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29 abril 2005

O Efeito Fermento

Os estudantes geralmente possuem uma regra básica para aqueles professores ridículos que passam trabalhos com um número mínimo de páginas: aumentar para conquistar. Quando eles espremem o cérebro e não consegue extrair mais nada de lá para preencher pelo menos o número mínimo de páginas, eles descaradamente mudam o tamanho da fonte para maior. Com uma capa bem trabalhada e uma encadernação profissional, o trabalho que antes era insatisfatório, corre o risco de ser apresentado aos demais alunos como exemplo de empenho e dedicação. Aumenta o volume, sem aumentar a qualidade do texto, mas mesmo assim o resultado é um considerável aumento da nota. Um recurso engraçado, porém infantil.

Toda vez que eu apanho um livro numa livraria que possui uma fonte enorme, eu fico me perguntando se a editora também não quer me enganar. Existe obviamente uma relação direta entre o número de páginas de uma obra e seu preço, então é de se supor que se quisessem cobrar um preço elevado por algum livro cujo texto é pequeno, a fórmula 'aumentar para conquistar' seria uma ótima opção. Pode ser que exista de fato um público-alvo para obras com uma fonte maior, talvez pessoas de mais idade que possuem dificuldade de leitura de letras pequenas. Mas é muita coincidência que a editora esteja tentando atender a este público imprimindo assim justamente textos pequenos. E maior coincidência ainda é ver que o preço acompanha (e bem!) o aumento de páginas. Para exemplificar este fenômeno, apanhem numa livraria qualquer o livro "33 Contos Escolhidos" de Dalton Trevisan. São cerca de 270 páginas que sem muito esforço caberiam na metade. Agora apanhem um exemplar de "Primeiras Estórias" de Guimarães Rosa. São 240 páginas diagramadas de modo elegante e satisfatório. Comparem o preço. Parece que estamos levando a metade de um texto pelo preço de outro. E não estou comparando dois livros sem nenhuma relação. Ambos são livros de contos e ambos os autores são brasileiros. Porém, são de editoras diferentes. Aliás, as obras de Graciliano Ramos sofrem do mesmo mal: textos ampliados a cada nova edição. Novamente o preço acompanha o aumento de páginas.

Imagino que se uma editora quer colocar 'fermento' num texto que pelo menos disfarcem de uma forma melhor e que represente vantagem para o leitor. Que tal se ao invés de aumentar a fonte, introduza a edição com um ensaio de qualidade? Talvez poderiam contratar um bom ilustrador que fizesse um trabalho para diferenciar a edição atual de sua antecessora. Enfim, aumentar as páginas com o que realmente importa: qualidade. Quando a editora simplesmente aumenta o número de páginas sem uma qualidade evidente em relação à edição anterior, a única idéia que ela passa é que, como os estudantes, espremeu-se o cérebro e não se encontrou nenhuma outra alternativa.

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28 abril 2005

Comentário Sobre As Escolhas de Livros para o Vestibular da UFMG 2006

Gostei das indicações de livros para o vestibular da UFMG 2006. Diferente do que estávamos acostumados, as indicações do ano passado foram uma total surpresa. Parece-me que houve uma mudança nos parâmetros utilizados e que o processo vem amadurecendo ainda, mas acredito que as escolhas deste ano foram melhores do que as do ano passado. Para quem não sabe, o vestibular da UFMG indica cinco obras por ano que deverão ser lidas pelos candidatos. A lista geralmente é composta por dois romances, dois livros de poesia e um 'coringa' (crônicas, contos ou algum outro gênero). O que vinha acontecendo é que os livros geralmente eram escolhidos entre os já consagrados 'clássicos'. Muitos, apesar de serem bons, eram bem distantes dos jovens estudantes. Por exemplo, no vestibular de 2003, "Broquéis" de Cruz e Souza, foi um dos livros escolhidos, um livro exigente para os jovens que em sua maioria não estão acostumados com a leitura regular de obras. O resultado quase sempre era uma infinidade de vestibulandos que nunca liam estas obras, recorrendo a um cursinho pré-vestibular para interpretá-las ou a algum desses manuais péssimos vendidos nas bancas. No ano passado, o que me pareceu, foi que a UFMG se deu conta desse problema e fez escolhas bem mais próximas ao leitor jovem. Duas grandes surpresas foram as escolhas de "A Eterna Privação do Zagueiro Absoluta" de Luís Fernando Veríssimo e "Nove Noites" de Bernardo Carvalho. A primeira, porque além de ser um livro de crônicas em sua grande maioria sobre futebol, ainda possui uma linguagem bastante acessível, o que geralmente faz a obra ser descartada em indicações para vestibulares. Já a segunda, por ser um livro recente de um autor contemporâneo, com um trabalho ainda em andamento. As duas, para mim, foram ótimas escolhas, indicando que o vestibular além de ser extremamente bem preparado quer apresentar-se moderno. Já com respeito à obra "Roda do Mundo" de Edimilson de Almeida Pereira e Ricardo Aleixo, acho que a UFMG errou feio. O objetivo claro da inserção da obra foi a valorização da cultura negra, através de uma obra que apresenta diversos elementos ligados à ela. Não consegui ver mais nada que justificasse a escolha da obra, já que tanto a obra como seus autores são uma incógnita para a maior parte do público. O acesso ao texto foi difícil, pois a obra estava esgotada, e somente muito tempo depois que o anúncio das obras escolhidas foi feito é que o livro voltou a ser vendido. Com isso, o efeito foi o mesmo: muitos vestibulandos não leram o livro. Os que arriscaram se deram bem, já que sua leitura foi dispensável, pois a UFMG quase nem colocou questões a seu respeito. Outro ponto desfavorável foi o volume de leitura pequeno. Li todas as cinco obras em duas semanas. Acredito que o aluno que não estava acostumado com uma leitura regular pode ter gasto no máximo um mês para ler todas. A única obra que exigia um pouco mais foi a de Joquim Nabuco, e que mesmo assim não havia nada de mais. Não acho bom que as universidades coloquem um número absurdo de livros em seus vestibulares, mas também vejo que o vestibular é uma boa oportunidade para que novos jovens descubram o prazer da leitura. Quando ela é mínima, pode ser que a oportunidade não seja plenamente aproveitada.

Bom, por tudo isso, acredito que as obras deste ano são melhores. Parece que ao contrário do ano passado, neste ano existe um parâmetro claro para escolha das obras, que é abranger textos das diversas regiões do país. Temos um texto clássico ("Carta" de Pero Vaz de Caminha), um da região norte (Inglês de Souza), um do nordeste (Patativa do Assaré), um da região sudeste e de Minas Gerais (Guimarães Rosa) e um do sul (Erico Verissimo). Desses li três: "Carta", "Grande Sertão Veredas" e "Um Certo Capitão Rodrigo". Patativa do Assaré parece ser o texto menos acessível de todos, mas mesmo assim não creio que será tão difícil encontrá-lo em livrarias. A surpresa foram os "Contos amazônicos" de Inglês de Souza. Imaginei que por ser um texto clássico e antigo, estivesse amplamente disponível em formato eletrônico pela internet. Infelizmente ainda não o encontrei gratuitamente, somente nas livrarias. Com respeito à qualidade, vejo que todos os textos merecem uma leitura. Patativa do Assaré, que ainda não li, representa uma das escolhas mais acertadas. Não há como não discutir literatura do nordeste sem discutir literatura de cordel. De qualquer forma, a tentativa de aproximar o vestibulando à obras interessantes e estimulá-lo ao hábito de leitura será muito melhor sucedida neste ano do que no ano passado. O problema do volume de leitura também parece que foi sanado: o volume deste ano será um pouco maior do que o ano passado, mas não creio que será excessivo.

Abordarei em posts futuros cada uma das cinco obras e discutirei sobre alguns aspectos relevantes que deverão ser apreciados pelos seus leitores.

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Absurdo

Obras raras roubadas são devolvidas à UFMG

O pior é saber que algumas estavam sendo vendidas em sebos.

