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31 maio 2005

A Odisséia Recomenda

Para os candidatos ao vestibular da UFMG 2006 uma dica: acessem o site Riobaldo e Diadorim do Tristão. Tem muita coisa boa lá sobre os livros indicados e todo dia tem mais.

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Ainda Sobre a Briga Google X Editoras

O Gravatá na sua coluna do jornal "O Globo", citou a briga editoras X Google e a pergunta que fiz neste post sobre o assunto. Embora ninguém tenha se interessado (pelo menos não vi mais ninguém comentando o fato), acredito que esta será uma das mais importantes brigas entre grandes. Tal qual a briga Napster X gravadoras (e tudo o que veio depois, ou seja, a evolução da internet e o acesso à música digital), essa briga começa a mostrar um modelo falido de distribuição. O que impediria o governo de, ao invés da optar pela compra de toneladas de livros didáticos todo ano, passar a integrar as salas de aula com computadores e acessar uma parte deste material didático via web, por exemplo? A compra passaria a ser somente de materiais essenciais, enquanto materiais de referência, como dicionários, seriam utilizados através do meio eletrônico disponível. O acesso poderia ser gratuito (via Google, por exemplo) ou pago através de uma assinatura (serviço vendido através de um portal de conteúdo, por exemplo). Esta questão, embora pareça não interessar, deveria ser acompanhada de perto pelo governo, afinal tal acesso poderia representar uma economia significativa.

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Fome de Literatura

Tudo o que eu tinha para falar do projeto "Temos Fome de Literatura" o Mercuccio já falou, diretamente, sem rodeios. O Brasil precisa de mais leitores, não mais projetos de governo para liberar verbas em fundos que fomentam qualquer coisa, menos literatura.

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30 maio 2005

O Prêmio Nobel de Literatura é Justo? Parte III - A História (do fim da II Guerra até os nossos dias)

O post anterior analisou as primeiras quatro fases do Prêmio Nobel de Literatura, até a Segunda Guerra Mundial. A partir de 1946, o novo secretário, Anders Österling, resolveu observar o gosto popular e especialmente os autores pioneiros. Como nas ciências, os laureados, a partir de então, deveriam ser pessoas que de alguma forma contribuíram para o desenvolvimento da literatura, apresentando algo diferente do que existia até então. Através desses critérios, vieram escolhas como Hermann Hesse, que foi rejeitado nos anos trinta e fortemente criticado por Wirsén, e Samuel Beckett. Por suas atividades políticas, no entanto, Ezra Pound foi rejeitado apesar de seu pioneirismo. Apesar de não premiar Valéry (que morreu em 1945), a série de premiações desta época foi das melhores: além de Hesse, foram dados prêmios a André Gide, T.S. Eliot e William Faulkner. Ao premiar Eliot, Österling ressaltou a grande omissão da Academia por não premiar James Joyce e seu "Ulisses", o maior pioneiro da literatura. Esta visão, apesar de perder sua força a partir de 1978, prevaleceu em escolhas de outros pioneiros como Naguib Mahfouz, responsável pela novela contemporânea do mundo árabe e Camilo José Cela, um grande inovador da ficção pós-guerra na Espanha. Ainda no campo das inovações linguisticas, em 2000, Gao Xingjian foi laureado e reconhecido como alguém que abriu novos caminhos para a literatura chinesa.

A partir de 1978, o novo secretário Lars Gyllensten e a Academia, resolveram prestar mais atenção a importantes escritores desconhecidos do público da época. A partir de então, prêmios foram dados a to Isaac Bashevis Singer, Odysseus Elytis, Elias Canetti e Jaroslav Seifert. A poesia também passou a ter grande importância e entre 1990 e 1996, onde quatro dos sete prêmios foram dados a poetas: Octavio Paz, Derek Walcott, Seamus Heaney e Wislawa Szymborska, todos anteriormente desconhecidos do público.

Por último, numa fase que prevalece até os dias atuais, a Academia tem se empenhado em premiar escritores do mundo inteiro. Certamente o desejo de Nobel era premiar qualquer um, escandinavo ou não, por seu belo trabalho na literatura. O problema para fazer uma escolha que envolvesse qualquer parte do mundo era a barreira existente por causa do idioma. Com estabelecer critérios justos para a nomeação de uma língua pouco conhecida pelos membros da Academia? O prêmio dado a Yasunari Kawabata em 1968 ressaltou as dificuldades existentes para julgamento de obras em línguas que não são faladas na Europa - o trabalho de avaliação durou sete anos e envolveu quatro especialistas internacionais. Em 1984, no entanto, Gyllensten declarou sua intenção de focar a atenção a escritores fora do eixo europeu. Wole Soyinka da Nigeria foi laureado em 1986 e Naguib Mahfouz do Egito em 1988. Daí a lista continuou com Nadine Gordimer, da África do Sul, Kenzaburo Oe, do Japão, além de Derek Walcott, Toni Morrison e Gao Xingjian. No entanto, a Academia fez questão de ressaltar que a nacionalidade do escritor não estava envolvida na questão e sim suas qualidades literárias.

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27 maio 2005

O Prêmio Nobel de Literatura é Justo? Parte II - A História (do início do prêmio até a II Guerra)

A história do prêmio Nobel pode ser dividida basicamente em sete fases. Baseado nas escolhas que foram feitas, podemos evidentemente perceber quais eram as interpretações que os membros da Academia Sueca davam ao desejo de Nobel de premiar "o trabalho mais proeminente" no campo da literatura. As primeiras quatro fases são apresentadas aqui e vão do início da premiação até a Segunda Guerra Mundial, quando as escolhas tiveram que ser interrompidas.

Nas primeiras fases do Prêmio Nobel de Literatura as escolhas estavam sob a responsabilidade do secretário Carl David af Wirsén. Especificamente na primeira fase, de 1901 até 1912, escritores como Bjørnstierne Bjørnson, Rudyard Kipling e Paul Heyse, foram premiados, enquanto escritores como Leon Tostói, Henrik Ibsen e Émile Zola, foram rejeitados. Wirsén era conservador e exaltava os valores transmitidos através da igreja, do estado e da família. A direção de suas escolhas não poderia ser outra senão também conservadora.

