. Coordenação: Alexandre Pimenta. Auditório Paulo Mendes Campos (mezanino)

Para quem vem de fora:
A Serraria Souza Pinto fica embaixo do viaduto Santa Tereza - imortalizado por Fernando Sabino em "Encontro Marcado", quando o protagonista e seus amigos de farra sobem em seus arcos - e em frente ao Parque Municipal, no Centro. Como em qualquer metrópole, fique atento, pois a região da Praça da Estação costuma ser um local atrativo para ladrões. Portanto, se tiver que andar a pé (por exemplo até a rodoviária), opte pelo trajeto Av. Afonso Pena - Rua da Bahia, ao invés do trajeto Santos Dummond - Av. dos Andradas. Na Av. Afonso Pena, esquina com rua da Bahia, existe também um posto da Belotur que pode ser consultado para informações sobre restaurantes, hotéis e pontos turísticos. Para consultar a programação completa do evento, visite o site http://www.salaodolivro.com.br. Informações sobre Belo Horizonte e turismo, visite o site http://www.belohorizonte.mg.gov.br/por/index.php.

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27 julho 2005

Vale a Pena Ler a Literatura Brasileira Contemporânea? - Parte II: Observações Sobre a Lista

Por mais que se queira estabelecer uma lista com os melhores, é preciso admitir que é difícil montar um lista sem que se excluam alguns nomes. De modo que o resultado é previsível. Então vou comentar primeiro as ausências e depois os excessos.

Bom, fiquei muito surpreso de não encontrar pelo menos três nomes: Rachel de Queiroz (Memorial de Maria Moura), Tabajara Ruas (Os Varões Assinalados) e Ana Miranda (Dias e Dias). Tentei imaginar uma justificativa para a lista não conter "Memorial de Maria Moura" e só encontro uma possível: colocar seu livro entre os primeiros faz parecer que tudo que se produz pela nova geração é menor. O fato é que numa lista que privilegia os novos, colocar uma escritora que lançou um grande livro no fim da sua carreira poderia soar estranho. Ou seja, quem votou não conseguiu notar os aspectos modernos do romance de Rachel de Queiroz. A segunda ausência, o livro "Os Varões Assinalados", tentei encontrar a sua data de publicação, mas não encontrei, por isso não sei ao certo se ele poderia estar ausente por não ser do período mencionado. Mas o fato é que parece que os romances épicos, aqueles que mesclam uma grande pesquisa histórica e cria personagens fictícios que interagem com personagens históricos caiu de moda. E é uma pena. O trabalho de pesquisa de Tabajara Ruas para composição da obra parece ter sido gigantesco. O resultado é um grande romance, num estilo que não aparece muito por aqui e que por isso deveria ser bastante valorizado e estimulado. Por último, a ausência da escritora Ana Miranda apesar de bem estranha pode ser explicado por um motivo: o júri pode ter dividido seus votos em três de suas obras. Além de "Dias e Dias", que considero seu melhor trabalho, "Desmundo" e "Boca do Inferno" poderiam estar presentes. Outra característica que vejo nos três livros é que apesar de bons, não parecem ser daqueles livros que são imediatamente citados por leitores.



Agora, dois nomes de maneira alguma entrariam em minha lista: "Cidade de Deus" e "Budapeste". "Cidade de Deus" está ali por razões óbvias: os críticos queriam eleger algum romance hoje chamado de realista. Pelo seu sucesso comercial e, de tabela, o sucesso comercial do filme de mesmo nome, "Cidade de Deus" é um nome facilmente lembrado. Mas se analisado, além de representar uma 'corrente' literária, que mais poderia ser dito do romance? A forma ou a linguagem são trabalhadas de modo adequado a ponto de imaginarmos que será lido daqui a algum tempo, quando o filme não estiver mais sendo mencionado na roda de amigos? Arrisco dizer que isso dificilmente acontecerá. Já "Budapeste" é um livro bom. Mas somente isso. Num ano em que foram publicados "Mongólia", de Bernardo Carvalho, e "A Margem Imóvel do Rio", de Luiz Antonio de Assis Brasil, escolher "Budapeste" para entrar numa lista em que os outros dois não aparecem, se torna um paradoxo. Aliás, o júri deu o prêmio Jabuti de melhor romance para "Mongólia" e no Portugal Telecom, o livro de Assis Brasil ficou em terceiro. "Budapeste" foi escolhido livro do ano - que soou quase como prêmio de consolação para um livro que foi tão bem comercialmente.



Não li todos os livros citados, inclusive nem conhecia o livro "Barco a seco" de Rubens Figueiredo, mas não gosto dos livros que li de três autores citados: Raduan Nassar, João Gilberto Noll e Dalton Trevisan. Portanto, apesar de não ter lido os livros dos três autores, torço o nariz quando vejo as obras deles aparecendo na lista. Aliás, alguém aí que gosta dos autores por favor me diga o que faz com que você goste deles. Pode ser que tenha lido os livros errados deles (li, de Raduan Nassar "Um Copo de Cólera", de João Gilberto Noll "Canoas e Marolas" e de Dalton Trevisan uma coletânea de contos que não sei mais o nome), por isso não posso dizer mais nada à respeito.


No próximo post trato propriamente de responder à questão: vale a pena ler a literatura brasileira contemporânea?