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27 abril 2005

Ainda Sobre Crítica Literária

Continuando a discussão à respeito do valor da crítica literária gostaria de tecer alguns comentários sobre a entrevista de Eduardo Portella, citada neste post da Dani. Em primeiro lugar, discordo do ponto de vista expresso de que o crítico é 'alguém destinado a ditar o gosto'. O bom crítico literária trabalha com o objetivo de analisar obras e não impor nada. Ele 'aponta orientações' sim, mas isso não significa imposição. Também ele diz de 'um período de literatura plena e de grandes certezas'. Ora, este período nunca existiu! Antônio Cândido aponta muito bem que antes de Sílvio Romero haviam grupos de críticos que apresentam manuais e estudos literários, mas estes não possuíam um trabalho contínuo de reflexão teórica sobre literatura brasileira. Sílvio Romero, portanto, teve um papel muito importante nisso, pois suas críticas começaram a apresentar sustentação teórica e seu projeto pessoal envolvia transformar a crítica então existente (que era bastante limitada) em ciência. Seu modelo, embora bastante importante para a formação da crítica atual, posto em execução mostrou algumas deficiências que foram e ainda são apontadas e discutidas. Mesmo na época de publicação da sua principal obra, a "História da Literatura Brasileira", Sílvio Romero foi criticado por outros, que apontavam inclusive contradições na sua obra. Daí, surgiram outras obras que fizeram com que o trabalho do crítico literário evoluísse, expandindo-se e tornando-se mais valioso e instrumentado. Portanto, não existe um período de certezas, conforme ele diz, mas sim trabalhos de críticos que foram importantes, mas não isentos de discordâncias. Aliás, isso é natural em qualquer área do conhecimento humano. Além do mais, temos que admitir que o cenário onde a crítica atua sofre constantes mudanças (no nosso tempo isso ocorre de forma cada vez mais veloz), o que faz com que alguns pontos de vista antes defendidos sejam abandonados, pois os instrumentos utilizados para obter conclusões foram modificados e atualizados. É isso que faz com que alguns escritores antes valorizados sejam esquecidos e outros sejam redescobertos. Mas isso não invalida o papel da crítica, afinal o que se busca através dela não são certezas e sim (conforme já disse) orientações. Por fim, concordo com o comentário dele de que "o crítico hoje é um leitor a mais, um pouco mais instrumentalizado do que os outros, mas apenas um leitor". O bom crítico é um leitor experiente, que tem conhecimento teórico da literatura e este conhecimento lhe permite ressaltar alguns pontos, fazendo com que ele chegue a uma conclusão positiva ou negativa. Naturalmente em ambos os casos, deve haver uma base teórica que reflita o porquê de tal opinião.

Com respeito a seu comentário Dani, também tenho algumas observações. Eu não afirmaria que o leitor é 'incompetente' como você diz e sim que possui limitações naturais. A primeira é naturalmente geográfica. Um leitor de Minas Gerais consegue tirar muito mais proveito de "Grande Sertões: Veredas" do que um leitor da Indonésia, que nunca visitou o Brasil e nem sabe nada sobre o país. A segunda, o idioma. Ler "Ulisses" é bem diferente de ler "Ulysses". Alguns enigmas do livro estão escondidos em estruturas da língua e são impossíveis de serem traduzidos. A terceira são as próprias referências do leitor. Se existem alusões à Bíblia, mas o leitor nunca a leu, provavelmente ele não irá percebê-las. O bom crítico ajuda o leitor a amenizar um pouco estas limitações, dando mais informações sobre o texto. Claro que para alguns leitores, isso será desnecessário, por exemplo, se nenhuma das três limitações apontadas acima for empecilho para ele, mas na média, isso faz com que os leitores tirem maior proveito, afinal a maioria possui pelo menos uma dessas limitações. Daí, afirmo que mesmo um leitor com pós-doutorado em literatura pode tirar proveito da leitura do trabalho de um bom crítico sobre uma obra. Com respeito a sua afirmação de que 'quem aponta características geográficas, sociais ou culturais em um livro é a editora ou o tradutor desse livro' é certa apenas parcialmente. Alguns pequenos pontos podem ser esclarecidos por uma nota ou um apêndice, mas análises mais cuidadosas não são o caso. No caso de Joyce, por exemplo, os trabalhos magníficos de Harry Blamires em "The New Bloomsday Book: A Guide Through Ulysses" e de Don Gifford em "Ulysses Annotated" são prova clara disso. São notas extensas e informativas que refletem um trabalho gigantesco e cuidadoso de pesquisa que ambos tiveram. Um leitor que queira fazer algo semelhante talvez não teria tempo nem disposição para procurar tantas fontes diferentes e reuni-las, como ambos fizeram. Daí o seu valor.

Em suma, o que quero dizer é que a boa crítica literária serve a um papel positivo, embora é comum ser vista de forma negativa. Ela não é restritiva, nem é uma ditadura que impõe o que deve ou não ser lido, este papel cabe ao leitor. Pelo contrário, ela amplia a capacidade de escolha do leitor comum, procurando justamente eliminar os 'achismos' e colocar uma obra sob uma luz diferente, com toda uma base teórica por trás, com o objetivo de se chegar a um ponto de vista mais consistente do que apenas o gosto pessoal de cada um. Quando o leitor delega sua capacidade de escolher o que deve ser lido ao crítico literário, o problema é dele e não do crítico. Quando o leitor se informa, através da boa crítica literária, sobre uma determinada obra ou autor, ele está apenas reunindo mais uma informação para tomar sua decisão e assim tirar maior proveito qualquer leitura.

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26 abril 2005

Crítica Literária é Importante?

Lendo este post da Dani e a argumentação do dia 25/04 da Olivia sobre o post, além dos comentários postados, pude perceber duas coisas:
1 – A crítica literária (ou crítica de um modo geral) geralmente não é vista com bons olhos por aqui;
2 – Há quase sempre uma associação entre produção literária (arte) com crítica literária (trabalho de pesquisa e esclarecimento);

O primeiro ponto acredito que faz bastante sentido em muitos casos. A crítica literária tem como objetivo, entre outras coisas, observar pontos que um leitor mediano não conseguiria observar sozinho e chamar a atenção a eles, de modo que à partir da análise realizada, o leitor possa compreender melhor a obra através de uma base mais forte. Ninguém é obrigado a conhecer a Irlanda para ler “Ulisses”, mas ajuda quando estamos informados sobre alguns hábitos e locais existentes ali. Ou seja, Joyce colocou enigmas suficientes para nos preocuparmos, não precisamos de mais alguns criados por nossa ignorância, e daí crítica deve ser vista com bons olhos, pois explicita alguns pontos pertinentes para que possamos nos concentrar em interpretar aquilo que realmente importa. Quando há alguma interpretação também, ela pode ser o primeiro degrau para seguirmos nossa própria linha de raciocínio e tirarmos nossas próprias conclusões. Mas, contrariando a lógica, existem textos de críticos que são simplesmente ilegíveis. Daí, conforme disse bem o Alexandre Soares Silva, vemos críticos procurando chifre em cabeça de cavalo. Num trecho simples, onde inadvertidamente o autor se distraiu e deixou uma pequena brecha, o crítico mistura tudo, até filosofia, para falar do “aspecto transcendental” da vírgula utilizada. Isso deprecia o trabalho de críticos que realmente cumprem o seu papel. Pessoalmente tenho pouco tempo para ler. Portanto quando procuro uma crítica literária qualquer, quero ler algo que possa ser relevante para ampliar minha capacidade de interpretação. Se o crítico parece querer sempre se sobressair, jogando na minha cara que ele é o “especialista” e eu sou um reles “leitor”, ao invés de se resignar a informar pontos por ele pesquisados, eu me afasto. Uso o seguinte critério: passo os olhos rapidamente pelo texto. Se encontro várias e várias expressões em latim, nem perco meu tempo lendo a crítica. Quando falam do “leitmotiv” então... Posso até perder boas análises assim, mas que posso fazer? Meu tempo é curto, sendo assim tenho que de alguma forma separar o joio do trigo.