Com o começo da Primeira Guerra Mundial, surgiu a preocupação de a Academia fazer escolhas mais neutras politicamente. Ou seja, numa Europa inflamada pelo conflito, a escolha de um autor alemão, inglês ou francês poderia repercutir politicamente e, por isso, a Academia passou a escolher escritores escandinavos, evitando assim a exaltação de quaisquer outras nações. Nesta segunda fase, a partir de 1916, os prêmios foram para o sueco Verner von Heidenstam, os dinamarqueses Karl Gjellerup e Henrik Pontoppidan - num caso raro em que o prêmio foi dividido - e o norueguês Knut Hamsun.

No terceiro período, a partir de 1920, as escolhas valorizaram autores reconhecidos por seu estilo refinado como principal característica. São desta fase as escolhas de Thomas Mann e seu "Os Buddenbrooks", bem como também Anatole France e George Bernard Shaw.

Com a chegada dos anos trinta, a Academia passou a premiar autores que se caracterizaram por apontar em suas obras questões e preocupações universais do ser humano. Escritores como Sinclair Lewis e Pearl Buck foram premiados e poetas como Paul Valéry e Paul Claudel rejeitados. Por fim, a Segunda Guerra Mundial foi declarada e as premiações foram interrompidas.

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25 maio 2005

O Prêmio Nobel de Literatura é Justo? Parte I - Como ocorre a premiação?

É comum ouvirmos pessoas afirmando que a escolha do vencedor do Prêmio Nobel de Literatura é quase sempre injusta e que na maior parte das vezes o vencedor é alguém que nada representa para a literatura. No entanto, a maioria das pessoas sequer sabe como são escolhidos os vencedores, o que torna a discussão quase sempre baseada nos 'achismos' e não em dados concretos. De qualquer modo, a escolha do vencedor chama a atenção dos leitores e das editoras, movimentando o mercado nacional de livros. É comum observarmos, após o anúncio do vencedor, uma correria das editoras para tentar disponibilizar ao público, o mais rápido possível, obras destes autores. Resta saber então se a leitura destas obras representa algo relevante dado a escolha e porque certos autores consagrados são completamente desconhecidos do público em geral. O primeiro post desta discussão destaca apenas dados básicos, disponíveis no site da organização, sobre a escolha do vencedor. Abaixo está um resumo do processo:

1 - Nomeação
O processo de seleção do vencedor do Prêmio Nobel de Literatura se inicia em setembro, um ano antes do anúncio do vencedor. Nesta época, a Academia Sueca em Estocolmo envia cartas a pessoas e organizações qualificadas para nomear candidatos. As nomeações chegam a Academia entre setembro e fevereiro. Os candidatos são sumarizados numa lista que contém cerca duzentos nomes.

Estão habilitados para submeter propostas ao Prêmio Nobel de Literatura:
- Membros da Academia Sueca e de outras Academias, instituições e sociedades literárias;
- Professores de literatura e linguística de universidades e colégios universitários;
- Ganhadores do Prêmio Nobel de Literatura;
- Presidentes de outras sociedades de autores que se destacam por sua produção literária em seus respectivos países;

2 - Seleção
Durante a primavera sueca, as propostas são examinadas pelo Comitê Nobel e em abril é apresentado para aprovação pela Academia uma lista preliminar de candidatos, contendo cerca de vinte nomes. Antes do recesso de verão da Academia a lista é reduzida e fica com cinco nomes. Em outubro a Academia faz sua escolha. Para que a eleição seja válida, um candidato deve obter mais de 50% dos votos.

3 - Anúncio
Depois que ocorre a votação, o vencedor é contatado e é marcada uma comitiva para a imprensa. Informações a respeito de nomeações, investigações e opiniões sobre o vencedor são mantidas em segredo por cinquenta anos.

4 - Cerimônia de Entrega do Prêmio e Anúncio Oficial
Em dezembro, o vencedor do prêmio é convidado a Estocolmo onde ele(a) participa das festividades e recebe a medalha, um diploma pessoal e o prêmio em dinheiro. Durante a cerimônia o vencedor faz um discurso.

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Editoras protestam contra "biblioteca virtual" do Google

"A empresa tem o objetivo de colocar on line 15 milhões de volumes das quatro principais bibliotecas americanas --das universidades de Stanford, Michigan e Harvard, e da Biblioteca Pública de Nova York até 2015.

Também deverão ser oferecidos livros sem direitos autorais da Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha.

A idéia é que pesquisadores em todo o mundo tenham acesso a milhões de textos importantes com poucos movimentos em um mouse.

Mas há entusiastas do plano. O chefe do serviço de biblioteca da Universidade de Oxford disse que o projeto pode acabar sendo quase tão importante quanto as técnicas de impressão de livros."


Será esta a maior briga da história, pela democratização do conhecimento?

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24 maio 2005

Literatura Corporativista

Não consigo imaginar outra área onde exista tanto corporativismo como na literatura. O personagem mais comum da literatura é certamente o escritor. Se a proporção de escritores da literatura fosse a mesma na vida real, pelo menos o mundo seria mais culto. Mas, em compensação, seria um saco viver. Quase que invariavelmente todo escritor é um angustiado crônico. Não existem escritores casados, pais de lindos filhos, que escrevem numa boa durante o dia e à noite saem para tomar uma cerveja num barzinho próximo de casa. O mais comum na literatura é o escritor que luta para achar algum significado na sua vida inútil, como mais pontos de interrogação em suas vidas do que um questionário para solicitar financiamento. O grande problema da literatura na minha opinião é conseguir erradicar o número de escritores-personagens dos livros. Se conseguirmos isso, possivelmente os angustiados poderão pelo menos mudar de cara. Nunca vi, por exemplo, um frentista de posto de gasolina como personagem angustiado da literatura. Acho que, pelo menos pela surpresa da proposta, valeria a pena ler o livro.