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26 julho 2005

O Trabalho do Tradutor

"Rabassa não desembaraçou Rosa mas enfrentou o dificílimo “Avalovara”, obra-prima de Osman Lins. Em inglês, manteve o título em português por achá-lo insubistituível – numa das muitas demonstrações, ao longo de suas memórias, que mais importante do que a fidelidade literal, desde sempre impossível, é não usar de elementos supostamente facilitadores, como ele critica nas duas traduções mais recentes de Machado, que rebatizaram “Brás Cubas” como “Epitáfio para um pequeno vencedor” e “Quincas Borba” como “Filósofo ou cão?”."

Paulo Roberto Pires fala sobre Gregory Rabassa, tradutor de importantes escritores latino-americanos para o inglês. Leia a matéria completa em "No Mínimo" clicando aqui.

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Vale a Pena Ler a Literatura Brasileira Contemporânea? - Parte I: Os Melhores

Recentemente o jornal "Estado de Minas", no seu caderno literário Pensar, promoveu a eleição do que seria, na opinião de alguns convidados, os mais importantes livros publicados entre 1990 e 2005. A eleição se restringiu às narrativas inéditas em prosa: romances, contos, crônicas, novelas. Como toda lista, ela é excludente, mas apesar disso não deixa de ser representativa. Com base nela, surge a pergunta: vale realmente a pena ler a literatura contemporânea? Gostaria de saber a opinião de vocês e depois postarei minha própria opinião sobre as escolhas. Eis abaixo a lista:



1 - Dois irmãos - Milton Hatoum


2 - Nove noites - Bernardo Carvalho


3 - O vôo da madrugada - Sérgio Sant'Anna


4 - Eles eram muitos cavalos - Luiz Ruffato


5 - Quase memória: quase-romance - Carlos Heitor Cony


6 - Cidade de Deus - Paulo Lins


7 - Budapeste - Chico Buarque


8 - Menina a caminho - Raduan Nassar


9 - Barco a seco - Rubens Figueiredo


10 - A céu aberto - João Gilberto Noll


11 - Pico na veia - Dalton Trevisan


12 - Aqueles cães malditos de Arquelau - Isaías Pessotti


13 - A noite escura e mais eu - Lygia Fagundes Telles


14 - A cabeça - Luiz Vilela


15 - O monstro - Sérgio Sant'Anna

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25 julho 2005

O Compromisso do Escritor

"A atmosfera social e política, observei na História da inteligência brasileira, favorecia o romance populista, miserabilista e proletário, à medida mesmo em que se estabilizava e consolidava a revolução literária do Modernismo, ou seja, à medida mesmo em que a literatura, como tal, se tornava cada vez menos revolucionária, a Revolução se tornava cada vez mais literária."

Wilson Martins faz uma análise do "compromisso" político do escritor. Leia aqui em "O Globo".

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Beleza Põe Mesa

Não levem em conta o conteúdo e avaliem somente o que sobrar. Depois faça uma eleição dos melhores livros. Creio que, aqui no Brasil, todos os primeiros lugares vão para a Cosac&Naify. O novo "Bartleby, o Escrivão" da Cosac&Naify é tão lindo, que o desavisado que resolver lê-lo, merece ser condenado por violação. Apanhem um exemplar em qualquer livraria e vejam com seus próprios olhos!



"Bartleby, o Escrivão", Herman Melville, folhas duplas que precisam ser "rasgadas" para que se possa ter acesso ao texto.



"Primeiro Amor", de Samuel Beckett, capa serve como uma espécie de pasta, em que as folhas contendo o texto estão costuradas, semelhante a uma carta em um envelope.




"O Roubo do Elefante Branco", de Mark Twain, pocket book em que o texto começa na própria capa.

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21 julho 2005

A Literatura e Ariano Suassuna

O Rafael Lima fez um post, intitulado A Pedra e o Polígono, em que questiona se o livro de Suassuna podia estar enquadrado também na crítica que Diogo Mainardi faz aos chamados romances regionalistas. Comentei lá, mas achei que o comentário ficou bem resumido, por isso resolvi explicar melhor minha idéia.

O projeto de literatura de Ariano Suassuna é um dos mais importantes que já surgiram aqui no Brasil e sua proposta é grandiosa demais para ser desconsiderada. Através da mistura de elementos da cultura popular e da cultura erudita, ele tenta fazer aparecer uma cultura diferente, mais diversificada, com mais pontos a serem observados e discutidos. Em "O Auto da Compadecida", o escritor com base em três folhetos de cordel, apresenta uma peça de teatro com personagens populares do nordeste - o malandro, o mentiroso, o padre, o mulher adúltera, o coronel, o cangaceiro e seus capangas - numa série de situações cômicas. O texto é maravilhoso, mas a sensação é que os elementos culturais populares aparecem de um modo indeciso. Às vezes é bem claro, como nas histórias fantasiosas contadas por Chicó, mas em outras fica sem lugar, como no discurso final da compadecida. Quanto aos elementos de cultura erudita, estes praticamente só aparecem na forma como o texto foi estruturado (uma peça de teatro).