Com respeito ao segundo ponto, a culpa em grande parte dessa associação acredito que se deve a falta de acesso que boa parte dos leitores têm às críticas que deixem claro que por trás do texto, houve muito trabalho de pesquisa. Podemos encontrar facilmente, em revistas ou jornais, textos de celebridades dando seus palpites sobre este ou aquele livro que está lendo. Os bons textos de críticos geralmente são encontrados em livros. Essa falta de acesso faz com que as pessoas achem que um crítico é simplesmente um “palpiteiro” (no sentido mais pejorativo possível), quando na verdade se trata de uma pessoa que trabalha bastante para construir um texto realmente elucidativo. Se o que encontramos na maior parte dos meios de comunicação são os “palpiteiros” que não tem nem talento nem base de pesquisa para escrever sobre alguém ou alguma obra, a tendência natural é generalizar e colocar todos no mesmo barco. Com isso, a afirmação de que um crítico nada mais é do que um escritor incapaz de produzir algo bom se torna comum e parece fazer todo o sentido. Mas é preciso deixar claro que crítica literária não é arte.

Apesar destes pontos de vista comuns, acredito ser de grande importância debater sobre obras e procurar ampliar nosso conhecimento seus conteúdos. Um leitor sozinho nunca conseguiria esclarecer todos os pontos de uma obra. No caso de algumas, nem todos os leitores do mundo juntos conseguem esta façanha. Quando encontramos uma opinião de qualidade, que nos faz pensar um texto de uma nova forma, devemos valorizá-la. Afinal inteligência é algo cada vez mais escasso.

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A Odisséia Recomenda I

Evidentemente todos que me acompanham sabem que este um é blog monotemático, o que faz com que ele tenha uma cara de clubinho particular mesmo sem eu ter essa intenção, afinal nem todos têm interesse em falar de literatura. Mas muitos na internet também falam de literatura (e falam bem!) e eu procuro acompanhar. Sendo assim, vou montando um `álbum de figurinhas virtual`, onde vez por outra apontarei aqueles blogs que também têm algo de interessante a dizer sobre este grande universo que é a literatura. A primeira `figurinha` que cito aqui é o Fêmea de Cupim, que entre outros temas, apresenta-nos bons posts à respeito de (é claro!) livros & literatura. Num post recente, para Booklovers, algumas perguntas que reproduzo aqui e que dou minhas próprias respostas:

1 - Quantos livros você lê por ano?
Não sei exatamente. Em algumas épocas leio com mais rapidez em outras leio mais devagar. Também tenho um grande problema que é a falta de tempo e por isso leio menos do que gostaria. Tenho uma rotina parecida com a rotina de muitos: trabalho 8 horas por dia, à noite estou na faculdade e nos fins de semana dou bastante atenção à minha família. Mas em média procuro ler um livro por semana, ou uns 50 livros por ano.

2 - Qual foi o último livro que você comprou?
Não foi um, foram alguns: "Machenka" e "A Pessoa em Questão" de Vladimir Nabokov, além de "O Leilão do Lote 49" de Thomas Pynchon, "Luz em Agosto" de William Faulkner (que já estava procurando a um bom tempo e que consegui numa daquelas olhadas descompromissadas após o almoço) e "Prosa Reunida" de Adélia Prado.

3 - Qual foi o último livro que você leu?
"Machenka" de Vladimir Nabokov, contrariando a tradição de seguir a regra do FIFO (first in, first out).

4 - Liste cinco livros que tenham um significado especial para você ou que você tenha gostado muito.
O primeiro é a "Bíblia", um livro antigo mais bem atual. Descreve com um primor incomparável a natureza do ser humano. Um livro de sabedoria indispensável. Coloco na lista também "Ulisses" de James Joyce, que ampliou as noções que eu possua de romance. Depois que li o livro, percebi que poderia ler qualquer texto. "A Montanha Mágica" resultou numa profunda análise pessoal, que serviu inclusive para que eu aprendesse a valorizar minha capacidade de não apenas ler, mas também interpretar melhor textos e símbolos. Por último citaria qualquer um de Franz Kafka (deixo para vocês decidirem) e a maravilhosa obra "O Tempo e o Vento" de Erico Veríssimo.

5 - Para quem você vai passar este questionário (3 blogs) e por quê?
A todos que quiserem também apontar suas respostas, afinal o papo aqui é literatura, não é verdade?

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25 abril 2005

Ponto de Vista

"Derivative writers seem versatile because they imitate many others, past and present. Artistic originality has only its own self to copy."

Vladimir Nabokov, respondendo a afirmação de que suas obras eram extremamente repetitivas.

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Vestibular UFMG 2006

A Comissão Permanente do Vestibular da UFMG (Copeve) divulga a lista dos livros de literatura para o vestibular 2006. São cinco livros que deverão ser lidos por todos os candidatos para a realização das provas. Segundo o coordenador geral do Vestibular, professor Antônio Zumpano, a escolha das obras foi uma tentativa da Copeve de fazer um apanhado abrangente da literatura de todas as regiões do Brasil. Os livros são encontrados facilmente no mercado editorial, sendo que três são clássicos da literatura brasileira.

Confira a lista:

Carta
Pero Vaz de Caminha
A Carta é um relato da viagem de Pedro Álvares Cabral, quando o Brasil foi descoberto pelos portugueses, em 1500, enviado à D. Manuel, rei de Portugal, comunicando o fato. A obra, que possui um grande valor histórico, é uma narrativa que apresenta descrições detalhadas da terra e de nossos ancestrais indígenas. Nela, são abordados alguns temas como a catequese dos nativos, a conquista de bens materiais e o choque entre culturas muito distintas. Descrevendo a exuberância da natureza e o estranhamento entre índios e europeus, a Carta funda nossa tradição literária escrita.

Obs: Recomenda-se a leitura da Carta em português contemporâneo.

Contos amazônicos
Inglês de Sousa
Natural de Óbidos, no Pará, Inglês de Sousa nasceu em 1853 e morreu em 1918, no Rio de Janeiro. O autor preocupa-se com a observação rigorosa de figuras típicas, costumes e paisagens amazonenses, à luz de conhecimentos científicos. Seus contos compõem um vasto painel da região amazônica, em que se destacam os conflitos entre tradição e modernidade, rural e urbano, ciência e saberes populares, as crises políticas e sociais — como a guerra do Paraguai e a Cabanagem —, a mistura de raças e culturas, o embate entre homem e natureza.

Um certo capitão Rodrigo
Erico Verissimo
O livro é o terceiro episódio do primeiro volume de O continente, parte da trilogia O tempo e o vento, que compreende também O retrato (parte II) e O arquipélago (parte III). A ação da narrativa se inicia em outubro de 1828, quando o capitão Rodrigo, um dos personagens mais marcantes e popularizadas pela obra de Erico Veríssimo, chega à cidade de Santa Fé, ao fim de uma das tantas guerras contra "os castelhanos" da Banda Oriental, hoje Uruguai. Girando em torno do casal Rodrigo e Bibiana, a narrativa apresenta, na composição do seu quadro histórico, a agitação sócio-política da pacata Santa Fé como efeito principal do início da Revolução Farroupilha, cujas batalhas percorrerão os pampas do sul por dez anos, em confrontos que colocarão em lados radicalmente opostos republicanos e governistas.

Grande sertão: veredas
João Guimarães Rosa
O autor revoluciona o gênero regionalista, ao mesclar o narrativo, o poético e o dramático, recriando a língua portuguesa. No relato memorialístico do jagunço Riobaldo, condensam-se questões centrais da experiência humana: a existência do diabo, a questão do bem e do mal, o conflito entre o herói e o mundo, a ambigüidade do erótico, a relação agonística entre o rural e o urbano. Assim, ao mergulhar num mundo tão particular — o sertão com seus protagonistas e figurantes —, Guimarães Rosa aborda o que há de mais universal.