Mas não pensem vocês que somente os 'Chico Buarques' da vida caem em tentação, parece que a proposta de escrever sobre as angústias do escritor é o pecado mais atraente da literatura. É tão difícil resistir a ele, que todos estão sujeitos a 'criar' mais um clone do personagem. Querem um exemplo? J.M. Coetzee, prêmio Nobel de Literatura em 2003. O mais recente livro do autor publicado por aqui chama-se "Juventude" e tem uma proposta interessante: deformar o chamado romance de formação. Assim, ao invés observarmos ações que moldam o personagem, vemos o tempo inteiro o personagem desejando ser moldado por eventos que nunca ocorrem. Isso o autor consegue fazer muito bem, criando um livro interessante sob este aspecto. Por outro lado, para tristeza de nós leitores, advinha quem aparece para nos fazer companhia? O terrível aspirante a escritor angustiado. O livro é cheio de pontos de interrogação e mostra um personagem que tenta se libertar e escrever algo relevante. O livro já começa com o aspirante a escritor, um jovem de dezenove anos, longe da casa dos pais e trabalhando para ganhar algum dinheiro, conseguindo assim uma vida independente. Está liberto, portanto, de uma de suas amarras. Se envolve com uma linda amante mais velha e a vida com ela é um saco (não estranhem, parece que eu também já li um monte de livros assim). De tanto tédio na vida dele, ela acaba abandonando-o e ele (claro!) nem liga. Ele sai da África do Sul e vai morar em Londres, onde tem que trabalhar até tarde para poder se sustentar. Com isso, o cansaço o impede de avançar com seus planos de escrever bem e ele passa a questionar sua vida e seus objetivos. Apesar de tudo isso, o livro não é ruim, apenas é um livro comum, que não traz nada diferente à baila.

Um escritor que conseguiu um prêmio Nobel e dois Booker Prize não pode ser um escritor ruim, mas mesmo assim fico me perguntando porque alguém assim se dá ao trabalho de escrever algo que poderia ter sido escrito por qualquer outro escritor. Pessoalmente, só escreveria sobre escritores com o objetivo de parodiá-los, num livro que nunca seria levado à sério e que certamente não esperaria vê-lo em mais do que uma edição. Imaginar que um livro desses possa vingar e se tornar leitura obrigatória para várias gerações de leitoras é ter um pessimismo gigantesco. Como leitor quero ver algo novo, diferente e original. Escrever um livro que poderia ter sido escrito por qualquer um é assinar um atestado de falta de criatividade. É não crer que a literatura possa ir além disso. E como um bom otimista, creio piamente que a literatura pode ser mais do que um mero corporativismo.

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23 maio 2005

O Que Há de Errado?

Bienal do Livro do Rio movimenta R$ 40 milhões em 11 dias

Projeto tenta estimular hábito da leitura em São Paulo

No Rio comemora-se uma Bienal de sucesso e em São Paulo reclama-se da falta do hábito de leitura. Isto é Brasil.

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20 maio 2005

Meme "Gosto Literário se Discute"

Veio do Alex Castro. Aí estão minhas respostas:

1 - Qual o livro que você mais relê?
A Bíblia

2 - E que livro relido ficou melhor?
"Grande Sertão Veredas", quando você já sabe que Diadorim é mulher, presta mais atenção em como Guimarães Rosa quer nos enganar o tempo todo.

3 - Dê exemplo de livros injustiçados que, apesar de muito bons, nunca foram devidamente louvados.
Não sei se dá para enquandrar assim, mas acho "Fogo Pálido" um grande injustiçado. Todo mundo aqui no Brasil conhece Nabokov por "Lolita", quando acredito que a verdadeira obra-prima dele é "Fogo Pálido".

4 - Cite um livro decepcionante, que frustrou suas melhores expectativas?
"Os Cus de Judas" de Antonio Lobo Antunes.

5 - E um livro surpreendente, isto é, bom e pelo qual você não dava nada?
"Pnin" do Nabokov, que é daqueles livros menores que você não consegue largar enquanto não acaba.

6 - Há cenas marcantes na boa literatura. Cite duas de sua antologia pessoal.
Sim, claro. A descrição do Sargento Getúlio, do Ubaldo, arrancando a cabeça do seu adversário é terrivelmente crua e bem escrita. A morte de Baleia em "Vidas Secas", do Graciliano Ramos, dá um nó na garganta (digam o que disserem do livro, mas que vale a pena ler pelo menos essa parte, vale). O capítulo "Neve", em "A Montanha Mágica" é uma aula de literatura. Droga era pra ser apenas duas e tem mais um monte para eu citar...

7 - Há personagens tão fortes na literatura que ganham vida própria. Cite os que tiveram esta força na sua imaginação de leitor?
Dom Quixote e Sancho. Os Compson de "O Som e a Fúria". Hans Castorp, de "A Montanha Mágica". Moses Herzog.

8 - Qual o livro bom que lhe fez mal, de tão perturbador?
"Os Ratos" de Dyonélio Machado.

9 - E qual o que lhe deu mais prazer e alegria
"O Gênio do Crime", tenho o hábito da leitura regular até hoje e ele tem grande parte da culpa.

10 - E o que mais lhe fez pensar?
A Bíblia

11 - Cite...

a) um livro meio chato, mas bom
"Mrs. Dalloway" de Virginia Woolf.

b) um livro que você acha que deve ser muito bom mas que jamais leu
Xiii, são tantos. "O Deserto dos Tártaros" de Dino Buzzati se é pra citar apenas um.

c) um livro que não é um grande livro, apenas simpático
"Os Trabalhadores do Mar" de Victor Hugo

d) um livro difícil, mas indispensável
"Ulisses" de James Joyce

e) um livro que começa muito bem e se perde
"O Vermelho e o Negro", de Stendhal. Mas mesmo com o final ruim, o livro é ótimo.

f) um livro que começa mal e se encontra
"Absalão, Absalão" do Faulkner.

g) um livro que valha apenas por uma cena ou por um personagem, ainda que secundário
"São Bernardo", de Graciliano Ramos.

12 - Qual o início de livro mais arrebatador para você?
"A Hora das Estrela" de Clarice Lispector

13 - De que livro você mudaria o final? Como?
Livros possuem vida própria, tem erros e acertos e por isso não acho que seja possível mudá-lo. Mudar algum livro significaria imaginar outro livro não lido e acho isso péssimo.