Com "A Pedra do Reino", Ariano mostra de um modo mais claro sua proposta. O texto apresenta o personagem Quaderna, que declara ter o direito ao governo do Brasil por ser ele um membro da verdadeira linhagem real brasileira, não a linhagem real oficial, de Portugal. Ao escrever lendas populares que são apresentadas com o mesmo peso de dados históricos, Ariano Suassuna integra a cultura ibérica com a cultura popular nordestina. Junto com a história, o escritor apresenta cordel, gravuras e a descrição de atividades populares, como cavalhada. Também a obra é dividida em folhetos numerados, como folhetos de cordel, além de apresentar cordéis separados, dentro desses folhetos, que narram outras histórias populares. Mas é preciso admitir que a obra não é perfeita (como é comum em qualquer obra pioneira), com alguns pontos mal explorados. Por exemplo, às vezes o escritor parece excessivamente didático, como nas informações dadas sobre heráldica. Também alguns elementos estritamente regionais são ressaltados tantas vezes que a sensação é sempre de estar lendo uma obra do nordeste e não do Brasil, como se houvesse uma necessidade de afastá-la do resto do país. Talvez por isso, a aparência do final da obra seja pior do que a do começo e o depoimento de Quaderna - o final da obra - passe de engraçado à excessivo. Contribui para isso também a forma como a obra foi pensada: era para ser uma trilogia, mas os dois volumes restantes nunca foram escritos.



A gradiosidade da obra, no entanto, está no fato de que ela apresenta uma direção que poderia ser cada vez mais explorada, retirando assim a sensação de que essa mistura funcionaria apenas no nordeste, com seus elementos populares. Também, os próprios autores pós-Ariano poderiam aproveitar o caminho aberto (que admitamos, é o mais difícil) para se livrarem do rótulo 'regionalista' a que estão submetidos. A crítica de Diogo Mainardi, afirmando estarem os autores 'regionalistas' inflingindo suas banalidades sobre o restante da literatura mundial, poderia sofrer o contra argumento de que havia ali sim, outros elementos culturais (novos) que interessariam não só ao nordeste, ou ao Brasil, mas a toda literatura mundial. Mas o que aconteceu após a publicação da obra? Quase nada de diferente. Apanhe, por exemplo, a obra "Memorial de Maria Moura" de Rachel de Queiroz e olhe-a por esta perspectiva. A que ela se aproxima mais? Ao velho rótulo 'regionalista' da literatura do nordeste ou a literatura misturada de Ariano Suassuna, com elementos populares e eruditos interagindo? Não quero dizer com isso que a obra não tenha valor, ela é considerada um clássico, mas quero exemplificar que é muito fácil encontrar argumentos favoráveis à crítica do Mainardi. Autores nordestinos parecem se preocupar apenas com os problemas rurais do nordeste, como se só isso pudesse ser explorado pela literatura. Até mesmo os escritores de cordel parecem não ter percebido o que Ariano estava oferecendo. Criaram a Academia Brasileira de Literatura de Cordel, como se isso fosse algo que eleva a literatura de cordel, quando sob meu ponto de vista só diminui. Imaginem se houvesse para cada gênero literário uma instituição: Academia Brasileira de Crônica, Academia Brasileira de Romance Policial, etc.? O que os autores de cordel não perceberam é que Ariano Suassuna, com a publicação de "A Pedra de Reino", coloca o cordel (que antes era apenas algo menor) no mesmo degrau de TODOS os gêneros literários do Brasil, bastando que estes escritores agora se aproveitassem do caminho aberto. Daí, leitores estariam lendo obras de 'escritores', não de 'escritores de cordel'.


Para este ano ainda, Ariano Suassuna promete lançar um novo livro, que ele vem escrevendo desde a década de 80, em que promoverá uma mistura cultural ainda mais acentuada do que em "A Pedra do Reino". Resta saber se os novos escritores conseguirão, após a leitura da obra, elevar sua literatura, tornando-a uma literatura com preocupações humanas e culturais e não mais apenas com preocupações regionais.

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20 julho 2005

ABL faz aniversário e distribui prêmios

"A Academia Brasileira de Letras (ABL) comemora nesta quarta-feira 108 anos de fundação. Durante a solenidade vários escritores serão homenageados, entre eles, o poeta e crítico Ferreira Gullar, que receberá o prêmio Machado de Assis pelo conjunto de toda a sua obra."

Via Folha.

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"Mistérios da Literatura" revela influências literárias

"Seguindo a sugestão do crítico literário Antonio Candido, feita num artigo sobre o amigo Décio de Almeida Prado, Piza exercita a memória e traça no livro a história de sua experiência afetiva com as obras que marcaram momentos de sua vida. Constrói, enfim, uma "história íntima" de sua estante, reunindo no livro quatro autores: o norte-americano Edgar Allan Poe, o brasileiro Machado de Assis, o polonês naturalizado britânico Joseph Conrad e o tcheco Franz Kafka."

Mais um livro sobre a paixão aos livros. Notícia do Estadão.

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19 julho 2005

Agenda

Agora está confirmado. De 11 a 21 de agosto de 2005, na Serraria Souza Pinto, em Belo Horizonte, acontecerá o 6º Salão do Livro de Minas Gerais & Encontro de Literatura. Neste ano haverá homenagens ao escritor Fernando Sabino com uma série de bate-papos literários (num pavilhão chamado Encontro Marcado). Também haverá uma programação especial na tenda “Salãozinho do Livro”, onde ocorrerão sessões de narração de histórias para crianças, com destaque especial para as histórias do escritor Hans Christian Andersen. Mas a grande atração, sem dúvida, será a mesa sobre blogs, que acontecerá no dia 12 de agosto, às 19:30 hs, com a participação de Idelber Avelar, Alexandre Inagaki e a Fal, com direito a podcasting e conexão à internet. Futuramente o site trará a programação completa. Anote o endereço aí: http://www.salaodolivro.com.br