Patativa do Assaré: uma voz do Nordeste
Patativa do Assaré
Cantador nordestino, Patativa (Antônio Gonçalvez da Silva) reúne em sua obra, de cunho fortemente sertanejo e social, tradições orais muito antigas, extraídas da poesia cantada de trovadores, repentistas e violeiros. Utilizando o vocabulário regional da língua falada e vários temas do cotidiano, o poeta recorre à sua grande capacidade de memorização para compor longos poemas em que a arte está sempre associada a uma proposta educativa. Além disso, o caráter épico de sua produção contempla uma perspectiva messiânica que muitas vezes se transforma em poesia de protesto diante da precariedade da vida no sertão. Associando tradições do maravilhoso à política e à religião, a obra Patativa do Assaré é uma coletânea de poemas bastante representativos da poesia de cordel.

Textos de Filosofia
Os conteúdos deverão ser dominados por candidatos a Direito e a Filosofia.

ARISTÓTELES – Ética a Nicômaco – Livro I.
DESCARTES, R. Meditações sobre a filosofia primeira – Primeira e Segunda meditações. (A obra pode ser encontrada também sob o título Meditações Metafísicas ou Meditações )
NAGEL, Thomas. Uma breve introdução à filosofia. – Capítulo 4: “O problema mente-corpo”.

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24 abril 2005

Percepção e Decepção

Ganin, personagem principal de “Machenka”, primeiro romance do escritor Vladimir Nabokov, é um dos raros exemplos na literatura de personagem que toma consciência de que o tempo é um agente modificador e destruidor, sem que para isso precise bruscamente sair das suas lembranças e entrar na realidade existente. O que acontece na maioria das vezes é que o personagem não tem essa noção o que faz com que ele caia na armadilha de imaginar a felicidade do passado como felicidade ideal, perdendo assim a capacidade de olhar o presente e perceber as qualidades ou deficiências deste tempo. Numa comparação, Ganin é um José Maria - personagem do conto “Viagem aos Seios de Duília”, de Aníbal Machado – às avessas. O que José Maria não tem, Ganin adquire. Em ambos os casos, os personagens se chocam com seu passado feliz repentinamente e partem numa jornada, com a esperança de recuperá-lo, imaginando que assim repartirão o tempo em fatias e conseguirão separar aquelas partes que não trouxeram felicidade, deixando somente as partes que interessam. Imaginam que poderão recomeçar a viver com felicidade plena, como se existissem dois filmes, um de momentos felizes e o outro com as infelicidades, e que o primeiro foi bruscamente interrompido para se iniciar o outro, mas que agora, este se reiniciará como se nada tivesse acontecido.

Mas a semelhança vai só até aí e podemos afirmar que Ganin é um personagem melhor, mais consciente, pois depois de viajar por este passado consegue perceber os sinais a sua volta e consegue ver que na verdade isso é uma grande ilusão proporcionada pela capacidade do ser humano de construir uma memória seletiva, que côa tudo aquilo que deve ser esquecido e deixa apenas os momentos fabulosos da vida. José Maria, apesar de todos os sinais a sua volta, que vão se tornando mais nítidos à medida que sua jornada chega ao fim, prefere viver ainda no passado e quando reencontra Duília, quase um cadáver, sofre o choque brutal e toma consciência de que não há nada que o faça recuperar o tempo passado. Ganin, depois de nadar o romance inteiro entre suas felizes memórias, vê conscientemente o futuro e percebe que tudo aquilo que sonha, no melhor dos casos é apenas um bom tempo que já não existe. A alegria de viver junto com Machenka deve ser preservada com ela é de fato: um grande álbum de memórias de uma época da vida que passou. Assim, apesar do vislumbre de um reencontro perfeito, ele dá meia-volta e segue seu caminho rumo a um futuro desconhecido, mas aguardado.

Muitos afirmam que este é o pior romance de Nabokov. Numa escala de grandeza bem diferente do que vemos na maioria dos casos, pode-se afirmar que mesmo o pior romance de Nabokov consegue ser muito melhor do que muitos livros que lemos poraí. Nabokov, no rápido romance, consegue nos distrair com o passado de Ganin o tempo inteiro, até que ao final ele nos joga na cara quão ingênuos nós fomos, por acreditar que este passado ainda estava vivo. No fim, nem Ganin acredita nisso. Apesar de ser aparentemente decepcionante, o desfecho é dos mais realistas e esperançosos: ao final não existe mais certezas, somente incertezas de um futuro a ser construído e querem algo melhor do que viver construindo seu futuro? Ganin se transforma e assim vence suas memórias, conseguindo retomar novamente seus pensamentos rumo ao futuro. Um futuro agora inesperado e por isso mesmo melhor.

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19 abril 2005

O Prazer dos Livros Usados

Adrian, do Apeirophobia, escreveu um post sensacional descrevendo um dos maiores prazeres de um verdadeiro leitor: comprar livros usados. Leiam lá, é impossível não se identificar de alguma forma.

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Leitores e seus Hábitos Estranhos IV - Embaralhando Bibliotecas

A não ser que você tenha feito um curso de biblioteconomia, ou seja um bibliotecário daqueles que sabem de cor qualquer ISBN, organizar sua biblioteca causa sempre alguns inconvenientes. As sutilezas deste ato aparentemente comum para qualquer ser humano nem sempre são percebidas. O primeiro inconveniente (e mais óbvio) é a falta de espaço. Uma biblioteca é a prova clara de que dois corpos não ocupam simultaneamente o mesmo espaço. Sendo assim, sobrar livros sem prateleiras é quase um pré-requisito de qualquer biblioteca pessoal. E não se engane tentando colocar seu "Ulisses" à força numa prateleira lotada que não adianta, se não houver um espaço adequado ele ganhará vida e se transformará num gato que evita a bacia d'água. Portanto, o primeiro passo é a escolha roleta-russa: separar quais livros ganharão seu lugar na estante e quais serão confinados ao limbo de caixas ou armários. E não adianta, por mais que você saiba que já leu aquele "Trabalhadores do Mar" e que não pretende lê-lo novamente tão cedo, ele sempre vai te olhar com aquela cara de piedade pedindo para não ser ignorado. Uma tarefa, portanto, que exige um grande desapego e sangue frio.

Findada a primeira etapa, é preciso enquadrar os livros restantes em alguma ordem lógica ('lógica' = que faça algum sentido pelo menos para você, esqueça as definições da palavra que são dadas pelos dicionários). Se a biblioteca for compartilhada o problema aumenta exponencialmente. Seu pai quer os livros organizados em ordem cronológica a partir da data de aquisição, sua mãe quer que os livros estejam organizados por cor para 'ficar mais bonitinho', seu irmão quer todos os livros de ficção científica juntos num lugar de destaque (afinal TODO mundo gosta de Isaac Asimov, não é?) e sua esposa, bem, sua esposa tem uma ordem própria que até hoje ninguém entende mas que deixa o ambiente mais 'clean'. Daí não existe outra forma senão disputar cada milímetro da estante no palitinho.

Mas, a fim de reduzir a complexidade do problema, trataremos do caso simples: sua estante é realmente só sua e você é quem manda nela. Sendo assim, qual é o melhor critério? O mais comum é ordenar seus livros por sobrenome do autor. O problema poderia ser solucionado assim se não fosse o inconveniente de você duas semanas depois encasquetar de querer logo um livro de Edwin A. Abbott. Todos os seus livros da estante terão que andar para aparecer um lugar, o que aumenta (e muito!) a probabilidade de você deixá-lo lá no balcão da loja, só de pensar no trabalho que isso acarretará. Pois bem, você imagina então que a solução será separar primeiro por literatura dos países e depois ordenar por autor. Daí, literatura húngara, por exemplo, que você lê menos, poderia estar no princípio da estante e as literaturas que você lê mais seriam colocadas no fim, certo? Errado. Esta solução abre espaço para os 'enchedores de saco' que freqüentam sua casa fiquem martelando em sua cabeça que Vladimir Nabokov deveria estar entre os americanos e não entre os russos. E os 'enchedores de saco mor' nem comentarão, quando você der as costas vai lá a mãozinha trocar os livros de lugar. Fora aqueles desinformados que sempre perguntarão: 'Que diabo de ordem é essa?!?'.