14 - Que livros ficariam muitos melhores se um pedaço fosse suprimido?
A resposta acima vale também pra esta pergunta.

15 - Que livros que não têm nada a ver com você, até contrariam algumas de suas convicções e que ainda assim você considera bons ou recomendáveis?
"O Apanhador no Campo de Centeio", que apesar de ser muito criticado, possui uma irresponsabilidade atraente, transmitida através de Holden Caulfield, que não vejo em nenhum outro livro.

16 - A literatura contemporânea é muito criticada. Cite livro (s), escrito (s) nos últimos dez anos, aqui ou no mundo, que mereça (m) a honraria de clássico (s) ou obra-prima (s).
Não arriscaria definir nenhum livro de hoje desta maneira. "Reparação" de Ian McEwan tem sido muito falado nos últimos dias, mas como ainda não li, fica aí a dúvida.

17 - Por falar em clássicos. Para que clássico brasileiro de qualquer época você escreveria um prefácio daqueles que incitam a leitura?
"A Pedra do Reino" de Ariano Suassuna.

18 - Cite um vício literário que considere abominável.
Simbolismos ridículos, como o cara ficar falando de coisas nojentas para retratar 'nosso' tempo.

19 - E qual a virtude que mais preza na boa literatura?
Ser um livro excelente que ninguém conseguirá imitar.

20 - De que livro você mais tirou lições para seu ofício?
Odeio tirar lições de livros.

21 - E que a frase ou verso que escolheria como epígrafe desta entrevista?
"O universo (que outros chamam a Biblioteca) compõe-se de um número indefinido, e talvez infinito, de galerias hexagonais... Como todos os homens da Biblioteca, viajei na minha juventude; peregrinei em busca de um livro, talvez do catálogo de catálogos; agora que meus olhos quase não podem decifrar o que escrevo, preparo-me para morrer..."
Jorge Luis Borges - A Biblioteca de Babel

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What Makes Him the Supersleuth?

"Holmes, described by Conan Doyle as "the most perfect reasoning and observing machine that the world has seen," isn't actually a particularly likable character, or even a very fully realized one. Raymond Chandler once remarked that Holmes "is mostly an attitude and a few dozen lines of unforgettable dialogue." He is languid, aloof, arrogant, supercilious and a bipolar druggie who in "The Sign of Four" is shooting up cocaine three times a day to overcome his lassitude. He has no friends other than Watson, and Mr. Lanza notwithstanding, he is almost certainly a virgin. In fact, there is something slightly inhuman about Holmes, though somehow that only adds to his appeal. We're fascinated by him, it seems, precisely because he is a kind of cipher, unlike anyone else we know or even have read about."

Leia o texto completo aqui.

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17 maio 2005

Os Dois Mundos de "Dom Quixote"

Um dos ensaios que mais gosto em "Outras Inquisições", de Jorge Luis Borges, é justamente sobre "Dom Quixote" e chama-se "Magias Parciais do Quixote". Na conclusão do ensaio, Borges escreve:

"...Por que nos inquieta que Dom Quixote seja leitor do Quixote, e Hamlet, espectador de Hamlet? Creio ter encontrado a causa: tais inversões sugerem que, se os personagens de uma ficção podem ser leitores ou espectadores, nós, seus leitores ou espectadores, podemos ser fictícios..."

Tal constatação, aparentemente maluca, é algo que faz de "Dom Quixote" um dos melhores livros já escritos. Cervantes apresenta ao leitor dois mundos, o mundo real e a fantasia, e ora aproxima os dois, ora os afasta. De um modo revolucionário na literatura, Cervantes coloca o personagem na pele do leitor e o leitor na pele do personagem, permitindo que fatos reais e a ficção se confundam. A ordem, para Cervantes, é que na literatura vale tudo, inclusive criar personagens que, no fundo, no fundo, são fãs de si mesmos. E às vezes também de seu próprio autor.

Quase quatrocentos anos depois da escolha inovadora de Cervantes em ser 'realista', dum jeito totalmente incomum, o que mais vemos poraí são reinvenções da mesma fórmula, o que só enfatiza quão importante é o Quixote para nossa literatura. Só para citar um exemplo, quem já leu o best-seller "O Mundo de Sofia", que aqui no Brasil também faz grande sucesso (a ponto de alguns o colocarem entre os melhores que já leram), vai encontrar a mesma fórmula por trás das aulas de filosofia que estão escritas. O livro é basicamente dividido em filosofia básica para leigos e personagens que interagem com a realidade, até que no fim conseguem finalmente sair do mundo da ficção e entrarem num mundo em que ficção e realidade estão fundidos. Tal qual o Quixote, dá a impressão de que podemos ser também fictícios. Somente há uma diferente: Cervantes é um mestre, enquanto Jostein Gaarder é apenas um mero aprendiz no mundo da literatura.

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16 maio 2005

Incentivos

"A partir de agora, a edição do livro no país passa a receber do BNDES tratamento de “setor prioritário”. A exemplo do que ocorreu no ano passado para o cinema, editoras e livrarias vão poder obter diretamente no banco empréstimos a partir de R$ 1 milhão e não mais com um mínimo de R$ 10 milhões (só uma editora no Brasil tinha potencial para um empréstimo dessa soma). Além disso, as taxas de juros nas linhas especiais são menores e os prazos de pagamento mais flexíveis. O financiamento também poderá ser usado para o adiantamento de direitos autorais. O setor vai ainda ter acesso ao Cartão BNDES para financiar, em até R$ 100 mil, a compra de insumos, como papel, ou de novas instalações e infra-estrutura — por exemplo, a construção de livrarias.

O coordenador Nacional do Livro e Leitura, Galeno Amorim, acredita que, depois da desoneração fiscal anunciada no fim de 2004 (a produção de livros no Brasil tornou-se totalmente isenta de impostos), estas medidas são importantes para que, a médio prazo, o preço do livro seja mais acessível ao bolso do brasileiro. A rentabilidade das empresas, diz ele, já começou a melhorar."