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18 julho 2005

Nobel Brasileiro – Meu Voto

Assim como o Inagaki, acredito que a escritora Nélida Piñon é a candidata brasileira mais qualificada para ganhar o prêmio. Apesar de o seu trabalho ser praticamente desconhecido para a maioria dos leitores, ouso afirmar que ela é a maior escritora brasileira viva. Não lhe faltam méritos para tal afirmação. Nélida é dona de uma bibliografia invejável, cujo trabalho valoriza a linguagem e renova a forma do romance brasileiro. Certos trechos de seus livros merecem serem lidos em voz alta, pois possuem um ritmo e um vocabulário que se assemelham à poesia. Também, a escritora possui um currículo de dar inveja a qualquer bom autor: Nélida foi eleita para ocupar a cadeira número 30 da Academia Brasileira de Letras em 1990, sendo a primeira mulher a presidir a instituição a partir de 1996. Seus livros conquistaram prêmios importantes como o Juan Rulfo de Literatura Latino-Americana, a Lazo de Dama de Isabel la Católica, outorgada pelo rei Juan Carlos da Espanha e neste ano o Príncipe Astúrias de Letras, desbancando nomes importantes como Paul Auster, Philip Roth e Amos Oz. Dentre os livros da escritora, destaco especialmente "Fundador", um dos melhores romances brasileiros.

"Fundador" é destes livros que quando se inicia a leitura, não há como parar. Todos os elementos da boa literatura estão contidos na obra e são trabalhados de uma forma surpreendente. O livro fala dos sonhos dos homens, colocando como pano de fundo a conquista da América pelos europeus. Para falar de sonhos e conquistas, Nélida Piñon utiliza elementos fantásticos de linguagem, transformando fatos em narrativas heróicas, contos de fadas adultos. Esta ‘transformação’ é que faz com que trechos em prosa, se tornem quase poesia, tornando a leitura em voz alta quase uma obrigatoriedade. Veja, lendo o trecho abaixo, se isto não é verdade:

"O que Fundador lhes propunha, apreciariam se ficassem. Uma construção! Reino no céu, ou sua imitação, na própria terra. E não queria cidade apenas para dominar. Exclamava, na solidão do seu quarto: raros homens destinam-se a uma cidade, sem que consultem para isso outras criaturas: a fundação de uma cidade é anterior à religião, depende de fé que religião não assume, e ainda de homens, animais, e a libertação da mata."

Além da linguagem, a forma como a história é contada representa outro ponto fundamental da obra. Várias narrativas são mescladas, diversas períodos são misturados e um grande número de personagens se alternam durante o romance. O tempo anda em círculos e ora estamos no passado visitando personagens que lutam pela conquista de uma terra prometida por mapas e sonhos, ora estamos no presente encarando a revolta de personagens frente às desigualdades sociais existentes, que sonham por um mundo mais justo. Com o avançar das páginas, vamos desvendando que caminhos ligam os personagens do passado com os do presente, tal qual o mapa que indica a rota até a terra sonhada.

Por último, os personagens são marcantes, cheios de vida, com uma força espantosa. Fundador, o personagem sem nome que quer realizar seu sonho de construir uma cidade, sob certos aspectos se parece com a personagem Ana Terra, de Erico Verissimo. Teodorico de Antioquia, é um personagem misterioso e dono da incrível capacidade de desenhar mapas de terras muitas vezes inexploradas, e a comparação que faço é com o personagem Melquíades, da obra "Cem Anos de Solidão" de Gabriel Garcia Márquez. Mas, a bela amizade de Ptolomeu e Joe é uma das mais diferentes e comoventes da literatura. De um lado um velho paciente, de outro um jovem impetuoso e hostil a qualquer demonstração visível de carinho. As páginas 120 até 122, intercalam um diálogo duro entre os dois, mas com pensamentos ternos, ligando-os. Impossível não distinguir a beleza literária que Nélida consegue extrair de personalidades tão distintas e ao mesmo tempo tão próximas.

"Fundador" é apenas uma das grandes obras da escritora, que possui em seu currículo ainda outras obras que chamam atenção de críticos e leitores, como "Guia Mapa de Gabriel Arcanjo" e "A Casa da Paixão". Por tudo isso, votaria em Nélida Piñon como a brasileira mais próxima de ganhar o Nobel de Literatura, aparentemente a última grande homenagem a esta escritora de enorme talento. Não premiá-la com o Nobel de Literatura será uma surpresa (para não usar a palavra 'injustiça'). Quem ainda não conhece seu trabalho, recomendo começar a conhecê-lo o quanto antes. Possivelmente não se arrependerá e ainda passará por aqui para me agradecer pela dica.

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Insistindo

O MyBlogLog dedou, não adianta. Quase ninguém clicou no link para meu texto no Burburinho. Como eu sou um chato insistente, posto ele aqui também. Erico Verissimo, o escritor que venceu o tempo, merece. Eis o texto abaixo:

Erico Verissimo

Desde há muito tempo, a humanidade anseia a longevidade. De antigos imperadores chineses, buscando a fórmula mágica da imortalidade através de elixires, até os atuais tratamentos estéticos avançados, o que se percebe é uma tentativa constante de controlar o tempo, prolongando-o. Com o domínio da palavra, o ser humano conseguiu uma arma poderosa para fugir dessa prisão. Apesar disso, podemos dizer que nem todos os que a utilizaram foram bem sucedidos e suas palavras desapareceram pelo efeito do tempo. No entanto, alguns grandes escritores conseguiram usar belamente suas palavras, extraindo mais vida do dia a dia, como se o tempo fosse apenas uma massa de modelar. Com certeza, entre estes poucos privilegiados podemos incluir o escritor Erico Verissimo. Suas obras estão disponíveis para provar isso.