Depois de tudo isso e você finalmente encontrando o método ideal para organização deste baralho de páginas, eis que vem o inevitável: é preciso mudar de apartamento! Todos os seus livros deverão ser transportados! Quando você menos espera, os responsáveis apanharão seus livros e os colocarão em qualquer caixa, sem qualquer ordem. E aí, no novo apartamento, a discussão sobre como organizar tudo nas estantes começa novamente...

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18 abril 2005

O Novo gif da Odisséia Está Andando pela Web

A editora "Barracuda" é uma das mais agradáveis surpresas do mercado editorial brasileiro. Seu catálogo conta com livros como "Cão Come Cão" e "Nem os Mais Ferozes", de Edward Bunker. Com o lançamento de "wunderblogs.com", uma coletânea de posts do portal wunderblogs, a editora mostrou que está atenta a esta aproximação cada vez mais comum entre internet e literatura. Uma atitude que além de ousada, mostra-se bastante inteligente. Com tudo isso, fiquei muito feliz em encontrar o gif da "Odisséia Literária" sendo exibido no blog da editora. Obrigado pelos elogios.

Se você também entrou aqui, leu o conteúdo e gostou, pode ficar à vontade para salvar o gif à direita e linkar para cá!

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17 abril 2005

Minicontos na Web

O Nemo Nox lançou um projeto legal: uma coleção de minicontos escritos por blogueiros brasileiros. Estão lá - além deste blogueiro – Affonso Guerrero, Alexandre Inagaki, Alex Castro, Crib Tanaka, Daniel Q., Daniela Bertocchi, Dauro Veras, Elton Pinheiro, Fer Guimaraes Rosa, Fernando Serboncini, Fred Leal, Herbert Farias, O. Roman, Rafael Lima, Renata Crispim, Smart Shade of Blue e Su. Confiram o site A Casa das Mil Portas.

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Uma Boa Análise

No artigo de ontem do caderno “Prosa & Verso” do jornal “O Globo”, intitulado “O Fetichismo da Palavra”, o poeta Alexei Bueno escreve de forma clara e brilhante sobre a visão de alguns à respeito da literatura atual no Brasil. Alguns trechos:

“Quase toda a crítica brasileira, de poesia e do resto, é sociológica, herdeira lamentável de Sílvio Romero. Como a apreciação estética é coisa realmente muito pouco científica, para a qual se faz necessário um dom inato e uma profunda cultura adquirida, faz-se sociologia da poesia, ou da literatura, bem ao largo das obras de arte que as compõem. É uma solução salomônica para seguir carreira acadêmica e receber bolsas mesmo com grandes deficiências intelectuais. A poesia de Cruz e Sousa é das menos fáceis do Brasil, mas saber que ele era negro é fácil. A obra de Cecília Meireles é de uma riqueza quase inesgotável, mas é mais prático lembrar que ela era mulher. E assim chegamos aos famigerados “estudos culturais”, mais uma exportação, como todas as desgraças que assolam o planeta, da operosa República do Norte, e que além de tudo traz a vantagem de nos tratar como aborígenes...”

“Mas por que realmente, com a nossa maravilhosa MPB, perder tempo falando de Guimarães Rosa ou Euclides da Cunha, de Machado, de Nava ou de Raul Pompéia? Ou insistir em lembrar de Gonçalves Dias e Castro Alves, de Alphonsus de Guimaraens ou Augusto dos Anjos, de Bandeira ou Drummond? Como periféricos que somos, valorizemos o que o mundo quer de nós, nossa música popular, nossos jogadores de futebol, nossas cabrochas, em vez de encher a paciência alheia com essa coisa silenciosa, complexa e elitista que é a literatura.”

Leia o artigo completo aqui (é preciso estar cadastrado no site, mas o cadastro é gratuito).

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15 abril 2005

Nova Literatura

A crítica literária Beatriz Resende, no sábado passado, escreveu um excelente texto sobre a literatura atual e sua relação com a internet, assunto também abordado por aqui em vários posts anteriores. É preciso estar cadastrado no site de "O Globo"(cadastro gratuito). Confira.

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14 abril 2005

Julgando Capas

Essa história de não julgar um livro pela capa pode até ser, mas é impossível não julgar a capa. Durante muito tempo o que a gente viu aqui no Brasil foram aberrações esquisitas que, por incrível que pareça, conseguiam ser vendidas! Vejam por exemplo a capa de "Mazurca Para Dois Mortos" de Camilo José Cela.


Um 'hermano' tocando seu acordeon (ou algo parecido) com chapeuzinho e óculos escuros e uma perninha torta é sem dúvida a última coisa que vem à mente quando pensamos em ler um excelente livro (eu acho, afinal tem gosto pra tudo). Pela capa e sem nenhuma referência, não parece um livro que mereça ser levado à sério. Conclusão: uma capa feia afasta o leitor de um livro bom. Embora hoje este fato é óbvio, muitas grandes editoras não percebiam isso a muito pouco tempo atrás. Como geralmente a primeira parte de um livro que vemos é a capa, hoje boa parte das editoras do Brasil sabem que a própria capa pode ser uma boa propaganda e daí investem mais neste detalhe que faz tanta diferença. Creio que o primeiro sinalizador da mudança foi o lançamento de "Rumo a Estação Finlândia" de Edmund Wilson, pela Companhia das Letras. O Rafael falou perfeitamente sobre isso neste post, que concordo totalmente. Hoje a capa não parece ter nada demais, mas para os padrões da época, esta era uma capa realmente melhor do que as capas que a maioria das outras editoras lançavam.

Apesar disso, é surpreendente que uma editora ainda consiga vender um grande número de exemplares apostando numa qualidade gráfica ruim. Toda vez que eu vejo uma prateleira de livros da Martin Claret, eu fico me perguntando o que pode levar uma pessoa a comprar algum livro com aquele padrão de capas. São cores horríveis, imagens sobre imagens, algumas notavelmente bregas. Num estalo, a maioria das pessoas responderia simplesmente "ora, o preço, lógico!". Sim, devo concordar que o preço é uma isca forte para atrair consumidores, mas ao mesmo tempo, percebo que uma boa parte dos clássicos que fazem parte da coleção podem ser encontrados em edições melhores e mais ou menos pelo mesmo preço em diversos sebos. Então, não deve ser só isso. O formato de bolso também não é dos mais preferidos, pelo menos ao meu redor não costumo observar pessoas com livros no formato de bolso. Por isso, apostaria mais que o segredo está na facilidade de encontrar os títulos (aliado, lógico, ao seu valor mais acessível). Eu posso encontrar uma edição de "Crime e Castigo" em capa dura num sebo, mas não em todos. Os livros da Martin Claret estão na maioria das grandes livrarias, além de outros pontos de venda acessíveis, como bancas de jornal. A pessoa vê o título, pergunta o preço e leva.

Embora já vi muita gente criticando as capas da editora, nunca vi ninguém criticar o que para mim é o supra-sumo da aberração. Reparem bem que em boa parte das capas, o responsável assina sua 'obra', elevando assim o conceito de 'capa' para algo como uma obra de arte. Não posso deixar de concordar que o ato é deveras corajoso, afinal fazer capas como aquelas e ainda assinar é quase um manifesto em favor do mau gosto. Mas, capa é capa e se o cara quer assinar alguma coisa, que mude de profissão e comece a pintar quadros. Num livro, vira sinônimo de amadorismo. Por isso, acredito que se a empresa quer realmente ser levada à sério, deve se preocupar muitíssimo em melhorar a qualidade gráfica de suas obras.