Parece piada, mas essa reportagem saiu em "O Globo". Ou seja, aproveitaram a Bienal para fazer lobby e ganhar 'incentivos'. Querem apostar que tudo isso só servirá para deixar o mercado ainda pior? Ou alguém aí ainda sonha que alguma pequena editora independente vai receber qualquer ajuda?

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Faça o que Digo, Não o que Faço

-Eu sou muito franca e tenho uma relação passional com o livro. Acho esse cenário, Riocentro, inadequado. É longe, é caro, é um recanto privilegiado que não aproxima o livro do público, só elitiza.

Frase de Lygia Bojunga, na Bienal do Livro.

Engraçado, a pessoa fala mal da Bienal estando na Bienal!?! É o mesmo que dizer: "Eu sou contra a pena de morte, apesar de todo dia preparar a injeção letal para esses pobres presos injustiçados, oh!" Ou seja, se promover uma Bienal 'elitiza' e ela acha que o livro não deve ser 'elitizado', o que será que essa dona está fazendo lá?

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Os Dois "Dom Quixote"

Existem dois "Dom Quixote". Um é a história de um homem 'com o espírito de um lutador que viveu para combater as injustiças e consertar o mundo', segundo a definição de Hugo Chávez. Este incita os leitores a luta, torna-os capazes de qualquer coisa, mesmo que metaforicamente isto represente uma luta contra moinhos de vento. Nunca li este, mas creio que sua leitura seja muito chata. O outro, o que eu li, é a história de um personagem apaixonado por livros, tão apaixonado que resolve transformar a fantasia em realidade. Aí ele passa a participar de uma bobagem atrás da outra, dando a prova de que livros não servem para nada. Livros só servem para serem lidos. Alguns, talvez, para decorar estantes. Só. Toda vez que você ouvir alguém dizendo que o mundo pode ser consertado e para isso basta ler um livro, pode estar certo de que esta pessoa não sabe o que é um livro, muito menos um livro que tem 400 anos de vida.

Atribuir poderes mágicos a um livro é algo bem estúpido. O tempo que se gasta lendo ou assistindo televisão tem o mesmo valor. Não adianta tentar provar que um livro faz isso ou aquilo, o livro não tem poder para fazer nada. É só um amontoado de palavras impressas. Quando a pessoa quer ver a realidade através da leitura, a única coisa que ela consegue é desviar seus olhos para o que está a sua frente. E um livro clássico como "Dom Quixote", é clássico justamente por isso, por ser apenas arte. A paródia que Cervantes escreve, esculhambando os livros de cavalaria que era lidos na época e admirados, deveria deixar claro tudo isso aos leitores do primeiro "Dom Quixote". Mas como o próprio personagem principal da obra, esses leitores insistem em atribuir realidade à fantasia, distorcendo tudo à sua volta e fazendo um papelão perante todos.

A paródia escrita por Cervantes tem também outra grande característica: ele é um livro que homenageia o leitor. Borges, um grande leitor de "Dom Quixote", afirmava que Cervantes era também um grande leitor, daqueles que lêem até papéis rabiscados que são encontrados no meio da rua. Dessa forma, nada tão próximo de si mesmo do que um personagem que enlouquece por causa do que leu. E à medida que lemos a obra, personagem e escritor vão se aproximando com base num ponto em comum: ambos tiram grande prazer na leitura. Quixote cita Cervantes (na primeira parte, no capítulo XL, até o nome "Saavedra" é citado) e Cervantes incorpora o Quixote (na segunda parte, onde os protagonistas do Quixote são também leitores da primeira parte). Portanto, se tivesse que separar um livro que falasse dessa antiga paixão que é a leitura, esse livro seria "Dom Quixote".

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Quantos Livros são Lidos de Verdade?

"No entroncamento de números e estatísticas, um tema que mereceria mais análise é o fosso entre venda e leitura de livros. Livro vendido não significa livro lido. E tanto o governo quanto os editores não deveriam ficar inteiramente satisfeitos apenas diante das estatísticas de venda ou de números de títulos publicados. Digo isto porque fiquei estarrecido quando li que sondagem feita nos Estados Unidos revelou que 92% dos livros não foram lidos até o fim. Como se vê, a dificuldade não é só com livro de Joyce ou Guimarães Rosa. As pessoas compram porque fulano falou ou porque viram na lista ou assistiram a uma entrevista do autor. Quem sabe, até a capa pareceu interessante? Mas ao começarem a ler, pronto, empacam. E o livro fica perambulando pelos móveis da casa como um objeto não-identificado. Daí que seria revelador saber que livros estão sendo lidos inteiramente até o fim e por quem."

Affonso Romano de Sant'Anna levanta alguns pontos interessantes neste texto da sua coluna do jornal "O Globo".

E você? Costuma ler todos os livros que compra, mesmo que demore anos? Ou compra alguns livros que sabe que não vai ler?

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Tudo Atrasado

Acredito que poucas atividades da vida consomem tanto tempo quanto a implantação de um sistema de informática. Geralmente o que você fez não é o que o usuário queria e o que o usuário queria não é o que ele realmente disse que queria. Fora que uma misteriosa entidade que possui vida própria (leia-se Windows e IIS) insiste em fazer você passar vergonha na frente de toda a cúpula da empresa. Apesar do atraso, encontrei boas notícias na volta: ontem o site apareceu entre os mais citados do Toplinks. O Toplinks, para quem não sabe, é um medidor que tenta apresentar tudo o que de mais interessante aparece na web. Se algum site é muito citado, é porque provavelmente alguma coisa interessante apareceu lá.

Quanto ao Clube de Leituras LLL, também sei que estou atrasado, mas devo postar o primeiro texto em breve.
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Droga, onde está meu "Dom Quixote"? Quem arrumou minha mesa?

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11 maio 2005

Penguin Comemora 70 Anos

"Alguns acreditam que a Penguin e suas coleções, principalmente a Pelican, fizeram mais pela educação e pela cultura do povo britânico do que todas as universidades juntas."

Leia a reportagem completa.