Antes de citar sua obra-prima que trata justamente do tempo, é necessário analisar sua estratégia de subjugar o tempo em suas memórias - Solo de Clarineta, volumes 1 e 2. Embora a memória nem sempre seja fidedigna - afinal, ela maximiza nossas alegrias ao passo que dilui muitas de nossas decepções - ela exige reflexão e cuidado para ser apresentada, tornando o escritor um verdadeiro artesão do tempo. Se alguns poucos minutos são importantes, como o relato onde Sebastião Veríssimo se despede do futuro escritor na estação ferroviária de Porto Alegre, estes são então prolongados e descritos em minúcias, ampliados, tornando-se assim mais significativos. Ao ler o relato em suas memórias quase que podemos ver o rosto desiludido do tempo percebendo sua derrota, observando que palavras tão bem escritas simplesmente continuarão ecoando na memória de muitos e se estenderão, tornando-se momentos significativos e não apenas meros minutos.


Daí, ao examinar a obra O Tempo e o Vento, podemos afirmar que a vitória foi arrasadora. Erico Verissimo já não mais tenta dominar um tempo próprio, que ele mesmo viveu, mas passa a dominar o tempo de outras gerações. Estas gerações, embora afastadas do próprio escritor pelo tempo, também fazem parte de sua história, pois foram pessoas destas gerações que construíram o sul do país e conseqüentemente Cruz Alta, cidade onde nasceu. Erico criou personagens que deram voz a estas pessoas, causando o efeito inverso do tempo, ou seja, aproximando-as de nós. Ana Terra, Capitão Rodrigo, Licurgo Cambará, Bibiana, Luzia, José Lírio, Fandango, Dr. Rodrigo, Flora, Sílvia, Floriano, personagens que embora façam parte da ficção, parecem ser reais em nossa imaginação, como se estivessem presentes nos fatos históricos do Rio Grande. Através da leitura, portanto, dos três volumes da obra, somos conduzidos pelo escritor a uma viagem no tempo, que começa nas missões jesuítas, em 1745, e nunca se encerra, já que no final do último tomo Floriano começa a escrever a história de sua família, exatamente a mesma primeira linha que foi escrita no primeiro tomo da obra. Mas Erico Verissimo fez ainda mais: satirizou este eterno inimigo ao escrever Incidente em Antares, considerado por alguns como o quarto volume da obra. Lá, ele escreve sobre mortos que se recusam a ocupar seu lugar no esquecimento e de modo bem engraçado, infernizam a vida dos vivos.


Erico Verissimo nasceu em 1905 e, embora falecido em 1975, sua vida ainda continua presente através de seus maravilhosos livros. Traduzido para vários idiomas, é considerado um dos maiores escritores da língua portuguesa do século XX. Seu filho, Luis Fernando Verissimo, classificou-o apropriadamente como um "escritor de vanguarda", que apesar de seu vasto conhecimento da literatura, preferiu ser simplesmente um contador de histórias - segundo sua própria definição -, acessível à grande maioria dos leitores. Por ocasião de seu centenário, temos a oportunidade de legitimar a ampla vitória deste escritor sobre o inimigo implacável que é o tempo, ao apanhar um de seus livros na estante e nos deleitar com suas palavras. Um deleite, aliás, inigualável.

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George Orwell foi vigiado pela polícia ao longo de doze anos, segundo documentos

"Enquanto Orwell projetava um mundo no qual os regimes totalitários controlavam absolutamente tudo, seus passos eram seguidos de perto pela polícia metropolitana de Londres, informa nesta segunda-feira o jornal "The Guardian"."


A arte imita a vida ou a vida imita a arte? Via Folha.

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16 julho 2005

Uma Pergunta

Se pudesse escolher algum brasileiro para receber o Prêmio Nobel de Literatura, quem escolheria?
Antes de responder, lembre-se que o prêmio só pode ser dado para escritores de literatura, que já tenham uma carreira bem estabelecida (portanto exclui-se escritores novos) e que estejam vivos.

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15 julho 2005

Truman Capote volta à fama em filmes e livros

"O livro de Capote foi um dos fundadores de um novo jornalismo, o jornalismo literário, que se aproxima do seu personagem para transmitir ao leitor o que sente e pensa. No caso de A Sangue Frio, Capote obteve uma aproximação que parecia até uma amizade com os assassinos e não teve dúvidas em manipulá-los, sobretudo a um deles, Perry Smith, ou seja, não titubeou em contar mentiras para obter a verdade."


Leia notícia completa do Estadão clicando aqui.

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14 julho 2005

Os Dois Extremos de Vila-Matas

"Creio que escrevi Bartleby e companhia com uma certa inconsciência, pois na própria entrevista coletiva de lançamento do livro, organizada por minha editora espanhola, me dei conta de que tinha caído em minha própria armadilha e que talvez nunca mais voltasse a escrever. Foi quando uma jornalista me fez uma pergunta de última hora, uma pergunta de resto tão habitual: “O que está escrevendo no momento? Qual será o seu próximo livro?”. Senti-me de imediato um Bartleby, pois aquilo me fez perceber que não estava trabalhando em nenhum livro novo. Cheguei a enrubescer. Nos dias seguintes busquei uma solução para aquele beco sem saída e fui dar no outro extremo dos “bartlebys” (escritores que deixam de escrever). Comecei a planejar um romance no qual o narrador sofresse dessa doença da literatura e, entre outras coisas, quisesse (e necessitasse) escrever o tempo todo. Para minha grande surpresa apareceu-me Montano. Você sabe que, para alguns, aparece a Virgem. No meu caso apareceu-me esse louco do Montano. É o livro mais livre de todos os que escrevi até agora. É uma fonte de ódio absoluto para meus inimigos, e de prazer para os meus admiradores."