Com a notícia de hoje, publicada no post abaixo, espero que as grandes editoras apostem num formato ecônomico, mas sem penalizar a parte gráfica das obras. Apesar de não ser minha intenção compor uma biblioteca para fins decorativos, também não quero que as pessoas que visitem a minha casa se assustem com seu conteúdo gráfico.

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Livros de Bolso

Até que enfim começaram a enxergar o óbvio:

"Pela primeira vez em décadas, editoras líderes de mercado se movimentam para investir pesado em um segmento consolidado há mais de meio século em países como os Estados Unidos, a Inglaterra e a França: livros de bolso."

Vamos esperar para ver o que vem por aí.

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13 abril 2005

Linkando Este Blog de Modo "Cool"


Criei um gif para o blog. Os leitores que gostarem do conteúdo podem divulgar o blog, salvando a imagem, colocando-a em seus próprios blogs, fotologs, etc., linkando pra cá. Não tenho muita habilidade com ferramentas de edição de imagem, mas gostei. Queria um efeito meio apagado numa página antiga e acho que ficou mais ou menos parecido.

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Filosofia na Literatura

O século XX destacou um bom número de romances que serviram para exemplificar e divulgar idéias de filósofos. Se é muito complicado misturar posições políticas, protestos ou denúncias com uma história de ficção de um romance, que dirá filosofia. Com a aproximação dos dois, muitos romances extremamente chatos foram aclamados como obras-primas simplesmente pelo fato de que a filosofia ali existente era boa. Desconfio que mesmo muitos filósofos, tiveram que ler alguns desses romances à força, para entenderem melhor trabalhos realmente filosóficos de outros. Daí, o romance que antes era só uma forma de expressão artística se tornou fonte de argumentos para debates filosóficos. Consequentemente, hoje um grande número desses filósofos se metem a malhar todo mundo, dizendo que para apreciar este ou aquele livro devem primeiro estudar a obra filosófica do autor.

O caso mais típico é Jean-Paul Sartre. Nunca consegui acabar de ler nenhum de seus romances. No início do meu curso superior tinha algum contato com vários alunos e alunas de psicologia, pois o curso era ministrado no mesmo prédio que o meu. A opinião era unânime: "A Náusea" era um dos livros mais fabulosos já escritos. De tanto falarem em meu ouvido, resolvi entrar na fila de espera pelo livro na biblioteca - que era composta somente de alunos de psicologia - apesar de não cursar psicologia. Passadas duas semanas, o livro chegou até minhas mãos. Comecei a lê-lo atento aos detalhes e procurando entrar no 'clima'. Aguardei com alguma paciência o desenvolver da história, mas algo em especial me irritava um pouco: a sensação de que Sartre não estava nem aí para a literatura. Sartre parece-se com aquelas pessoas que entram no seu carro comendo e não estão nem aí por sujar tudo ao redor. Seu texto também parece bem 'sujo': introspecção demais do personagem onde não deve, quebrando o ritmo da narrativa, e filosofia de menos onde parecia ser adequado. Usando uma linguagem do cinema, a sensação é que a montagem não foi feita adequadamente. Lá pelo meio abandonei o livro e a justificativa que me deram foi que eu precisava ser um pouco melhor 'iniciado' na obra de Sartre. Como a obra faz parte de uma tetralogia ("Os Caminhos da Liberdade"), deveria ler primeiro "A Idade da Razão" para compreendê-lo melhor. Passei um bom tempo com uma má impressão, mas por fim resolvi dar uma segunda chance ao autor. Devia ter desconfiado anteriormente que o problema de "A Náusea" não era o personagem Roquentin e sua alienação, era o autor e sua forma de espalhar filosofia durante o romance. Como no caso anterior, "A Idade da Razão" foi abandonado.

Por essa época também, descobri Albert Camus. Diferente da leitura das obras de Sartre, resolvi conhecer o autor através de uma obra de filosofia, ao invés de ler primeiramente seus trabalhos literários. Li "O Homem Revoltado" e gostei bastante. Fiquei fortemente admirado pela forma como o autor começava o livro de modo bem acessível e, à medida que as páginas avançavam, ia elevando seu raciocínio. Imaginei que suas obra literárias seriam de fato melhores que as de Sartre. Li "O Estrangeiro", que apesar de não ter visto nada de tão especial, também não achei ruim, tanto que consegui lê-lo até o fim. Mas "A Peste" é um grande livro. O romance começa de um modo bastante envolvente, com os personagens tranqüilamente observando a morte dos ratos por toda cidade. O meio é uma obra-prima, o autor ao mesmo tempo que vai nos mostrando como a epidemia vai influenciando a todos individualmente, também cria um mosaico coletivo, mostrando seres humanos que estão coletivamente isolados, por não poderem sair dos limites da cidade. Vontades individuais são colocadas ao lado das responsabilidades coletivas, até atingir o ápice, quando um dos personagens, tendo a oportunidade de furar o bloqueio e abandonar tudo, resolve ficar e continuar encarando aquela terrível situação, tal qual um pecador em seu purgatório. Por tudo isso, acho que esta é, sem dúvida, a obra-prima de Camus.

Acredito que um cuidado especial deve haver antes de apanhar qualquer obra famosa por sua filosofia. O leitor deve-se perguntar o quê realmente vai levar em conta ao ler a obra. Se espera ler as obras literárias de Sartre para encontrar ali filosofia, tudo bem, vá em frente. Acredito que nesses casos, o leitor será muito mais benevolente do que eu fui. Agora, se o leitor espera encontra literatura e filosofia misturados na dose certa, não acredito que as obras de Sartre serão satisfatórias. Camus consegue isso de forma muito mais eficiente.

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12 abril 2005

Arte e Compromisso

Não sei se alguém assistiu ao programa "Roda Viva" de ontem, na TV Cultura, que entrevistou o jornalista e cineasta Arnaldo Jabor. Após exibição de um trecho do seu filme "Toda Nudez Será Castigada", perguntou-se a Jabor se ele, revendo seus próprios filmes, não tinha vontade de voltar a fazer cinema. Sua resposta foi mais ou menos essa: "E ir contra o quê? Não tem nada hoje para se falar contra. Claro, você pode falar contra a fome, contra a miséria...". A resposta deixou claro o pensamento da maioria dos 'artistas' aqui do Brasil, não só no cinema mas nas artes de um modo geral. O pensamento prevalecente aqui é que a arte serve para mostrar alguma coisa, combater alguma coisa. Arte, para muitos aqui no Brasil, serve para denunciar governos e exibir as desigualdades sociais existentes. O pensamento é tão prevalecente que certa vez o atual Ministro da Cultura, tentando justificar a necessidade de aumento nos investimentos do governo para as artes, falou do 'papel social da cultura'.

Acho que essa é a justificativa para que a chamada literatura marginal faça tanto sucesso por aqui, ao ponto de se tornar quase tema único da literatura. Observe quantos novos autores tem sido publicados por aqui e veja como a maioria desses novos autores fala de alienação, exclusão social, violência das periferias, ódio, etc. Um exemplo claro disso é Capão Pecado, de Reginaldo Ferreira da Silva, ou Ferréz. O livro é uma espécie de "Cidade de Deus" (outro 'clássico' do gênero) dum bairro de periferia de São Paulo. O romance, segundo alguns, é uma voz da periferia, dos excluídos pela miséria, a ralé, que reivindica seus direitos. A história aponta a exclusão social urbana e a recusa de seus participantes em se integrar ao "mundo burguês". O outro livro do mesmo autor, que deverá virar filme, chama-se "Manual Prático do Ódio". Leia você mesmo a sinopse do livro. Os personagens são traficantes, assassinos, prostitutas e toda sorte de 'excluídos' da periferia.