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10 maio 2005

Pensamentos Vagos do Cotidiano

Fico aqui acompanhando as estatísticas desse blog e me vem sempre à mente a pergunta: por que cada dia tenho mais leitores e cada vez menos comentários? O que dizem por aí é que literatura 'não rende assunto'. Será?

Aos que não falam do assunto por medo de parecerem exibicionistas, o excelente conselho de Alexandre Soares Silva:

"Incidentalmente, por que é considerado exibição dizer o que se está lendo? Quando Mike Tyson falava durante horas sobre lutas de boxe clássicas - e ele conhecia muito da história do boxe - isso era ruim? As pessoas diziam, "Ah, que metido"? Se você gosta de algo, fale sobre esse algo - e o resto do mundo be damned, I say."

Portanto amigos, fiquem à vontade neste blog. Falem!

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Data de Validade

Alguns livros deveriam vir com data de validade. Não que isso tenha grande importância, eu por exemplo muitas vezes vou ao supermercado e compro alimentos com a data de validade próxima do vencimento simplesmente por não me preocupar em olhar a data impressa. Mas pelo menos a editora poderia se defender caso você reclamasse do produto, dizendo que a data estava ali impressa, você é que não se atentou a ela no ato da compra. Afirmo isso porque existem livros que são perecíveis. Não falo do objeto em si, pois todos eles, é claro, se degradam com o tempo. Digo isso pelo seu conteúdo. Alguns livros são simples perda de tempo se forem lidos após a 'data do vencimento'.

Apanhem o livro "Aquele Estranho Dia que Nunca Chega" de Luis Fernando Veríssimo e vocês terão uma idéia do que eu digo. Ali estão reunidas crônicas escritas para os jornais, do período (se não me engano) de 1997 à 1999, sobre política e economia. O problema é que boa parte dos textos são críticas a ações do governo Fernando Henrique e fatos correlacionados da política do período. Quase ninguém se lembra da maior parte dos fatos que são criticados, de modo que os textos parecem escritos por uma criança birrenta que faz pirraça com tudo que o pai fala ou faz. E aqueles fatos que a gente acaba se recordando, quando lemos as críticas, parece que o problema não era assim grande coisa, afinal o tempo atenua tudo. Com isso, quando o autor escreve, não conseguimos mais identificar as ironias contidas no texto. O humor das frases aparece menos e a leitura se torna cansativa. O maior exemplo para mim de que os textos estão num passado longínquo é uma crônica que o autor escreve a respeito da Tiazinha (Tia quem?). No final, surge a sensação de que estamos lendo um jornal velho, com notícias que não farão nenhuma diferença para nós.

As editoras que se arriscam portanto a coletar textos em revistas e jornais de escritores e montarem uma coletânea deveriam sempre se perguntar se aquelas idéias e opiniões, passados dois ou três anos, terão alguma importância. Será que o texto vai ser atraente? Ou será que somente fará surgir aquele comentário: 'Nossa, como estou velho'? No caso de crônicas ou cartas escritas por autores já mortos, a situação é ainda mais delicada. O leitor que comprar o livro poderá ter aquela sensação de que a editora 'raspou a panela' com tudo o que podia e soltou no mercado um livrinho chinfrim só para poder ganhar algum trocado. Ao leitor mais desatento, portanto, fica o aviso: ao entrar numa livraria procure a data de validade no livro. Se dentro do texto você encontrar fatos datados sem qualquer importância num texto afaste-se, no futuro o livro só servirá para lhe ensinar que o tempo passa rápido demais e por isso não vale a pena desperdiçá-lo.

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09 maio 2005

Bienal do Livro

Motivos para não ir à Bienal do Livro no Rio:

1 - Vai ter Jô Soares e Frei Betto autografando seus livros.

2 - Uma prévia do que vai ser, segundo matéria em "O Globo":

— A Bienal do Livro deste ano se tornou algo monumental — reconhece e vibra Rosa Maria Barboza de Araujo, responsável desde 1999 pela programação cultural do evento.
(...)
— Sou contra o elitismo. Quero ver o livro nas mãos da minha empregada, da manicure, do porteiro. E eu adoro o espetáculo, porque gosto de sentir emoção. Quero me emocionar quando leio e quando ouço o escritor. Os eventos da Bienal funcionam como trailer de um filme: você ouve o autor e quer ler seu livro. Já vi livros se esgotarem porque as pessoas se emocionaram com o que ouviram.


Imaginei o porteiro do meu prédio se emocionando com um Zé das Couves qualquer e comprando seu livro para ler no ônibus...

3 - Destaque para Jean-Paul Sartre.

4 - O ingresso custa R$ 10,00 (sem essa do reembolso, pode ser uma fria) - valor de um livro (que pode ser muito bom) num sebo.

5 - Filas, uma luta para achar estacionamento (também pago), livros caros.

Se você ainda quiser arriscar, não diga que não avisei:

ENDEREÇO: Riocentro — Av. Salvador Allende 6.555, Barra da Tijuca. Tel: 2442-1300. A Bienal ocupa três pavilhões: Verde, Azul e Vermelho. A entrada é pelos pavilhões Verde e Vermelho.
HORÁRIO: Quinta, dia 12 (abertura): das 12h às 22h. Sextas (dia 13 e 20): das 9h às 23h. Sábados (14 e 21): das 10h às 23h. Domingos (15 e 22): das 10h às 22h. De segunda a quinta (16 a 19): das 9h às 22h.
INGRESSO: R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada para estudantes e idosos acima de 60 anos; é preciso mostrar documento com foto). Nas compras a partir de R$ 50, em estandes participantes da campanha “Aqui seu ingresso é reembolsado”, o valor pago pelo ingresso é devolvido. Menores de 1 metro não pagam. Ingressos à venda em diversos pontos da cidade e no site www.bienaldolivro.com.br.