Entrevista de Enrique Vila-Matas para o Jornal do Brasil. Leia a entrevista completa aqui.

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Something Is Happening Here

Pouca gente se deu conta do que realmente aconteceu por ocasião do lançamento mundial do romance "Shalimar, o Equilibrista", de Salman Rushdie na FLIP em Parati. Os jornais, pelo menos as notícias que li, simplesmente se referiram ao lançamento como ocorrendo antes do lançamento nos Estados Unidos. Mas o fato do livro ter sido lançado mundialmente aqui revela uma mudança muito grande no comportamento das editoras brasileiras e aponta para uma evolução e um amadurecimento deste mercado.




Se voltarmos no tempo, em 1988, quando o escritor ficou famoso por causa da obra "Versos Satânicos", que levou-o à condenação à pena de morte pelo aiatolá Khomeini, encontraremos outro cenário: o mundo inteiro queria traduzir e vender a obra que tanto furor causou ao aiatolá. A divulgação da obra pelo mundo inteiro ocorreu rapidamente, o livro se tornou um best-seller, mas no Brasil... bem, o Brasil foi um caso à parte. Os leitores brasileiros somente conseguiram ler a tradução da obra dez anos depois, cujo lançamento foi feito pela editora Companhia das Letras. A situação é semelhante a dona de casa que encontra-se com suas amigas de manhã e não consegue dar nenhuma opinião sobre o capítulo da novela, que ela não viu na noite passada. Tanto foi assim, que quando foi lançado aqui no Brasil, a obra não causou nenhum impacto. Chegou aqui com cheiro de jornal de ontem, cujas notícias não interessam.



De um tempo para cá, porém, alguns sinais inequívocos de vitalidade tem sido apresentados pelo mercado editorial. O exemplo mais recente foi o lançamento de "Memória de Minhas Putas Tristes", de Gabriel Garcia Marquez. A obra entrou para a lista dos livros mais vendidos, antes de ser traduzida. Os leitores simplesmente passaram por cima das regras de mercado e não quiseram esperar: compraram e leram o livro. O lançamento mundial de "Shalimar, o Equilibrista", portanto, longe de ser somente uma notícia de jornal, parece mostrar que as grandes editoras encaram o futuro do seu negócio com otimismo. Querem investir e esperam um bom retorno deste investimento, óbvio. A diferença agora é que, apesar do choro comum de que o 'mercado está em crise', as editoras começam a dar sinais de que investir em livros no Brasil pode dar um bom lucro.



Se o mercado não é o que esperamos - devido a problemas que às vezes nada tem haver com as editoras ou os distribuidores - este evento aponta para uma perspectiva no mínimo otimista. Se as mudanças continuarem, certamente todos vão ganhar com isso: as editoras que poderão ampliar seu mercado e os leitores que encontrarão boas surpresas nas prateleiras das livrarias. É esperar e torcer, Mr. Jones.

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12 julho 2005

Conversa de Buteco com Borges e Sabato

O livro "Borges Sabato Diálogos" é uma verdadeira pérola. A idéia é bem simples: Orlando Barone, colocou Borges de um lado, Sabato do outro e ligou o gravador. Só isso. Como numa animada roda de buteco, vários assuntos são abordados, sendo o principal deles, claro, a literatura. Mas não encontramos dois escritores famosos falando do auto de uma tribuna para o público leigo. O que vemos são dois fabulosos leitores falando apaixonadamente sobre grandes obras. Especialmente da página 59 em diante, quando a discussão gira em torno de "Dom Quixote", sentimo-nos felizes com cada reflexão que os escritores põem para fora. Borges, em certo momento, admite que chegou a chorar numa passagem do livro. As descrições do ambiente em que ocorrem os diálogos são também maravilhosas. Às vezes, parece que estamos realmente ali no cômodo, ao lado dos dois grandes escritores, escutando a conversa. Por essas e outras, resolvi colocá-lo aí ao lado como sugestão. Um livro apaixonado para leitores apaixonados por livros.

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Stendhal, Cada Dia Mais Verdadeiro

Lendo as notícias sobre nosso país, chegamos à conclusão que Stendhal é um escritor muito atual. Sendo um ninguém, só existem dois caminhos para se tornar milionário neste país: ou a política, ou a religião. Ou o vermelho, ou o negro.

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11 julho 2005

Morre Claude Simon

"O estilo do nouveau roman dispensava o uso de normas literárias relacionadas aos enredos e ao desenvolvimento de personagens. Os romances de Simon apresentam personagens em estado de confusão emocional, geralmente obcecados por lembranças.

Seu estilo intrincado fez de seus livros difíceis de serem lidos, motivo que explicaria o fato de ele não ser bem conhecido nem mesmo na França. Alguns críticos compararam Simon ao americano William Faulkner. Simon disse, certa vez, sobre seu trabalho: "Sou incapaz de criar uma história. Tudo que escrevo é tirado da vida real, eu apenas copio a realidade"."


Via Estadão. Dele só conheço "A Estrada de Flandres" e não concordo com a comparação com Faulkner (pelo menos esta obra não tem nada a ver com Faulkner). Claude Simon, para mim, só se parecia com Claude Simon.