Resumindo o conteúdo das obras, a conclusão é a seguinte: os bandidos e marginais retratados nas histórias são seres humanos como nós. Estão num ambiente em que são obrigados a cometer crimes para sobreviver. A culpa de tudo é o meio, que é bem diferente do nosso ambiente 'burguês'. Os governos, que representam a 'burguesia', preferem ignorar estes seres humanos coitadinhos. Enfim, esse tipo de literatura nada mais faz do que apontar o dedo para nós, nos chamando de idiotas. Querem me fazer acreditar que bandidos que deveriam estar na cadeia são uns coitados e que eu, que faço três ou quatro refeições por dia, sou o culpado por viver como um 'burguês'. Mostram que a realidade é muito mais complexa do que imaginamos, como se cada ser humano não fosse provido de vontade próprio para apertar o gatilho e tirar a vida de outro ser humano. No fundo, no fundo, o que fazem é uma apologia mascarada ao crime.

Arnaldo Jabor e outros artistas que acham que arte é sinônimo de denúncia confundem as coisas. O ser humano tem necessidade de se expressar artisticamente e para isso criam técnicas e escolhem temas. Ao misturarem o próprio tema à essência do conceito de arte, eles abrem margem para que todo tipo de aberração surja e é justificado com a afirmação que isto é a 'arte' cumprindo seu 'papel' socializador. Enfim, prestam um desserviço à arte.

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11 abril 2005

Romance de Idéias

Dá muito medo apanhar um livro que é reconhecido como um livro de 'idéias' para ler. isso porque literatura é arte e arte não tem nada com levantar uma bandeira qualquer defendendo o que quer que seja. Quando um autor resolve entrar nesse campo, a tendência é que ou a expressão da idéia fique ruim (afinal o lugar mais apropriado para defender uma idéia com argumentos e contra argumentos não é numa obra de ficção), ou a arte fica ruim. A questão não é de ter preconceito, mas juntar os dois é uma fórmula difícil e acredito que um escritor que queira entrar por esse caminho tem que ser muito corajoso. A grande maioria de livros assim são péssimos ou no máximo curiosos. Com o passar do tempo, a tendência é que eles sejam completamente esquecidos.

Foi neste campo minado que George Orwell escreveu suas duas principais obras "1984" e "A Revolução dos Bichos". Acho que esta é a razão de seus livros serem tão críticados por alguns e tão adorados por outros. É difícil encontrar leitores que fujam dos seguintes padrões: os que o adoram, adoram-no porque concordam com suas críticas aos regimes totalitários e os que o odeiam discordam dessas críticas. Em parte essas pessoas têm razão, afinal de contas, o que mais se destaca nas duas obras, antes de mais nada, são suas críticas contra regimes totalitários. Mas, se o leitor se fixar apenas nas idéias ele conseguirá visualizar apenas parte da obra, perdendo a outra parte. Proponho o seguinte: esqueçam as idéias e comecem a ler "1984". Sei que é difícil, mas por favor tentem. O que se vê é um clima extremamente sufocante em toda a obra. Sentimos medo do mundo criado por Orwell, onde estamos completamente indefesos. Parece engraçado mas Orwell consegue nos manipular a ponto de, a medida que as páginas avançam, pensarmos devagar, de um modo calculado, avaliando os passos, como se fôssemos o protagonista. Quando as pessoas criticam a obra de Orwell por causa das idéias contidas nela se esquecem justamente deste ponto - na literatura existem diversos personagens marcantes, mas são poucos os personagens pelos quais sentimos empatia e nos colocamos em seu lugar. Em "1984" sentimos justamente isso para com Winston.

Já em "A Revolução dos Bichos" Orwell consegue outro efeito notável nos leitores. Primeiro ele começa a obra de uma forma simples, quase infantil. Sua alegoria parece até uma fábula de La Fontaine. Avançando as páginas a obra vai se tornando mais e mais adulta, até atingir o clímax no final com os porcos e os homens se tornando praticamente iguais. Nas fábulas de La Fontaine, há uma "moral da história" por trás de cada belo relato. Em Orwell, há uma associação entre a metáfora utilizada com personagens reais da Revolução Russa, fazendo com que a obra tenha por trás uma "moral da história" adulta. Ou seja, independente das idéias em si, o modo como elas são lançadas é um modo interessante e criativo. A história, lida por qualquer pessoa - tenha ela conhecimento dos personagens retratados na alegoria ou não - é interessante. O ponto fundamental para que isso ocorra é justamente a simplicidade com que o livro foi escrito. Por causa dessa simplicidade, a obra se torna acessível e suas idéias, embora sérias, são assimiladas sem esforço.

Conforme já disse, a arte não tem obrigações. Numa boa obra que ande nesse terreno, é preciso que ambas (arte e idéia) tenham o seu valor e possam ser fundidas como algo único, para que nem a arte seja diluída, nem a idéia. Quando isso não ocorre, a tendência é a obra e o autor desaparecerem. Por isso, mesmo com os antigos regimes criticados por Orwell desaparecendo, suas obras continuam chamando a atenção.

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08 abril 2005

James Joyce e Os Mortos

Desde a primeira vez que ouvi falar em "Ulisses" de James Joyce, fiquei imensamente curioso em conhecer a obra. Dos livros que li, posso dizer que este foi o livro que mais cuidados eu tive para poder aproveitá-lo melhor. Em primeiro lugar, li a "Odisséia" de Homero para reconhecer os paralelos da história em "Ulisses" e buscar algum significado desses paralelos. Também antes de lê-lo, procurei conhecer um pouco da linguagem de Joyce por ler primeiro os contos de "Dublinenses". Confesso que o começo da obra foi uma decepção para mim. Esperava alguma revolução de estilo, tal qual "Ulisses", mas tudo parecia simples. Gostei de um e outro, mas nenhum de forma especial, até que cheguei ao último, que já não esperava ter nada demais. Havia me enganado, mas foi muito bom ter me enganado. Li o conto sem esperar nada e conclui o texto muito satisfeito e surpreendido. O conto "Os Mortos" é realmente uma pequena obra-prima.

"Os Mortos" é o mais famoso conto de "Dublinenses" e é relativamente simples. Gabriel Conroy é casado com Gretta. Após a festa de Ano Novo, organizada pelas tias de Gabriel, ele e Gretta vão para um hotel, já de manhã. Gretta permanece pensativa, praticamente ignorando seu marido, que acaba perguntando a ela qual era o problema. Gretta diz estar pensando numa canção que ouvira durante a noite e revela que aquela canção era cantada por um ex-namorado. Suspeitando que ela ainda está apaixonada, Gabriel insiste no assunto e Gretta revela que ele, na verdade, estava morto. O conto se encerra com Gabriel ouvindo a neve “cair brandamente – como se lhes descesse a hora final – sobre todos os vivos e todos os mortos”.

O tema central do conto obviamente é a mortalidade do ser humano, o que fica claro desde o título do conto. Mas, é muito mais do que isso. A descrição da festa de Ano Novo é um exemplo claro da habilidade que Joyce possuía para descrever cenas, sublinhando aspectos que parecem sem qualquer importância. Em meio aos diálogos curtos sobre uma diversidade de assuntos, pode-se imaginar Gabriel pensando em sua esposa e depois, quando eles estão retornando ao hotel, ele pensa nos momentos felizes que já passaram juntos. Descobrimos depois, que ao mesmo tempo em que isso ocorre, Gretta vive em outro mundo de lembranças, lembranças da juventude, do antigo amor e quem sabe também as possibilidades de felicidade que este amor teria proporcionado se não tivesse sido tão prematuramente interrompido pela morte. Os dois, portanto, estão juntos fisicamente, mas separados em seus pensamentos. Esta distância vai se tornando cada vez mais maior a medida que o fim do conto se aproxima. Gabriel imaginando que vai ter uma noite daquelas e no fim da noite permanece somente com seus pensamentos enquanto Gretta dorme. A frase final, portanto, fecha o conto reforçando a idéia do isolamento, da inabilidade que temos para realmente conhecer outros, mesmo os mais próximos dos seres humanos.

Hoje, percebo que a grande virtude dos contos de “Dublinenses” é que apresentam personagens comuns em atividades comuns da época, mas de uma forma marcante. A complexidade do estilo e texto em obras como “Ulisses” e “Finnegan’s Wake” são revolucionários, mas a simplicidade das histórias de “Dublinenses” estão aí para provar que James Joyce, acima de tudo, era um escritor com grande talento.