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05 maio 2005

Contos da Era da Informação I - A Descoberta do Outro (em Palavras)

Não se lembrava de como ele havia parado ali. Na verdade não se lembrava de quase nada da noite anterior. Passeio no shopping, alguns chopes, papo furado, ela começa a falar sobre alguns autores, o papo vai esquentando, até que vem a decisão de ir à livraria mais próxima. Apanhou alguns exemplares novos, ela falando sobre Deleuze e Foucault, sacou o cartão de crédito e depois não se lembrava de mais nada. Foi o álcool, com certeza. Como ia denunciar-se assim, irracionalmente? Foi uma bela sabatina pelas prateleiras. Sabia que havia coletado vários exemplares enquanto discutia a estética da obra de Borges. Como não vira que havia apanhado logo aquele autor? Não poderia ser distração. Talvez o engano se deveu justamente por isso... claro! Selecionou um Borges e como o nome é parecido (talvez estivesse ao lado), ele foi comprado por engano. Agora estava ali, sendo exposto na sua estante, quase gritando para chamar atenção. Não, não foi isso. A vendedora ficou tentando empurrar aquelas novidades que ficam na primeira prateleira. Sim, ela havia falado algo sobre um tal livro perturbador. 'Perturbador' foi essa a palavra usada. Uma pessoa que te recomenda um livro porque ele é perturbador merece ser condenada. Prisão perpétua. Ao me virar para apanhar um livro ela deve ter enfiado ele no meio da pilha. Aquela vendedora tem cara dessaszinhas que entram na sua frente num sebo e pegam o livro que você iria pegar e depois saem com um sorriso de um lado a outro do rosto. Às vezes até comentam no caixa que 'procurou aquele livro durante anos', só para te aborrecer ainda mais. Ah mas se eu voltar lá! Foi ela sim. Sabia que minha reputação estaria manchada para sempre e por isso o fez. Agora precisava ser rápido, antes que ela acordasse. Apanharia o livro e o jogaria na lixeira. Não, não, ela poderia abri-la e aí tudo estaria terminado. Ela sempre tinha aquela mania idiota de tirar o miolo do pão e depois jogaria tudo fora, obviamente. Iria abrir a lixeira e pronto! Seria descoberto. Precisava pensar em um lugar secreto. Onde deveria escondê-lo? Se ele não tivesse aquela capa berrante que aparece até no escuro, poderia deixá-lo jogado no cesto de revistas. Ela nunca lia revistas, odiava revistas. Era, portanto, o lugar ideal. Mas, com aquela capa ia ser impossível. Droga, um barulho! Ela deve estar acordando! Poderia colocá-lo em seu armário, ela nunca iria abri-lo. Mas e se ela acordasse com o barulho? Precisava ser rápido. Aonde havia uma sacola? Isso, ensacolá-lo e enfiá-lo no meio da roupas. Onde havia deixado as sacolas da loja daquela vendedora terrorista. Terrorismo, isso! O que ela fez está até na moda. Escolhem um cara qualquer, inocente, e destroém a vida dele. Lutam pela democratização do ensino, li isso num jornal outro dia. Cadê a maldita sacola, droga?!? Ali, ali, pronto, tudo ok agora, é só me acalmar um pouco e...

- O que é isto aí na sacola?
- Ãhn?!? O quê?
- O QUE É ISTO AÍ NA SACOLA?
- Umas coisas que eu tô juntando aqui...

Ela avança sobre ele, toma-lhe a sacola, abre-a e retira o livro.

- Eu posso explicar é que...
- PODE EXPLICAR?!? PODE?!?

Ele tenta encontrar palavras, formular uma frase de efeito pra tentar desviar a atenção dela.

- SEU... SEU... SEU EGOÍSTA!!! Gritou ela descontrolada.
- Você é sempre assim, é só eu comprar um livro qualquer que você quer ler antes que eu!!! Não bastava aquela pilha que você comprou ontem, né??? Não, você não pode ler os seus, você tem que apanhar os meus, né??? Sabia que você ia inventar alguma coisa, mas escondê-lo de mim é muita cara-de-pau hein??? Pois pra mim chega!!! CHEGA!!! Estou cansada do seu intelectualismo niilista!!!

Enquanto ela batia a porta chorando, ele sorria aliviado - estava tudo bem afinal.

Para Karine

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Ter Não é Poder Ler

Aos estudantes de jornalismo que chegam aqui e te perguntam se você leu todos esses livros, o que você responde?

Às vezes, minto dizendo que já li tudo. Mas também explico que existem livros aqui que não devem ser lidos de uma vez só, como os dicionários. Mas há uma certa decepção quando digo que não, não li não. Mas alguns eu já li muitas vezes. São livros de consulta, como o “Casa Grande e Senzala”, que está todo marcadinho, eu já vou nele no escuro. Pena que não tem mais lugar para guardar livro. Todo mês a Mary, minha mulher, descarrega livros numa biblioteca chamada Zuenir Ventura, da qual me orgulho muito.

Zuenir Ventura em entrevista ao site No Mínimo

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04 maio 2005

Desisto!

A maioria dos bons livros que lemos não saem nunca da nossa cabeça. Uma hora ou outra encontramo-nos numa situação que nos faz lembrar de um diálogo, uma idéia ou uma simples frase daquele livro que não sai da nossa cabeça. Parece que quanto mais nos lembramos dos personagens, da história, de algum item específico do romance, mais gostamos da obra. Isso, como disse, na maioria da vezes. Alguns livros se tornam geniais, justamente por não estarem nesta categoria. Alguns livros são como aquele CD que ou escutamos todo, ou não escutamos. Isso porque não faz sentido ouvir uma ou duas músicas, o consideramos bom porque temos que ouvi todo, não apenas parte. Assim como este CD, alguns livros são excelentes justamente porque se isolarmos as partes, não encontramos nada de especial, mas ao reuni-las o livro não sai de nossa cabeça.