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Aniversário do "Burburinho"

Esta semana o "Burburinho" comemora seu quarto aniversário. "O Burburinho" é uma revista eletrônica comandada pelo Nemo Nox, do blog "Por Um Punhado de Pixels". Convidado pelo Nemo, escrevi um texto sobre Erico Verissimo, que vocês podem conferir aqui. Não deixem de ler também os outros textos sensacionais: Hitler e as Copas que a Argentina Não Ganhou (Idelber Avelar), Laerte (Rafael Lima), Contos Proibidos do Marquês de Sade (Luis Gustavo Claumann), Betty Carter (Ayrton Mugnaini Jr.), Festival das Estrelas (Ricardo Bittencourt), A Excêntrica Família de Antonia (Nicole Cabral), O Big Brother e as Mulheres de Palha (Gian Danton), Slint (Ana Alice Colonetti), O Físico (Clarice Maia Scotti).

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Roda Viva

"Hoje é possível viver de feira em feira literária. Agora me consideram escritor e posso viver como turista literário. Certamente conseguiria ser muito mais conhecido do que sou hoje sem a necessidade de escrever mais livros"

Chico Buarque, astro da Flip 2004, em recente entrevista ao jornal espanhol "La Vanguardia". Via Folha.

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07 julho 2005

Virginia Woolf e "As Ondas"

"A fragilidade da mente de Virginia não impediu que ela escrevesse muito, tanto em ficção como na crítica literária e da sociedade em que viveu. Seu ponto de vista e suas argumentações são muito lúcidas, pertinentes e realistas. Talvez por refletir e se posicionar com naturalidade sobre diversos assuntos, Virginia também tenha se sentido à vontade para fazer seus personagens pensarem. Daí a presença marcante desse fluxo de consciência, perceptível somente ao leitor, como se você pudesse ler a mente daquela pessoa imersa em pensamentos na sala de espera do médico."

Excelente texto de Adriana Baggio, sobre o livro "As Ondas" de Virginia Woolf. Já li "Mrs. Dalloway" e "Rumo ao Farol", mas confesso que ainda não tive coragem de encarar este que parece ser o mais radical "stream of consciousness" da escritora.

Leia o texto aqui.

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06 julho 2005

Flip começa hoje em Parati e traz Salman Rushdie e Jô Soares

"Começa hoje em Parati, no Rio de Janeiro, a terceira edição da Flip (Festa Literária Internacional de Parati) que traz em sua programação 20 mesas-redondas, com 36 autores de sete estados brasileiros e estrangeiros, representando 11 países e 24 editoras. O evento termina no próximo dia 10."

Leia a matéria completa aqui.

E no Submarino, uma área especial com ofertas sobre a FLIP. Dentre os livros, tem "O Auto da Compadecida", numa edição especial da editora Agir. A edição especial é belíssima e o texto vale cada centavo. Aliás, vale até mais - o Submarino ainda está quebrando o galho e dando desconto. Se você ainda não tem, está passando da hora de comprar.

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05 julho 2005

Questões Sobre o Tamanho Dum Livro

Alguns hábitos me perseguem quando leio. Um deles é sempre ler um livro curto após a leitura dum livro longo. Após a leitura dum livro 'grande', sempre fica aquela sensação de que o livro monopolizou nossa atenção durante muito tempo, fazendo atrasar a fila de livros a serem lidos. Para amenizar a dor na consciencia vou logo procurando um livro curto. O grande problema nestas escolhas é realmente saber o que é um livro curto. Como definir o tamanho dum livro? A resposta mais óbvia é simplesmente ir ao final da obra, conferir o número de páginas e classificá-lo como 'pequeno', 'médio' ou 'grande'. Mas ultimamente tenho reparado que esta classificação está longe de ser verdadeira. O que o número de páginas indica nem sempre pode ser levado muito em consideração.

Apanhem o livro "Encontro Marcado" de Fernando Sabino. São quase trezentas páginas que a gente lê em um dia. Se não se tem muito tempo ou se a leitura é feita dum modo lento, gasta-se dois ou três dias. Percebemos que o escritor propositalmente acelera o ritmo de nossa leitura em certas partes, através da utilização de expressões de fácil assimilação e de frases curtas. A sensação durante a leitura é que estamos assistindo a um vídeo com o botão de avançar apertado. Às vezes é ainda mais rápido e anos inteiros avançam, são desconsiderados sem quebrar o ritmo da narrativa e a sensação se torna a de assistirmos a um vídeo editado de melhores momentos. Pelo número de páginas, portanto, a classificação poderia ser de um livro 'médio', quando na verdade se trata de um livro 'pequeno'. Lemos um romance e fica a sensação de termos lido uma novela. Como o livro é muito bom e fica aquela sensação de que a leitura foi rápida, a vontade é recomeçarmos a leitura.

Num caso contrário, ao sair de um livro 'grande' e procurar um 'pequeno' podemos nos enganar. Frequentemente isso acontece com leitores que apanham "Malone Morre" de Samuel Beckett. O livro tem menos de duzentas páginas, mas ao serem lidas a sensação é de que são quatrocentas. O personagem fala de assuntos que aparentemente não levam a lugar algum, usa frases longas e às vezes enfadonhas e principalmente tenta nos causar uma certa repulsa ao ser transformado num agonizante cada vez mais parecido a um animal qualquer. Fora tudo isso, o experimentalismo da sua literatura e o radicalismo como ela é escrita faz com que demoremos a nos 'acostumar' com seu modo de descrever as situações. O resultado é um livro de poucas páginas, mas com algum esforço para serem lidas. Um livro que normalmente classificaríamos como 'pequeno' é na verdade um livro 'médio'.