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07 abril 2005

Pequenas Editoras Versus Grandes Livrarias

O Polzonoff apresenta alguns fatos interessantes a respeito do mercado editorial no Brasil. Grande parte do problema no processo de renovação da literatura e da apresentação de novos autores está ligada a distância que existe hoje entre o autor e a prateleira da livraria. O texto dá uma pequena dimensão da corrida de obstáculos que é o autor jovem ser apresentado ao público. Quando penso nestas questões comerciais, tenho mais certeza ainda que daqui para frente a Internet terá um papel cada vez maior no processo de descoberta de novos autores e, consequentemente, na mudança da literatura brasileira. Acho que se houver alguma revolução literária no Brasil, ela necessariamente passará por aqui.

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06 abril 2005

Saul Bellow 1915-2005

"Herzog" é um grande livro, daqueles que mesmo quando você termina de ler a última página, você sente que o livro não acabou, que aquele livro será levando com você por muito tempo, você continuará remoendo as inquietações do personagem. Aliás, por alguns momentos você se transforma no maluco do Moses Herzog. Durante a leitura, comecei também a ter a mania de fazer algumas anotações de pensamentos em pedaços de papel ao meu redor. Saul Bellow, para mim, é um dos grandes da literatura americana, junto com Faulkner, Hemingway e Fitzgerald. Ler a notícia de sua morte, é bem ruim. Fechou-se uma grande porta da literatura.

At that time he had been giving adult-education lectures in a New York night school. He was clear enough in April but by the end of May he began to ramble. It became apparent to his students that they would never learn much about The Roots of Romanticism but that they would see and hear odd things. One after another, the academic formalities dropped away. Professor Herzog had the unconscious frankness of a man deeply preoccupied. And toward the end of the term there were long pauses in his lectures. He would stop, muttering "Excuse me," reaching inside his coat for his pen. The table creaking, he wrote on scraps of paper with a great pressure of eagerness in his hand; he was absorbed, his eyes darkly circled. His white face showed everything - everything. He was reasoning, arguing, he was suffering, he had thought of a brilliant alternative - he was wide-open, he was narrow; his eyes, his mounth made everything silently clear - longing, bigotry, bitter anger. One could see it all. The class waited three minutes, five minutes, utterly silent.

Herzog, Saul Bellow

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05 abril 2005

E eu fico sabendo só agora!?!?!?

Matadouro 5 de Kurt Vonnegut, reeditado agora pela LPM por R$ 15,00. É por isso que eu nunca consigo diminuir a minha lista de livros a serem lidos.

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04 abril 2005

Como um Asterisco Pode Mudar a Sua Vida

Tenho um conceito de grandeza que muitos desconsideram. Para mim, um livro que possui notas é automaticamente mais valorizado do que o mesmo livro sem nota alguma. Desconsidero editora, capa, diagramação ou nome do tradutor se perceber que um livro possui boas notas de referência. Notas de referência deveriam ser obrigatórias em algumas obras. Alguns trechos traduzidos para o português simplesmente perdem o sentido se não houver uma nota digna e explicativa do tradutor. Quando a gente sabe que a editora desconsiderou o leitor e simplesmente traduziu o que está escrito, sem se preocupar em ampliar o sentido da obra através de uma pequena nota, a tendência é achar que ela está tentando nos enganar, com que dizendo "não liga não, você não se interessaria por isso mesmo".

Com respeito às notas de tradução, ainda falta muito para que o leitor monolíngüe consiga ser paparicado pelas editoras. Temos diversos exemplos por aí que indicam que em muitos casos é preferível gastar mais tempo lendo o original (caso a pessoa não tenha pleno domínio da língua) do que confiar em que a editora fez um trabalho de tradução bom, com notas explicativas de pontos ambíguos. Um exemplo claro que me vem a mente é a obra "O Som e a Fúria" de William Faulkner. Aqui no Brasil temos duas versões principais: uma antiga da Nova Fronteira (que atualmente está esgotada, mas que com algum esforço ainda encontramos em sebos poraí) e outra recente da Cosac & Naify. As duas, apesar de boas, cometem alguns deslizes com as notas. Na primeira parte da obra, nas páginas iniciais, Benjy e Luster acompanham uma partida de golfe. Dois pontos são significativos para nós e que os tradutores deveriam ter em mente: (1) no Brasil, o esporte não é tão difundido assim, portanto, termos tais como "coacher" e "caddie" deveriam ser explicados e (2) Benjy por escutar os jogadores gritarem "caddie", lembra-se de sua irmã Caddy e esta relação entre as duas palavras devem ser explicitadas, já que é uma parte essencial para compreensão do trecho. Bom, como as duas traduções tratam o trecho? A tradução da "Nova Fronteira" traz uma nota sobre o "coacher" e a da Cosac & Naify nem isso. O monolíngüe dançou já nas primeiras páginas.

Mas as notas do tradutor são apenas uma parte do problema. Nos livros escritos em português, ainda podemos ver dois casos de notas que podem ser prejudiciais para o leitor. Por exemplo, uma edição recente da editora Global da obra "Casa Grande & Senzala" de Gilberto Freyre, traz uma série de notas do próprio escritor. Algumas delas são excelentes, mas elas aparecem sempre ao final de cada capítulo. À medida que o leitor avança em sua leitura, ele vai encontrando pelo caminho números que remetem a notas no fim do capítulo. No começa, o ir e vir entre texto e notas até que vai bem, mas depois de um capítulo inteiro a brincadeira perde a graça. Simplesmente é impossível ficar indo e voltando nas notas durante a leitura. Parece até uma tortura: quando o texto está mais interessante, eis que surge o terrível número e temos que interromper o fluxo da leitura ali para atendermos ao chamado da nota. Desistimos. Ainda tentei, durante a leitura, o esquema "ler todo o capítulo e depois as notas" mas aí as notas já não fazem tanto sentido e a gente acaba abandonando-as. Enfim, as notas assim não servem para nada.

Semelhante ao caso anterior, temos as obras sobre a ditadura de Elio Gaspari. As notas estão bonitinhas no rodapé das páginas e boa parte delas são muito boas. Mas o autor enche as notas de referências com citações de arquivos pessoais dos envolvidos, de modo que em alguns casos, metade da página é de texto e a outra metade de notas que não nos interessam. E aí ficamos divididos: ou lemos tudo e ficamos interrompendo a leitura a toda hora para confirmar se a nota ali vale a pena ou não, ou simplesmente desconsideramos o que há na nota e seguimos em frente. Confesso que pessoalmente, dependendo do humor, escolhia entre uma e outra alternativa.

Tudo isso serve para chegarmos a algumas conclusões. Notas fazem falta sim, especialmente nas traduções e desconsiderá-las pode levar a uma falta de compreensão de trechos importantes. Notas devem ser tratadas como parte do texto e, portanto, devem ter uma atenção adequada na confecção de um livro. Se isso não ocorrer, elas podem até mesmo se tornar desnecessárias. Por último, como tudo na vida, notas em excesso podem prejudicar, fazendo com que percamos muitas vezes a paciência, já que somos interrompidos a toda hora. Portanto editoras: que lancem seus asteriscos com notas, mas por favor, com o cuidado que eles merecem!

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01 abril 2005

Leitores tsc, tsc, tsc...

Tem um excelente post confessional no Garotas que Dizem Ni, em que Vivi Griswold admite alguns dos seus hábitos de leitora. Estão vendo como minha série "Leitores e seus Hábitos Estranhos" parece ficção mas não é? Aliás, parabéns as meninas do blog, que estão no top3 do IBest. Vocês merecem, o Garotas que Dizem Ni é um dos blogs mais divertidos da net. Estou torcendo por vocês.

Para relembrar leia aqui "A Fila", "Os Vigilantes dos Sebos" e "O Transeunte Literário".
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