Eu leio, releio, penso e chego a mesma conclusão sempre: "Água Viva" de Clarice Lispector não sai da minha cabeça e eu não sei o porquê. Parece uma melodia musical que ouvimos uma só vez e vamos repetindo-a mentalmente por um longo tempo. Há algum personagem ali que me chama atenção? Não. Existe uma história maravilhosa que nos faz rir, chorar, emocionar-se ou algo do gênero? Não. Enfim, o que existe ali, que faz com que eu considere o livro bom? Não sei. Sei que a primeira vez que eu apanhei o livro e comecei a lê-lo não consegui fechá-lo sem antes terminá-lo. O que me prendeu o tempo todo poderia ser definido como 'curiosidade', mas não é exatamente isso. Na verdade, eu duvidei que ela iria conseguir ir até o final do livro escrevendo da mesma maneira que iniciou e não parei até comprovar que ela realmente conseguiu. Em resumo, não há como separá-lo em partes, o 'todo' é que se destaca. "Água Viva" é talvez o romance mais radical da literatura brasileira, o mais ousado. A minha impressão do romance é que ali está escrito uma luta individual da narradora com seu subconsciente, com o objetivo dela apresentar-se o mais transparente possível para o leitor. A impressão que se tem é que o livro todo foi escrito de uma só vez, mas ao contrário, o texto foi trabalhado exaustivamente e inclusive seu título só foi escolhido nas vésperas de ser publicado.

Este é sem dúvida o livro mais paradoxal que li, se por um lado ele não sai da minha cabeça, por outro não consegui definir o porquê. Gosto demais do texto e pronto. Quanto mais informações procuro sobre ele, menos informado me sinto. Se alguém tem algo a dizer sobre ele fique à vontade em usar a caixa de comentários.

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Liberdade de Expressão

A Justiça de Goiânia determinou a busca e apreensão de edições do livro “Na toca dos leões”, do escritor Fernando Morais, por ofensa ao deputado Ronaldo Caiado. Leia mais aqui.

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03 maio 2005

Xeque

Quem tem costume de fazer palavras cruzadas, sabe que algo extremamente decepcionante é apanhar um desafio qualquer e depois de alguns minutos perceber que o desafio foi facilmente vencido. Não havendo qualquer esforço mental, o passatempo perde totalmente a graça. Em outros casos, a decepção vem disfarçada e você só se dá conta algum tempo depois. Por exemplo, numa partida de xadrez em que o seu oponente parece seguir uma difícil linha de raciocínio e quando você se dá conta, ele entrega o jogo à você num movimento. O que parecia ser um desafio, vira uma anedota. Percebam que o problema acontece porque previamente criamos expectativas, algumas induzidas por indícios muitas vezes duvidosos.

Como leitores estamos acostumados a criar expectativas por causa de alguns indícios que notamos antes de finalmente resolvermos ler uma obra. Observamos, por exemplo, a capa. Percebam como as capas da coleção de livros policiais da editora "Companhia das Letras" nos induz a conclusão de que há mistério em seu conteúdo e como somente as capas criam uma enorme vontade de solucionar esses mistérios. São capas negras, fotos sem muitas pistas, mas que chamam nossa atenção, deixando-nos curiosos. Outro indício que nos induz a criar expectativas são os dizeres nas contracapas ou orelhas. Falam um pouco sobre a obra, sobre outras obras do autor e sobre o próprio autor. Por último, a opinião que ouvimos de outros sobre a obra é talvez a maior fábrica de expectativas que existe. César Miranda, do maravilhoso Pró Tensão, escreveu num texto que "se todo mundo escrevesse um livro a respeito do livro que leu, muita coisa interessante se veria". Isso, justamente porque cada um consegue ver um aspecto diferente num mesmo livro.

Por tudo isso, apesar de alguns livros parecerem curiosos, tento controlar minhas expectativas. Não quero imaginar que terei um belo quebra-cabeças pela frente e encontrar na verdade um jogo infantil de montar. Por isso tudo comecei a ler "O Leilão do Lote 49" de Thomas Pynchon com bastante cuidado. Já ouvi gente cultuando Pynchon como o maior escritor americano do século XX. "O Leilão do Lote 49" dizem ser a obra que melhor serve como porta de entrada para conhecermos o trabalho do autor. A história é em si é simples: Édipa, a personagem principal, é escolhida pelo ex-namorado morto a cuidar da venda de alguns selos e a partir daí ela vai descobrindo uma conspiração internacional, o Tristero. Uma espécie de paródia do gênero policial. Mas apesar da aparente simplicidade, nada lá é tão óbvio. A obra a todo momento grita 'xeque', encurralando o leitor, que precisa se manter atento a detalhes que fazem diferença e tentar interpretar cenas que não parecem fazer qualquer sentido. Existem pistas falsas disfarçadas e pistas verdadeiras que parecem falsas. Por exemplo, numa pesquisa, descobri que a empresa 'Turn and Taxis' que é citada o tempo todo, apesar da falsa aparência, realmente existiu. Mesmo as pistas mais óbvias são também curiosas. O nome da personagem principal (Édipa) é a primeira, remetendo ao rei Édipo e sua busca pela verdade a qualquer preço (mesmo que seja um preço alto para si mesmo). Existe também a questão da comunicação: Édipa recebe uma mensagem no início do romance e a partir dela inicia-se uma investigação sobre uma conspiração envolvendo, claro!, mensagens. No final, a paranóia de Édipa se torna nossa própria paranóia, desconfiamos de tudo e de todos e nunca temos certeza de nada. Chegamos ao final como Édipa, sozinhos, como qualquer leitor e seu livro. O mistério permanece e os 'xeques', que ouvimos durante a leitura da obra, permanece ecoando nas nossas cabeças. Relutamos em entregar os pontos e admitir o xeque-mate final, queremos descobrir mais pistas, reler a obra com mais atenção, enfim, solucionar o desafio proposto.

Durante todo o romance o emblema do Tristero, uma trompa, aparece nos confundindo. A sensação é que estamos cercados pelo mistério, sem conseguir decifrá-lo. Mas não desistimos, assim como Édipa, e chegamos até o final aguardando o leilão do lote 49, onde os selos serão vendidos. As dúvidas permanecerão, provando que o nosso oponente (o autor) é um excelente jogador. Um presente para aqueles que estão cansados de ler obviedades.

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Woolf e Mansfield

Pretendia escrever algo sobre os lançamentos da "Cosac & Naify" dos contos de Virginia Woolf e Katherine Mansfield. Antes que eu pudesse ter o trabalho, encontrei este texto extremamente bem escrito sobre os livros. Ele já diz tudo.

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02 maio 2005

Morre Lúcia Machado de Almeida

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