Concordo com àqueles que me dizem que tais hábitos não levam à nada, porque de uma forma ou de outra, seja o livro 'pequeno', 'médio' ou 'grande', o importante é o prazer que usufruimos ao ler uma boa obra. Mesmo assim, sempre fico com a curiosidade de pesquisar que tipo de técnica o escritor utilizou para escrever sua obra. Infelizmente, em boa parte dos casos, nossa avaliação é tão subjetiva, que somente chegamos a alguma conclusão, após a leitura do livro. Mas, de um modo ou de outro, não deixa de ser um bom exercício tentarmos prestar atenção no formato da escrita e classificar o que lemos, segundo o esforço que gastamos. Por alguns não terem tal hábito é que muitas vezes classificam uma obra como 'ruim', só porque o esforço para lê-la é maior que a aparência indicada pelo número de páginas.

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04 julho 2005

A Pontuação Que Quer Dizer Alguma Coisa Que Ainda Não Consegui Descobrir

A pontuação da língua portuguesa foi formulada para aproximar um pouco mais o que falamos de como escrevemos. Por isso, usamos uma vírgula, por exemplo, para indicar para o leitor que ele deve dar uma paradinha ali. O ponto indica o fim da frase. Ponto, acabou, pelo menos é isso o que fica no inconsciente da gente quando lemos uma frase inteira e chegamos até um ponto final. Tudo isso eu aprendi desde cedo, então, por que será que alguns escritores insistem em parecer moderninhos por violar todas estas regras simples? Parágrafos que começam sem a primeira letra maiúscula, paredes de texto inteiras sem qualquer pontuação, frases emendadas umas às outras, enfim, textos que dão uma impressão de que o autor está resmungando do outro lado: "O texto é meu e faço dele o que eu quero".

Não estou dizendo aqui que todo texto deve seguir uma pontuação adequada, mas que se o autor resolver desconsiderá-la tem que haver um motivo. Por exemplo, o método de "stream of consciousness" que alguns autores utilizam é um sério candidato a subverter a pontuação tradicional. Como o pensamento humano não segue as normas tradicionais de organização, muitas vezes ligamos algumas idéias a outras que nem nós mesmos conseguimos saber o porquê. Descrever o ato de abandonar um raciocínio, partindo imediatamente para outro, dando a idéia de que estamos lendo os pensamentos do personagem, muitas vezes requer um texto cheio de recortes aparentemente sem ligações. Alguns destes textos estranhamente desorganizados viraram clássicos da literatura, como o diálogo de Molly Bloom de "Ulisses", o primeiro narrador de "Molloy" e o narrador de "Malone Morre" de Samuel Beckett ou a primeira parte de "O Som e a Fúria" de William Faulkner. São desrespeitos justificáveis e realmente observamos que há ali um trabalho literário com o objetivo de dar voz aos pensamentos dos personagens. O esforço dispensado com a leitura é recompensado, pois com o tempo conseguimos encaixar as peças dos quebra-cabeças propostos.

Mas o que dizer daqueles textos que dão a entender que algum motivo para sua desorganização, mas que não conseguimos entender qual é? E não me venham com aquela desculpa de que é o "estilo do autor", que para mim isso não é justificativa. Apanhei, por exemplo, "Os Cus de Judas" de Antonio Lobo Antunes para ler. No início, o texto é bastante curioso, afinal de contas imagina-se que aqueles parágrafos desorganizados apontam para algo que ainda vamos encontrar durante a leitura. Pela metade, começa a aparecer o tédio, afinal toda a nossa curiosidade vai crescendo e nenhuma pista nos é dada. Ao final, a vontade é fazer uma fogueira com o livro. Mas como eu não costumo aprender da primeira vez, resolvi dar uma nova chance a ele lendo "Boa Tarde às Coisas Aqui em Baixo". Este é ainda pior, tanto que resolvi abandoná-lo (algo raro!) antes do fim. Parece que o escritor quer o tempo todo parecer moderno, quer escrever sem nos contar uma história, quer agredir-nos com um texto muitas vezes sem nenhum sentido e ainda vem com a mania de rebelde-literário-sem-pontuação. Se você quer parecer intelectual, Lobo Antunes é o escritor ideal. Você lê seus livros, não entende nada, recomenda a outros, advertindo-os que é o escritor muito difícil e, portanto, quem não tem 'costume' e não entende nada de literatura vai achá-lo ruim.

Imagino que ao escrever uma obra, o escritor sempre está atento a todos os pontos. Se há algum personagem que parece não ter sentido algum, ele é desnecessário e por isso excluído. Ou muitas vezes ele é melhor trabalhado para que sua inserção seja reconhecida pelo leitor. Quando o escritor faz a opção de pontuar seu texto dum modo diferente do que estamos acostumados a ler, ele dirige imediatamente nossa atenção a algo além do que está escrito. Incentiva-nos a prestar mais atenção e descobrir algum sentido que não está explicitado no texto. Às vezes, a forma como o texto é escrito quase que se transforma num personagem. Sendo assim, faz bastante sentido se colocar no lugar do leitor e se perguntar o que o leitor vai achar daquilo tudo. Criar um texto misterioso demais para incentivar a curiosidade pode ser uma armadilha. Porque se chegarmos ao fim sem conseguir entender aonde o escritor quer chegar com aquilo, a curiosidade vai se transformar em tédio e o tédio em frustração. E o caminho que vai da frustração ao esquecimento é bem curto.

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